Deus, deixe-me ir!, sua mente gritou abruptamente.
Deixe-me ir, deixe-me ir. Mal se reconhecia naquele choramingar que escutava. De súbito, Wilson endireitou o corpo. Lábios apertados, reembalou a pistola e meteu-a na valise, colocou o nécessaire sobre ela e fechou a maleta. Pondo-se de pé, abriu a porta e saiu, dirigindo-se apressadamente para seu assento, sentando-se e deslizando a valise ao seu devido lugar. Apertou o botão do braço da poltrona e empurrou-se para trás. Era um homem de negócios e tinha um negócio a ser fechado no dia seguinte.
Simples assim.
O corpo precisava de repouso e ele lhe daria o repouso necessário.
Vinte minutos depois, Wilson voltou a pressionar o botão, fazendo o encosto de sua poltrona retornar lentamente para a posição vertical; seu rosto era a máscara da aceitação da derrota. Porque lutar?, pensou. Era óbvio que permaneceria acordado.
Seria assim e ponto-final.
Tinha acabado metade das palavras cruzadas antes de largar o jornal em seu colo.
Seus olhos estavam cansados demais. Endireitou-se no assento, estalou os ombros, esticou os músculos das costas. E agora? , pensou.
Não queria ler, não conseguia dormir. E tinha ainda pela frente — consultou o relógio — sete ou oito horas antes de chegar a Los Angeles. Como iria passá-las? Olhou ao longo da cabine e viu que, com exceção de um único passageiro no compartimento dianteiro, todos estavam dormindo.
Foi tomado por uma súbita e avassaladora fúria e desejou gritar, atirar alguma coisa longe, bater em alguém. Cerrou os dentes com tanta força que lhe doeu o maxilar; Wilson afastou as cortinas com as mãos trêmulas e espiou pela janela, com um olhar assassino.
Lá fora, viu as luzes da asa piscando, os sinistros lampejos de escape do motor. Lá estava ele, percebeu, vinte mil pés acima da terra, preso em uma concha mortal e barulhenta, atravessando a noite gélida em direção...
Wilson estremeceu quando um relâmpago clareou o céu, inundando a asa com sua falsa luz do dia. Engoliu em seco. Haveria uma tempestade?
A ideia de chuva e ventos fortes atingindo o avião como uma casca de noz no mar do céu não era nada agradável. Wilson não era um bom passageiro.
Movimento em excesso o deixava enjoado. Devia ter tomado outro antihistamínico por precaução. E, naturalmente, sua poltrona estava localizada junto à porta de emergência. Pensou na eventualidade de ela se abrir acidentalmente e sobre ele ser sugado do avião, caindo, gritando.
Wilson piscou e balançou a cabeça. Sentiu um ligeiro formigamento na nuca quando se aproximou da janela ainda mais e olhou para fora. Ficou ali sentado, imóvel, com os olhos semicerrados para enxergar melhor. Poderia jurar que...
De repente, sentiu uma violenta contração nos músculos do estômago e arregalou os olhos.
Havia alguma coisa rastejando na asa.
Wilson sentiu uma náusea repentina. Meu Deus, será que algum cão ou gato havia rastejado para o avião antes da decolagem e, de alguma forma, conseguira se segurar? Era uma ideia angustiante. O pobre animal estaria louco de pavor. No entanto, como seria possível que descobrisse locais onde se agarrar na superfície lisa e açoitada pelo vento? Certamente era impossível.
Continuação, próximo capítulo
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Atualizado até capítulo 10
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