Yara
Se a tribo já estava agitada com a queda do avião, aglomeração foi, quando os índios chegaram com o homem branco ferido.
Foi levado até a tenda do nosso pajé, o Magé Cairu; lá dentro só foi permitida a entrada de Iberê e a minha, por encontrar o homem.
Ajudei Magé a preparar um banho com suas ervas curandeiras, enquanto Iberê retirava as calças do homem, o deixando vestido somente com uma box azul-marinho.
Olhar um corpo masculino assim, não é incomum para os índios, mas tenho que confessar, o homem tem um corpo esculpido pela própria "Jaci" (deusa indígena, filha de Tupã, responsável pela reprodução).
Iberê é um homem bonito e forte, cobiçado por todas as índias adolescentes, e sendo o filho do cacique, faz as moças ficarem ainda mais atraídas. Menos a mim, não que ele não seja lindo, mas nunca consegui me atrair como as outras, e parece que isso o deixou interessado em mim, e sempre me leva para andar na mata, conversa comigo, me dá colares de presente, tem mostrado um claro interesse, o que deixou minha família feliz e orgulhosa. E, de alguma forma, me sinto na obrigação de aceitar tudo e respeitar Iberê, mesmo que meu coração não pulse por ele.
Iberê coloca o homem na tina de banho, eu pego uma bucha do mato e com muita delicadeza esfrego o corpo sujo do homem, desviando das escoriações, enquanto Magé observa o corte na testa e Iberê segura os ombros do homem para não escorregar na tina, já que está desacordado.
Lavo os cabelos sujos de sangue, com extrato de pitanga, feitos por nós mesmo, e aos poucos o corpo vai ganhando vida, até que ele acorda assustado.
— What it is?
— Ele não é brasileiro. — Magé diz fitando o forasteiro.
— Vou enxaguar seus cabelos, feche os olhos...— disse com uma vasilha de água limpa nas mãos.
Ele me olhou e fechou os olhos, surpreendendo Magé e Iberê.
— Ele entende português.— observou Magé.
Joguei a água nos cabelos e passei a mão para tirar a espuma, esse gesto fez o volume em sua box aumentar.
Disfarcei o constrangimento dos presentes, fingi não notar.
— Ele entende sim... só não sei se ele fala português, as poucas palavras que disse foram em inglês.— falei encarando Magé.
— Vou buscar uma calça minha, para o homem— Iberê diz— chame a sua vó, ele vai precisar de alguns pontos.
Saio da tenda, mas não antes de dar outra olhada no corpo divino do homem.
Quando volto para tenda do pajé, ele já estava vestido com uma roupa de Iberê, e Magé passava uma pasta de ervas nas escoriações, no corpo deitado na cama.
Depois dos cumprimentos, minha avó e Magé, se inclinaram no homem até deixá-lo inteiro, ou pelo menos, quase inteiro.
— Não se lembra do nome?— Magé pergunta mais uma vez.
Com os olhos divagando, e abaixando a cabeça, ele balança em negação.
— Podemos chamá-lo de Essoby.— sugeri com um sorriso.
— Boa escolha, "aquele que possui olhos claros".— Magé responde.
Me aproximei do lindo homem e sorri. Me sentei ao seu lado na cama estreita, e segurei sua mão sã.
— Pode ficar aqui até que se recupere, vamos cuidar de você— ele deu um meio sorriso gentil, em gratidão— Não se preocupe com a memória, ela voltará com o tempo, até lá, nós o chamaremos de Essoby. Pode repetir?
— E-essoby... — murmurou.
— Isso. Eu sou Yara, muito prazer.
— Yara... — ele disse numa voz rouca e grave, com um sorriso tão lindo, que meus olhos brilharam e novamente senti uma ligeira palpitação no coração.
— Sim... Yara.
Magé entregou uma sopa, e como ele está com uma tala em uma das mãos, e o antebraço bem ferido, fiz questão de dar na boca dele. Apesar do banho e o tratamento das feridas, dá para ver que ele está com muitas dores e precisa descansar.
— Dá esse chá de cogumelos para ele, vai ajudar com a dor e fazê-lo dormir melhor.
O ajudo beber o chá e fico ao seu lado, até que os olhos verdes que me fitam, dilatam as pupilas e as pálpebras pesam, e num suspiro profundo, se fecham, e logo adormece.
Encaro o corpo na cama, e tento identificar o que meu coração está sentindo agora, por algum motivo, eu não quero sair daqui, me sinto obrigada a ficar ao lado desse homem misterioso.
Pego uma esteira e me deito no chão, ao lado dele, e começo a cantarolar uma canção indígena, "Kworo Kango", e quando dou por mim, adormeci, fui acordada por minha avó.
— Menina, você vai ficar o tempo todo ao lado desse homem?
Levantei assustada, olhei para Essoby, dormia tranquilamente.
— Não almoçou e já é quase hora do jantar... seu pai está preocupado. Minha avó falou.
Ela foi até o homem e observou as feridas, e começou a passar um óleo essencial no corpo.
— Eu te ajudo vovó!— disse me levantando.
Ela me entregou o frasco, me olhando desconfiada.
— Está muito assanhada com esse homem...— ela disse sem tirar os olhos de mim, e sem parar de massagear o braço.
— Essoby. Vamos chamá-lo assim, até que se lembre do nome. Falei sem dar atenção para a observação da minha vó.
Ergui a blusa dele e passei o óleo pelo abdômen e tórax.
— É só uma menina ainda, Yara, cuidado com o seu coração, não vá se apaixonar por um estranho!
— Me apaixonar? Não... eu só me sinto responsável por ele... quero ajudá-lo até se lembrar do seu nome, de onde veio, o que aconteceu...
— Humm... ele pode estar mentindo... fingindo que não sabe... vai saber se não é um foragido da polícia!
— Ele não parece um criminoso... — argumentei, olhando a face dele.
— Quem vê cara, não vê coração...— minha vó fala me encarando.
— As pessoas não merecem uma chance?
— Ah! Menina! O que sabe da vida! É uma criança!
Dei com os ombros e olhando para Essoby, tentei enxergar o que minha vó quer que eu veja nele, mas tudo que observo é um rosto suave, ressonando, tranquilo, não vejo maldade alguma.
"Seria ingenuidade, minha?"
— Vamos, Yara, precisa voltar para casa.
Na abertura da tenda, me virei e olhei para Essoby, mais uma vez...
Parece que meu mundo se resumiu, e tudo que importa é se Essoby vai se recuperar e revelar sua verdadeira identidade.
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Atualizado até capítulo 89
Comments
juliana Sereno
Gostando muito ,a vovó de olho na neta Índia já de coração abalado/Angry//Angry//Angry//Angry//Angry//Angry//Angry//Tongue//Tongue//Tongue/
2024-11-25
1
Zenith Afonso
Começando a ler em 25/10 /24.....
2024-10-26
0
Kika
Ela tbm é bem espertinha pra uma india selvagem kkk
2024-07-29
2