Caçado pelo irmão

^^^" Está ouvindo meu coração? Quero fazer uma lista de todas as suas coisas preferidas e quero estar nessa lista."^^^

^^^— Incendeia-me.^^^

Sem querer acabo rindo. Parece inesperado, já que o lobo me olha. O meu primeiro beijo a um lobo... nem foi um beijo de verdade. Que absurdo!

— Eu não devia ter feito isso...- resmungo ainda rindo.- Vem, vamos sair da-

Assim que pego na mão dele, o gelo abaixo de mim treme violentamente. Cheiro de fogo antecipa meus sentidos, e por impulso viro meus pés na direção do lobo e o empurro para longe. No ato sou jogada para longe também, quando uma flecha incendiada atravessa o gelo. Para minha surpresa uma explosão ocorre danificando mais a camada grossa. Não pode ser, pólvora?!

— A Alteza ainda vive!

O meu corpo erijesse ouvindo esse grito, como um imã meus olhos caem sobre a figura paralisada do lado oposto do meu.

— Olhem esta floresta... esse lago... então você não era tão louco assim, irmão.- os seus olhos caem sobre mim.

Um pelotão inteiro de soldados. Lobos. Engulo a seco sentindo a verocidade que emana de cada um deles. Alguns humanos também os acompanham, carregando flechas que cheiram a pólvora. Se esse fogo chegar às árvores... A floresta irá queimar!

— Aqui... terras abençoadas pelos espíritos...- o lobo que comanda diz, ajoelhando num joelho só.- Que magnífico... você.- eu o quê?!- Você cuida disso tudo...?

— Antes dos cães chegarem, sim.- aí meu coração, eu vou morrer falando isso. Mas por incrível que pareça, ele ri.

— Agora eu entendo... ouvi histórias sobre a sua raça..., mas ver uma de perto é Fascinante.- o seu olhar é ferino, chegaria a atravessar o âmago da minha alma apenas com isso.- Ouvi dizer também... que vocês contêm o segredo da... vida pós-morte, sacerdotisa. Isto é verdade?

— Morre primeiro, e saberá.- o que eu tô falando?! Isso que é pedir pra ser devorada até os ossos.

— Mestiça... meio humana, meio tigre. A senhora é divertida, eu poderia me apaixonar por você.- que clichê.- Mas... salvou meu irmão da morte, não foi? Isto te tornou minha pior inimiga. E como um Alfa Lobo Noturno, sempre ataco à espreita para não deixar rastros.

— Você não...- engulo a seco.

— Queimem tudo.

Os arqueiros preparam as suas flechas em direção à floresta. O meu sangue finalmente congela e para de correr. O céu acima de mim escuresse totalmente e somente os olhos dos caçadores brilham.

Com uma risada animalesca, aquele dito lobo corre na minha direção, tomando a sua forma real de cão sarnento. Seria uma visão muito bela de ver... senão fosse nesta situação.

Nesse momento outro lobo surge saltando na minha frente, embatendo o que tenta me atacar. O que...?!

Com um suspiro súbito sinto o vento dos espíritos soprar violentamente. O gelo racha mais ainda enquanto o fogo das flechas é apagado. Observo um por um, dos soldados a homem humano, ser jogado contra o lago.

— O que é isso?!- eles gritam.

— Vocês estão na casa deles! Eles são bem charmosos com recepções a invasores.- digo vendo os gritos aumentando. Nenhum irá morrer se recuar, os espíritos não optam pela morte desta categoria.

Desvio de um lobo que saiu voando. Não posso lutar, então, vocês que lutem.

Um ganido chama a minha atenção. Vejo o embolar de pêlos indo em direção a um gelo já solto. Se caírem ali, vão congelar.

— Já não é problema meu. São casos de família.- digo, e o lobo mal morde o lobo menos mal. Que no caso, meu protegido.

Tiro o meu sapato e arremesso. Erro. O lobo me olha. Que vexame! Pernas para quem te quero!!!

Deslizo habilmente pelo gelo sendo caçada. O rosnar fica cada vez mais alto seguido pelo tremor das patas afiadas batendo contra o chão cristalino. Eu vou morrer, de novo. Um gato tem 7 vidas, e eu já tô em -3.

– Madame,eu te protejo!- raposa, não pula em--

Caio no chão. Raposa sorri mexendo as orelhas.

— Belo salto, né?!- mal tenho tempo de responder, quando ele desaparece dando lugar ao lobo que saltou encima de mim.

Estou tentada a revidar, mas outra vez contenho-me. Coloco o meu braço na frente da mordida, recebendo seus dentes cortantes como lâmina sobre minha pele.

— Uurghh!!- finco os pés na sua barriga e tento empurra-lo de cima, mas seus olhos seguem vidrados em mim como se, o meu sabor fosse hipnotizante.

– Tire as mãos dela!- subitamente o corpo é puxado de cima de mim quase levando meu braço entre os dentes.- Ela... ela não é sua!

O lobo gane ao ser socado contra o chão. Esqueço até a dor que sinto, vendo o lobo meio mal, bater, bater não! ESPANCAR com as mãos, o próprio irmão!

— Ei! Chega!- digo tentando detê-lo, mas o sangue espirra de mim assim que tento levantar.- Ah... que lobo filho duma cadela!

— Agora irmão... termine o que começou...- o lobo cospe sangue da boca sem perder o sorriso sarcástico, mesmo tendo voltado a forma humana, ele não demonstra sequer medo.- Mostre que você... o monstro que todos dizem... termine de exterminar toda a sua família.

— O quê? Matou a sua família?!- digo me pondo de pé, não sei como, mas tô de pé.- É por isso... que você está sendo caçado...?

— Vamos, irmão. Conte a sua namorada o que fez.- ele não tem tempo de terminar a frase, pois leva mais um soco, que toma sua consciência.

O suor escorre do seu rosto quando me olha, o cheiro de sangue atiça os seus instintos animais, só então noto: eu tô sangrando mais que humana no ciclo menstrual.

Antes de raciocinar sou prensada contra o gelo novamente. Dessa vez não! Deslizo por baixo do seu braço e passo as minhas pernas por suas costas, no ato me jogo subindo para sua retaguarda. O bom de ser baixinha é isso, passa por qualquer buraco.

Mesmo sangrando, uso o meu braço ferido para imobiliza-lo. Ao meu redor os gritos seguem igual, a luta interna cresce cada vez mais. Não é isto que eu defendo, não é por isso que estou aqui...

— Eu v-vou... te-te achar...!- o panqueca de lobo diz, rindo quase sem dente.- Prome-met...o... E po-po... de apo-postar que i-irei... to-tomar to-to...

— Vai pra lá CD furado.- digo socando o chão com a mão intacta.

O gelo finalmente se rompe totalmente. Os espíritos somem enquanto os homens são engolidos pela água. Com graciosidade, algumas almas me pousam no chão firme, e jogam o lobo contra uma árvore. Uii, isso vai doer depois.

— Levem eles para fora daqui, por favor.- falo as águas.- Que eles não achem nosso lugar.- o lago então brilha levando consigo tudo que havia dentro. Até as marcas da luta. Novamente, uma camada de gelo espessa cobre o brilho perigoso.

Suspiro caindo sobre os joelhos. O meu braço ainda sangra bastante. Com cuidado rasgo parte da camisa, apenas o bastante para amarrar e estancar o sangramento.

— Não espere agradecimento, me olhando daí.- falo observando o lobo me encarando, está so o bagaço.- Me salvou porque quis.

— Que seja.- ele resmunga tentando se mexer, agora fora do lago, ele consegue sem a minha ajuda.- Está envenenado...

— Não me diga. É de família ter feitiche por coisas venenosas?!- brinco tentando me por de pé.- Por que a floresta te aceitou... o senhor é um assassino...

— Cuidado com suas palavras, mestiça.

— "Cuidado com as suas palavras, mestiça."- repito afinando a voz.- Muda de roteiro por favor! Isso cansa minha beleza! Diga-me, o que você fez?! Quem é você de verdade, lobo?!- falo me jogando na sua gola da camisa.- Algo tem em você para a floresta te aceitar!

Não a resposta. Por segundos o que se houve é minha respiração misturando com a dele. Estou tão próxima que posso ver os respingos de sangue seco no seu rosto. Por impulso estendo a mão para limpa-lo.

— Não faça.- ele diz agarrando o meu punho.

— Qual é o seu nome?- pergunto. Não a resposta.- Tudo bem... você não vai embora mesmo.- tento me levantar, mas ele me puxa de volta e pela força acabo caindo contra seu colo. Coro severamente.

— Para onde mandou eles?- questiona.

— Para o lugar ao qual você não irá. Nunca.- respondo me libertando de seu aperto.- Vamos embora, vovó deve estar preocupada comigo.

— Sabendo quem sou, ainda não me teme?- fala semi-cerrando os olhos. Acabo rindo de lado.

— Só teme a morte, quem nunca a conheceu.- falo segurando o seu queixo.- E de assustador, você só tem a cara...- digo ameaçando tocar meus lábios nos seus. Ele não recua, o que me faz rir novamente.

To me achando.

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