capítulo 5

Atrás dele, enquanto permanecia sentado com o copo de água intocado na mão, ouviu as vozes abafadas da aeromoça e de um dos passageiros. Wilson contraiu-se de ressentimento. Subitamente, abaixou-se com cuidado para não derramar a água e pegou a maleta. Abrindo-a, tirou dali o frasco com as pílulas para dormir e tomou duas.

Amassando o copo vazio, enfiou-o no revisteiro do encosto da poltrona da frente e, então, sem olhar, correu as cortinas. Pronto, acabou. Uma alucinação não constitui loucura.

Wilson virou-se para o lado direito e tentou estabilizar-se contra o movimento descontínuo do avião. Tinha de esquecer, isso era o mais importante. Não devia ficar pensando naquilo. Inesperadamente, percebeu que um sorriso irônico se formava em seus lábios. Bom, pelo menos, ninguém poderia acusá-lo de ter alucinações triviais. Em se tratando de alucinações, criara uma de primeira. Um homem nu rastejando na asa de um DC-7 a vinte mil pés, isso era uma quimera digna do mais nobre lunático.

O bom humor desapareceu rapidamente. Wilson sentiu um calafrio.

Havia sido tão claro, tão vívido. Como poderiam os olhos enxergar uma coisa que não existe? Como era possível que sua mente pudesse simular o ato físico de enxergar tão perfeitamente? Ele não estava embriagado, nem atordoado... e não havia sido uma visão indistinta, etérea. Havia sido claramente tridimensional, como todas as outras coisas que via e sabia que eram reais. Essa era a parte mais assustadora de tudo.

Tinha certeza de que não fora um sonho. Havia olhado para a asa e...

Num impulso, Wilson abriu a cortina.

Não soube, imediatamente, se iria sobreviver. Era como se todo o conteúdo de seu peito e barriga inchassem horrivelmente, comprimindo-lhe a garganta e a cabeça, asfixiando-o, pressionando-lhe os olhos. Preso nessa massa estufada, seu coração pulsava descontroladamente, ameaçando romper-lhe o peito enquanto Wilson permanecia sentado, paralisado.

Distante apenas alguns centímetros, separado dele pela espessura do vidro da janela, o homem olhava para ele.

Era um rosto terrivelmente maligno, não humano. Sua pele era suja, áspera e porosa; o nariz era chato e descorado; os lábios, disformes e rachados, eram mantidos abertos por dentes tortos e descomunais; os olhos pequenos e encovados não piscavam. Tudo isso emoldurado por cabelos emaranhados que lhe brotavam, também, em tufos peludos, das orelhas e do nariz.

Wilson permaneceu colado à poltrona, sem reação. O tempo parou e perdeu o significado. Todo movimento e capacidade analítica cessaram. Tudo congelado pelo choque. Apenas o coração continuava, sozinho, seu batimento frenético na escuridão. Wilson não conseguia fazer nada mais do que piscar. Com olhos arregalados, sem fôlego, retribuía o olhar vago da criatura.

continuação, próximo capítulo

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