Henry
Acordo com o som da cozinha, um barulho estranho que me tira do sono. Levanto meio confuso, tentando entender o que está acontecendo. De repente, sinto o cheiro de queimado e, num reflexo, corro até a cozinha.
— Porra, Cristian! Achei que fosse alguém invadindo a casa! — falo irritado, já me preparando para um confronto.
Cristian está parado em frente ao balcão, parecendo imune à situação.
— Quem é que invadiria a casa pra cozinhar? — ele responde, com aquele tom desdenhoso.
— Cozinhar? Botar fogo na minha cozinha é o que você chama de cozinhar? — retruco, sentindo a raiva crescer.
Cristian revira os olhos, mas antes que eu possa dizer mais alguma coisa, percebo uma pequena figura se movendo ao lado dele. Olho melhor e vejo Ana, minha sobrinha, e imediatamente me aproximo dela.
— Olá, princesa. Como você está? Sentiu minha falta? Claro que sentiu, sou seu tio preferido! — falo, pegando-a no colo.
— Henry, ela só tem um ano. Não vai te responder. — Cristian ri, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
— Ela não precisa me responder, eu sei que sou o tio preferido dela — digo, me convencendo disso enquanto a olho com um sorriso.
— Deixa a Isabela ouvir isso. — Cristian provoca.
— Ela é uma chata, não está nem no Brasil, então não tem como opinar. E eu passo mais tempo com a Ana do que ela. — faço uma careta, convencido de que estou certo.
Cristian gargalha e dá uma olhada em Ana.
— Já que você é o tio preferido, o que acha de me dar ela aí e ir cozinhar pra gente? — ele brinca.
Olho para ele com sarcasmo.
— Ah, Henry, por favor, vai. Você sabe que sou uma negação na cozinha. — ele responde, com um tom de quem já sabe que vai me convencer.
Respiro fundo, derrotado, e aceito.
— Tá bom, vou fazer o café da manhã. — falo, revirando os olhos.
Eu sempre amei cozinhar, desde pequeno. Aprendi tudo com minha avó, então não me importo em colocar a mão na massa. Enquanto preparo o café, pergunto, sem tirar os olhos do fogão:
— Já alugou seu apartamento?
— Sim, minhas coisas chegam à tarde. — Cristian responde de forma descontraída.
— E onde fica? — pergunto, curioso.
Cristian engole em seco antes de responder.
— Bem... talvez, só talvez, eu tenha alugado o apartamento em frente ao seu. — ele diz, com um sorriso meio nervoso.
Eu paro o que estou fazendo e o encaro, surpreso.
— Sério? — pergunto, incrédulo.
— Não gostou da ideia? — ele pergunta, com um olhar desconfiado.
— Bom, desde que você casou não moramos mais perto um do outro... Mas... acho que foi bom, vou ficar mais perto de vocês. — respondo, tentando esconder minha surpresa. No fundo, fiquei aliviado. A família tem sido fundamental pra ele criar a Ana, e isso sempre me fez sentir que eu deveria estar por perto.
Cristian sorri e começamos a tomar café juntos. Depois de alguns minutos, saímos em direção à empresa. Deixamos Ana com a Lucia, que sempre foi a babá da família e agora acompanha Cristian e Ana para São Paulo, aceitando o convite de imediato. Lucia já fazia parte da nossa família, e a felicidade dela era visível.
Durante o trajeto até a empresa, Cristian não perde a chance de me provocar.
— Então... Me conta o que aconteceu. — ele diz, quase rindo.
— Cara, não acredito que você fez isso. — Cristian solta uma gargalhada.
— Olha, eu estava de mal humor, tá bem? — falo, tentando justificar o que fiz.
— Isso não é justificativa, você sempre está de mal humor. — ele provoca, com aquele sorriso que me irrita.
— Claro que não, isso não é verdade. — respondo, um pouco defensivo.
— Não é? Irmão, não lembro a última vez que você deu uma risada sincera. E não venha falar que você ri com a Ana, porque ela não conta. Até parece que quem teve um casamento fodido foi você, e não eu! — ele continua, dando risada.
Bufo, já começando a perder a paciência.
— Estou falando isso para o seu bem, cara. Você precisa ser mais agradável com as pessoas. Se a mãe descobrir que você tratou a moça daquele jeito, ela te mata. — ele conclui, mais sério.
— Eu sei disso. — respiro fundo, sentindo o peso da verdade nas palavras dele.
— Então, já pediu desculpas? — ele me desafia.
— Não... — admito, relutante.
— E está esperando o que pra fazer isso? — ele insiste.
— Não sei, é difícil. — confesso, sabendo que ele está certo, mas não consigo encontrar uma maneira fácil de corrigir as coisas.
Cristian me lança um olhar de lado e, antes de mudar de assunto, diz:
— Me conta, então... Ela é bonita?
— O quê? — me surpreendo.
— Na mensagem que me mandou... — ele insiste, com um sorriso de quem sabe mais do que deveria.
— Eu estava brincando. — falo, tentando disfarçar.
— Então, ela não é bonita? — ele provoca.
Eu fico em silêncio, não sei o que responder. Cristian dá um meio sorriso satisfeito, como se já soubesse a resposta.
Chegamos à empresa e subimos direto para a sala onde trabalho. O combinado era esperar Melissa se apresentar a Cristian antes de qualquer coisa. Quando chegamos, mando uma mensagem para ela, pedindo cafés para todos.
— Você ficou com essa cara amarrada do nada... Mandou mensagem pra quem? — Cristian pergunta, desconfiado.
— Não fiquei amarrado... Mandei mensagem pra Melissa. Pedi uns cafés pra gente. — respondo, tentando disfarçar o desconforto.
Na verdade, ainda estava um pouco decepcionado com a resposta dela. Talvez ela ainda estivesse brava comigo, e isso me incomoda. Cristian me olha com um olhar desconfiado.
— Como conseguiu o número dela? E por que não falou do café antes? Passamos em frente à cafeteria no caminho.
— Peguei com a Ângela, da recepção. O Charles disse que se precisasse, poderia entrar em contato com ela. — explico, tentando não ser evasivo.
— Isso ainda não explica o café. — ele insiste, curioso.
— Por Deus, Cristian! Você faz muitas perguntas! Esqueci como às vezes você consegue ser tão irritante! — falo, já sem paciência.
Antes que ele pudesse responder, a porta se abriu e Melissa entrou, interrompendo a conversa. Ela se apresentou, e como sempre, meu irmão não perdeu a chance de me provocar.
Assim que Melissa saiu, Cristian falou, com um sorriso de aprovação:
— Gostei dela, realmente é bonita. Quando o Charles disse que tinha uma secretária muito eficiente, pensei que fosse alguém mais velha.
— Ela não faz meu tipo. — tento despistar.
— Não faz? — ele provoca.
— Sabe que eu gosto de mulheres altas. — digo, tentando desviar o foco.
— Ela não é tão baixa assim. — ele responde, com um olhar desafiador.
— Já viu o nosso tamanho? Qualquer mulher com menos de 1,70 é baixa perto da gente. — falo, rindo.
Cristian faz uma careta e continua:
— Mas sabe de uma coisa? Ela combina com você. Tem cara de que te transformaria em um cachorrinho dela.
Eu reviro os olhos, irritado.
— Para de bobagem, maldita hora em que falei dela pra você. Não tenho interesse nenhum. — respondo, sem paciência.
— Tudo bem, é de se compreender. Você não faz o tipo de cara que se enrosca em alguém. — Cristian brinca.
Eu saio da sala rapidamente, dizendo que ia tomar um ar. Quando chego lá fora, vejo Melissa concentrada no que está fazendo. Fico observando ela por um momento, pensando no que meu irmão tinha dito. Ele estava certo, eu precisava pedir desculpas. Mas quando finalmente fiquei frente a frente com ela, as palavras não saem. Acabo mudando de assunto, e antes que eu pudesse fazer algo, já estava indo embora.
Na hora do almoço, enquanto eu voltava para minha sala, alguém esbarrou em mim.
— Mas que diab... Melissa?
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Atualizado até capítulo 50
Comments
Bianca G. Silva
Nossa estou amando a história, o jeito que a autora escreve é muito bom. Quando vai ter mais capítulos? Já estou ansiosaaaa
2022-06-17
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