Talvez, no fim das contas, fosse apenas um pássaro ou...
Outro raio iluminou o céu e Wilson viu que era um homem.
Não conseguia se mover. Estupefato, ficou olhando a forma preta rastejar pela asa.
Impossível. Em algum lugar, envolta em camadas de choque, uma voz se pronunciou, mas Wilson não ouviu. Não tinha consciência de coisa alguma, exceto do colossal pulo que deu seu coração e do homem lá fora.
De repente, como se houvesse levado um banho de água fria, houve uma reação; sua mente saltou para o abrigo de uma explicação. Um mecânico que, por algum descuido incrível, fora levado junto com o avião.
Conseguira se agarrar a ele, mesmo que o vento lhe houvesse arrancado as roupas, mesmo que a atmosfera fosse rarefeita e próxima de zero.
Wilson não se deu tempo para refutação. Pondo-se de pé num pulo, gritou:
— Aeromoça! Aeromoça! — sua voz ecoou pela cabine. Ele apertou com decisão o botão para chamá-la.
— Aeromoça!
Ela veio correndo pelo corredor com ar de preocupação. Quando se deparou com a expressão em seu rosto, parou onde estava.
— Há um homem lá fora! Um homem! — Wilson gritou.
— O quê? -a pele em torno dos olhos e as bochechas da aeromoça se contraíram.
— Olhe, olhe — com a mão trêmula, Wilson caiu de volta na poltrona e apontou para a janela. — Ele está rastejando na...
As palavras terminaram em sua garganta com um engasgo. Não havia coisa alguma sobre a asa.
Wilson ficou sentado ali, tremendo. Por um momento, antes de se virar, olhou para o reflexo da aeromoça na janela. Havia uma expressão vazia em seu rosto.
Afinal, ele se virou e olhou para ela. Viu seus lábios vermelhos separados, como se estivesse prestes a falar, mas não disse nada, apenas fechou os lábios novamente e engoliu.
Uma tentativa de sorriso distendeu brevemente suas feições.
— Sinto muito — disse Wilson. — Deve ter sido um...
Ele parou, como se a sentença houvesse sido concluída. Do outro lado do corredor, uma adolescente olhava para ele com sonolenta curiosidade. A aeromoça pigarreou:
— Posso lhe trazer alguma coisa? — perguntou ela.
— Um copo de água — disse Wilson.
A aeromoça virou-se e voltou para o corredor.
Wilson suspirou profundamente e deu as costas para o olhar escrutinador da garota.
Sentia-se da mesma forma. Isso era o que mais o chocava. Onde estava o típico comportamento de louco, as visões, os gritos, os golpes dos punhos apertados contra as têmporas, o arrancar de cabelos?
De repente, fechou os olhos. Havia um homem lá, ele pensou. Havia lealmente um homem lá. E era por essa razão que se sentia assim. E, no entanto, não poderia ter havido um homem lá. Sabia muito bem disso.
Wilson estava sentado com os olhos fechados, imaginando o que Jacqueline estaria fazendo agora, se estivesse no assento ao lado. Será que estaria em silêncio, chocada demais para falar? Ou será que ela, da maneira mais natural do mundo, estaria borboleteando ao redor dele, sorrindo, conversando, fingindo que não tinha visto coisa alguma? O que os seus filhos teriam pensado?
Wilson sentiu um soluço seco ameaçar irromper em seu peito. Oh, Deus...
— Aqui está sua água, senhor.
Contraindo-se fortemente, Wilson abriu os olhos.
— O senhor gostaria de um cobertor? — perguntou a aeromoça.
— Não — ele balançou a cabeça. — Obrigado — acrescentou ele, querendo saber por que estava sendo tão educado.
— Se precisar de alguma coisa, basta chamar — disse ela.
Wilson concordou.
Continuação,próximo capítulo
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Atualizado até capítulo 10
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