Capítulo 4°

Pensei em me sentar junto ao balcão que ficava logo à frente da segunda porta, portanto apenas três cadeiras rolantes, e logo atrás uma bela atendente, com charmosos cabelos cacheados.

Meu plano era ficar observando-a e aguardar o melhor momento.

— Boa noite, senhor — disse a atendente com um belo sorriso.

— Boa noite — respondi educadamente.

Eu estava claramente nervoso. Sentei-me na cadeira do meio e pedi por um café preto com bastante açúcar, como sempre gostei, já bastava a vida ser amarga às vezes, mas nada contra quem gosta do seu café amargo — até porque ninguém é perfeito mesmo.

Ao lado do balcão tinha uma máquina de som antiga, estilo Jukebox. Estava tocando bem baixinho, The Smiths – The Boy With The Thorn In His Side.

O refrão era viciante e ficava na mente. Bom… quem não gosta de Smiths?

Voltei a observá-la de forma discreta. Pelo menos era essa a minha ideia. Ela estava lendo um livro que parecia ser muito interessante, pois frequentemente dava um pequeno sorriso.

— Geralmente ela vem aqui aos sábados – disse a atendente enquanto limpava uma xícara.

— Oi? Disse alguma coisa? — fiquei um pouco assustado com suas palavras, quase que por um segundo me engasgando com o café.

— A moça sentada na mesa oito, que você não tira os olhos desde que entrou aqui — respondeu dando uma leve sinalizada com os seus olhos azuis.

— Estava tão na cara assim? — perguntei timidamente, pois estava sem jeito.

— Bastante. — Deu uma leve risada. — Não sei se você a conhece ou algo do tipo, mas se eu fosse você iria lá e falava com ela. Você parece ser uma pessoa legal, e acredito que ela vai gostar dos seus olhos cor de mel — falou apontando para meus olhos. Pela forma que falou devia ser comum a situação que me encontrava.

Fiquei um pouco sem graça, mas me tirou um sorriso e a coragem que me faltava.

— Obrigado. Acredito não conhecê-la, mas sinto o contrário, é difícil explicar… Só vou descobrir falando com ela, certo?! — minha atenção estava voltada para a mesa oito nesse momento, ainda receoso no que iria falar para ela.

— Sem dúvidas — respondeu a atendente com um sinal positivo.

— Então… é isso que vou fazer! — disse com convicção. — Obrigado novamente, foi muito gentil da sua parte o incentivo. Bom… o não eu já tenho. — Usei um tom de ironia, dando um leve suspiro, claramente estava muito nervoso.

Coragem! Coragem! Coragem!, falava em pensamento repetitivamente.

Me levantei bem devagar e meu coração estava mais acelerado que o normal, então comecei a caminhar lentamente em sua direção.

Enfim, chegando em sua mesa resolvo então começar a minha sessão de constrangimento.

— Oi… Olá. — Gaguejei por um segundo, já tinha começado mal.

Ela fechou o livro e me olhou com seus lindos olhos castanhos. Pareceu um pouco surpresa e perguntou:

— Oi… posso ajudar você em algo? — Me olhou franzindo a sobrancelha.

Ela tinha uma beleza que deveria chamar bastante atenção. Sua voz era bem suave. Sua pele tom de canela. Cabelos cortados em “long bob”, um tipo de corte que considerava bem charmoso, acompanhado de um tom bem escuro, ônix.

— Me chamo Pedro. Sei que vai parecer estanho, muito estranho mesmo, mas eu gostaria de saber se não nos conhecemos. E já peço mil desculpas por estar incomodando-a, mas eu tinha que perguntar. – Resolvi ir direto ao ponto.

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