No quartinho onde Hiromi se encontra não possui cama, é apenas três colchões em cima do outro. O teto tem algumas rachaduras, mas as paredes não são desgastadas. Talvez ainda não seja o fim do mundo para Hiromi, pelo menos o chão não é apenas de cimento. Toda a área é revestida de piso, mas a maioria está quebrada. Tem um espelho comprido na parede e outro pequeno no banheiro só para se olhar enquanto escova os dentes, mas a escova de dentes está preta e com cheiro de mofo. Apesar disso as condições do banheiro estão melhores que o quarto. A parede e o chão são totalmente de piso até dentro do box, só não tem porta, é apenas uma cortina. A porta do banheiro não tranca, é só a porta de entrada do quarto. A pia é simples, toda branca e a privada até que é agradável para a Yoshida, dará para fazer suas necessidades por enquanto, mas não tem papel higiênico.
– Vou me deitar nessa imensa pilha de colchões e me enrolar com o lençol que está dentro do pequeno armário, o travesseiro já está em cima dessa cama improvisada e ela não está desforrada, o que já é um bom começo. – Pensou a Yoshida.
...Algumas horas depois......
A Yoshida rapidamente acordou com o barulho da porta, alguém havia entrado e deixado o seu café da manhã. São duas torradas frias e um café horrível amargurado, sem açúcar.
– O que é isso agora?! Por acaso eles pensam que sou algum animal?! Até aqueles cachorros devem se alimentar melhor! – Pensou Hiromi intrigada enquanto faz uma careta após provar o café.
Ela se levantou irritada e foi até a porta.
– Exijo um café da manhã de gente! – Bateu naquela porta de ferro que provavelmente possui trancas.
– Isso é o que tem para hoje. Então, pare de reclamar e se contenta com o que tem. – Disse uma voz familiar no outro lado, provavelmente do Mitsuo.
– Mas esse café está horrível e essas torradas não parecem torradas. – Disse resmungando e ouvindo logo em seguida risadas. Aquele maldito bando está reunido – Não vejo graça nenhuma nisso, seus imbecis! – Disse irritada.
– Agora mesmo é que você vai ficar sem o lanche da tarde, garota abusada. – Disse Mitsuo.
– Abusada? Vocês que são. Facção vinda dos infernos! – A risada ficou ainda mais alta e ela bufou de raiva.
– Ver se fecha essa matraca, você está atrapalhando o jogo. – Dessa vez foi a voz de Koji.
– Não! Não até pelo menos vocês me darem um papel higiênico! – Gritou furiosa.
– Ué, dizem que mulheres bonitas não precisam fazer suas necessidades... – Disse Kentaro de uma forma provocativa – Por quê não tenta experimentar essa nova experiência?
– Porque infelizmente não sou entupida! – Respondeu a Yoshida, fazendo assim o rapaz gargalhar.
– Certo, você venceu... – Ele se levantou e abriu uma pequena janelinha na porta, vendo assim a Yoshida com um semblante totalmente sério – Tome isso e agora nos deixe em paz. – Essa foi a última palavra de Kentaro antes de entregá-la, fechando assim a janela logo em seguida.
Hiromi inspirou todo o ar que conseguiu acumular dentro de seus pulmões e deu um forte suspiro, sentando-se logo em seguida naquele chão e olhando novamente para o prato que está do seu lado.
– Vejo que não tenho escolha... – Ela fez uma expressão de cansaço e digeriu tudo que está ali enquanto tenta imaginar a possibilidade de está comendo um pão fresquinho com geleia de amora e tomando não um café sem gosto, mas sim um suco natural de laranja.
Depois, a Yoshida levantou e foi para o banheiro. Primeiro ela começou lavando as suas mãos e passando água na boca. Ela olhou em cima da pia e agradeceu mentalmente por ter pelo menos uma pasta de dente ali, abrindo-a e botando pura em sua boca para não ter que usar aquela escova de dentes toda preta e amarelada. Isso traria sérios prejuízos para a sua arcaria dentária.
Ao fazer tudo ela foi para o armário ver se tem algumas peças de roupas e toalha. A única coisa que ela conseguiu achar foram pedaços de trapos velhos empoeirados. A toalha foi uma exceção, mas como vai tomar banho sem ter pelo menos uma calcinha e roupa para cobrí-la? Ela não pode ficar sempre com aquela roupa do corpo e muito menos ficar pelada. Aquilo com certeza é um absurdo, ser prisioneira é uma das piores coisas que existem nesse mundo e ela não está gostando nem um pouco dessa nova experiência frustrante.
A rosada foi tirada de seus pensamentos quando escutou o barulho da porta sendo destrancada. Ela rapidamente fechou a porta do armário e se jogou na cama para fingir que dormia.
– Nem adianta fingir, sei muito bem quando uma pessoa está dormindo ou não. – Aquela voz rouca e séria ela reconheceria em qualquer lugar, é ele, Toshio Watanabe.
Reconhecendo a sua derrota ela se sentou.
– Como você soube? – Perguntou enquanto o olha.
– Sou mais esperto do que você imagina, Yoshida. – Hiromi se espantou imaginando em como ele descobriu o seu sobrenome.
– Como você sabe o meu sobrenome? – Ela ainda o olha surpresa.
– É isso que mostra a identidade que está em sua bolsa. – Respondeu.
– Você andou vasculhando a minha bolsa?! – O seu tom de voz ficou sério.
– Mas é claro, você acha mesmo que sou burro o bastante para não procurar algo informativo sobre você? – O tom de voz dele foi sarcástico.
– Isso é invasão de privacidade, sabia? – Encara.
– Fala sério... – Ele deu uma alta gargalhada – Você vai querer mesmo me dá sermão após está nessas condições?
– Não vou nem responder. – Disse revirando os olhos.
– Você não tem resposta. Na verdade, você não tem escolha. – O pior é que Hiromi sabe que ele tem razão.
– O que você veio fazer aqui, afinal? – Perguntou irritada.
– Não é óbvio? Vim pegar o prato e ver como a prisioneira está se dando com tudo isso... – Respondeu o Watanabe enquanto pega o prato – Se sinta privilegiada por poder ver essa delícia mais de perto.
Nessa hora a Yoshida deu uma alta gargalhada.
– Querido, se enxerga. – Disse Hiromi.
– Já me enxergo o suficiente no espelho e vai por mim, você gostaria muito mais do resultado. – Isso foi o suficiente para fazer Hiromi ficar totalmente calada.
– Você é insuportável. – Resmungou Hiromi.
– Isso para mim é elogio... – Ele abriu a porta – Até daqui a pouco.
– Espere um pouco, você vai voltar? – Perguntou assustada, mas ele a deixou sem resposta.
.... . ....
Novamente a porta se abriu.
– E então?... – Ele a olhou – Está pronta?
– Pronta para o que exatamente? – Perguntou confusa.
– Para o interrogatório, pelo visto você esqueceu que vou fazer perguntas a você. – Respondeu Toshio.
– Não tenho nada de interessante para contar. – Disse ela.
– Isso é o que você diz, mas para mim talvez tenha sim... – Ele se sentou na cama e ela procurou manter o máximo de distância possível – Não precisa ficar igual um gatinho assustado, não mordo, só quando quero e a única coisa que quero agora é que você responda as minhas perguntas.
– Que tal um acordo? – Perguntou Hiromi.
– Como assim? – Perguntou de volta.
– Respondo as suas perguntas, mas para isso você terá que atender as minhas exigências e tirar algumas dúvidas minhas também. – Respondeu a Yoshida.
– E se não aceitar a sua proposta? – Perguntou.
– É simples... – Respondeu Hiromi – Você fica sem as respostas.
Ele riu.
– Admito que você é esperta, mas você esqueceu de uma coisinha... – Ele rapidamente a puxou para si e encostou os seus lábios em seu ouvido – Se você não responder morrerá. – Sussurrou em um tom divertido.
– Morta por quem? Por você ou pelos cachorros? – Perguntou através de outro sussurro.
– Depende... – Respondeu – Mas se fosse você escolheria mil vezes ser morta pelos cachorros do que por mim, assim será menos doloroso. – Ela engoliu em seco.
– E se escolher nenhuma das opções? – Perguntou.
– Não se preocupe, terá várias outras disponíveis... – Um sorriso interessante surgiu nos lábios dele, deixando assim uma Yoshida totalmente intrigada – Veja o lado bom, pelo menos você será a primeira a poder escolher como morrerá.
– Nossa, como isso é “tranquilizador”. – Disse revirando os olhos.
– Pelo menos tentei amenizar as coisas. Nem sou tão ruim assim como você pensa. – Disse em um tom nem um pouco convincente.
– Não, você só é um monstro. – Disse séria.
– Um monstro que você não para de observar toda vez que me vê dos pés a cabeça... – Aquele sussurro foi o suficiente para fazê-la se arrepiar por completo, mas não foi de medo e sim de satisfação. Hiromi fez questão de sair dos seus pensamentos e manter a distância total daquela tentação – Você é bem corajosa, sabe que está enfrentando o maior e mesmo assim persiste. Somente trarei o papel higiênico, algumas roupas e escova de dentes novas, mais nada além disso. – Disse após se levantar e caminhar até a porta.
Hiromi fracassou totalmente, mas serviu para alguma coisa a tentativa.
– Espere um pouco... – Hiromi rapidamente o chamou, fazendo assim o mesmo ficar parado de costas para ela – Você não vai querer saber o tamanho das minhas roupas? – Perguntou.
– Tem uma coisa que você deve aprender sobre mim Yoshida... – Ele se virou para olhá-la – Não preciso saber nada sobre as mulheres e sim elas que precisam saber de mim. – Naquela hora isso a deixou totalmente sem reação.
.... . ....
Ele chegou com as sacolas de compras na mão.
– Tome... – Ele pegou algo em uma sacola plástica e deu para ela – Aqui está a sua escova de dentes.
Ela não disse nada, apenas foi no banheiro e deixou em cima da pia.
– Agora, vamos começar logo esse bendito interrogatório antes que acabe perdendo a minha paciência. – Toshio se sentou.
– Engraçado, pensei que você já havia a perdido faz tempo. – Disse enquanto se senta.
– Para a sua sorte ainda estou calmo. – Depois de escutar isso Hiromi resolveu não dizer mais nada que possa comprometer a sua vida.
– Pode começar. – Disse a Yoshida.
– O que você estava fazendo perto da mansão Sugahara? Era uma investigação sobre o caso? – Perguntou.
– Não era uma investigação, se não teria levado a minha arma, mas fui desprevenida... – Respondeu a Yoshida – Não estava nem se quer com uma roupa apropriada para um combate, na verdade, tinha saído àquela noite apenas para se encontrar com um amigo.
De repente, ele riu.
– O que você está achando graça? – Perguntou arqueando as suas sobrancelhas.
– Nenhuma mulher sai de noite para se encontrar com um amigo vestida daquele jeito e sim no mínimo por causa de um namorado, amante ou ficante. Você com certeza não tem namorado e muito menos amante. – Respondeu ele convicto.
– Como você pode ter tanta certeza assim? – Perguntou a Yoshida o olhando como se ele não soubesse de nada.
– É simples... – Respondeu Toshio com aquele típico sorriso no rosto – Pelo modo como se veste e pela confiança que você tem tanto de si é óbvio que você prefere apenas uma relação passageira do que um compromisso sério e um compromisso sério é a mesma coisa de namoro. Se você não namora não tem como ter amante, porque não tem esposo e para ter um amante você precisa de um esposo, o que não é o seu caso, já que a única coisa que se encaixa em seu perfil é o ficante. Dá para perceber muito bem que você gosta apenas de aproveitar aquele momento e pronto, você não tem ninguém que queira e muito menos que a faça se apegar.
– Você realmente deve ter pego muitas mulheres, as mais variadas possíveis. – Disse intrigada com tudo aquilo.
– Nada disso realmente importa, agora vamos ao que me interessa... – Disse Toshio – Você tinha conseguido descobrir alguma pista sobre a nossa facção? – Perguntou.
– Sim... – Respondeu a rosada – Duas.
– O que você exatamente descobriu?... – Perguntou – Quero que diga sem pular nenhuma parte e mencionando os nomes.
Hiromi contou tudo detalhadamente, mas quando chegou na parte sobre os antigos chefes mortos em um confronto direto ela parou de falar após perceber algo de estranho nele. Seus olhos ardiam de ódio, tanto ódio que ela não sabia explicar.
– Por que parou?! Continue! – Ela se assustou com o seu grito tão agudo e raivoso, mas decidiu obedecê-lo e prosseguiu.
– Fiquei bastante decepcionada. – Disse Hiromi.
– Mas você nem os conhecia... – Disse Toshio agora curioso – Como você pode ficar decepcionada com a morte deles?
– Posso não tê-los conhecido e nem mesmo os visto, mas ainda tenho um coração. Totalmente diferente de você. – Disse de um jeito sério.
Aquilo foi o suficiente para fazê-lo se levantar bruscamente da cama e encará-la com raiva, tanta raiva que ele poderia matá-la ali mesmo. Sua pele está vermelha e seus punhos totalmente cerrados.
– Acabou a nossa interrogação. – Isso foi a única coisa que ele disse.
– Mas nem fiz as minhas perguntas. – Disse a Yoshida após se levantar.
– Foda-se as suas perguntas. – Disse em um tom totalmente ríspido voltando a olhá-la.
– O que foi?! Não aceita a verdade?! – Retrucou totalmente irritada.
– Você não sabe de nada. Só cale essa sua maldita boca! – Gritou Toshio.
...PAFT!...
Naquele momento tanto ela quanto ele arregalaram os olhos pelo contato de sua mão pesada no rosto dela, acertando em cheio aquele belo rosto e que agora está vermelho. Hiromi perdeu o equilíbrio e caiu sobre os colchões.
Ainda com a mão na região do impacto que ela recebeu, Hiromi se virou assustada para ele enquanto o mesmo se manteve parado a observando. A rosada ficou pela primeira vez na vida com vontade de chorar, esse foi o primeiro tapa que recebeu em toda sua vida e nem mesmo a sua tia já a bateu assim. A sensação é completamente horrível. Ela tentou fazer o possível para esconder aquela imensa poça de água que começou a se formar em seus olhos safiras através de seu orgulho, nem mesmo se para isso tivesse que afundar a sua cabeça no travesseiro. Ela decidiu continuar o olhando por mais tempo esperando pelo menos uma desculpa, mas infelizmente isso não passou de uma ilusão. A única coisa que ele fez foi virar-se de costas para ela e começar a ir em direção a porta pronto para deixá-la naquele estado deplorável. Cheia de raiva e ódio misturado Hiromi rapidamente se levantou.
– Você com certeza não tem coração, isso é uma prova!... – O seu grito fez ele parar enquanto ainda está com a mão na maçaneta – Nunca mais encoste essas suas mãos imundas em mim! Nunca! – Nessa hora tudo que ela escutou foi o forte impacto da porta sendo fechada e as trancas.
...No outro dia......
Descobri algo horrível, a água daqui é geladíssima. Não existe resistência nesse fim de mundo. Nessas horas sinto saudades do conforto que tinha no meu apartamento, aquele banheiro maravilhoso com chuveiro e banheira, você pode escolher qualquer um dos dois e regular a água na temperatura desejada, mas aqui não, você só tem uma única opção para tudo.
Estou escutando atrás da porta algumas vozes do lado externo, parece que eles vão fazer algum tipo de trabalho.
– Isso é para agora Toshio? – Perguntou Kentaro.
– Sim... – Respondeu o homem que mais odeio nesse momento – Trate de pegar as caixas fechadas com Koji lá no esconderijo e Mitsuo leve o café da manhã para aquela rabugenta. – Esse desgraçado me chamou de rabugenta?! – Estou indo pra lá, mas depois alimente os cachorros presos e vá acompanhá-los.
– Está bem, deixa comigo. – Disse Mitsuo.
Rapidamente me afastei quando comecei a ouvir os seus passos se aproximando.
– Mitsuo?... – Fingi que não sabia de nada – O que está fazendo aqui?
– Trazendo o seu café da manhã, agora se você reclamar mais de alguma coisa pode ter certeza que farei você comer isso tudo de vez. – Respondeu o moreno.
– Que “gentileza” a sua. – Disse na ironia.
Depois que ele saiu e trancou a porta esperei ficar tudo em silêncio para poder começar a agir. Rapidamente fui ao banheiro e tirei vários pisos que estavam tapando um buraco na parede, provavelmente alguma outra vítima deles devem ter feito esse buraco para fugir e se ele continua aqui até agora é porque ninguém descobriu onde se encontra. Tive muita sorte quando meu pé bateu nessa parede ao lado da pia e senti que havia algo errado por causa do barulho oco, isso só ocorre quando tem algo solto. Sem pensar duas vezes me abaixei e comecei a bater de leve nos pisos até descobrir seu fundo falso e tirá-lo, se encaixa perfeitamente, o problema é que ele está um pouco pequeno para mim e por isso tive que improvisar usando a barra de ferro que encontrei presa ao armário para colocar os cabides com as roupas. Aliás, sobre as roupas, ele realmente acertou todos meus tamanhos e comprou sem precisar utilizar algum sutiã, o que é mais confortável para mim. Além disso, ele escolheu até o tamanho das partes de baixo em vários modelos diferentes, fiquei até impressionada. Admito que ele possui bom gosto, todas as roupas são lindas e fazem bastante o meu estilo.
Me abaixei e passei pelo buraco rastejando. Dessa vez não estou me preocupando com os cachorros porque minha dúvida foi confirmada naquele momento, eles estão presos. Rapidamente me levantei, sacudi as minhas roupas para poder tirar toda a poeira que se encontra em mim, balancei os meus cabelos e comecei a andar pelos corredores escondida, olhando para todos os lados.
– Ótimo, consegui... – Disse após chegar ao quintal – O portão fica logo ali, agora só preciso chegar até ele e escalá-lo para poder pular. – Pensei enquanto ando em sua direção.
De repente sou pega de surpresa quando sinto fortes braços entrelaçando a minha cintura e puxando-me mais para si. Sinto a sua respiração quente em minha orelha.
– Aonde você pensa que vai... Senhorita, Yoshida? – Aquilo foi o suficiente para me fazer reconhecê-lo. Droga, pensei que ele também saiu.
– Só... E-Estou indo dá um passeio. – Disse um pouco nervosa.
– Como você conseguiu sair de lá? – Perguntou em um tom autoritário.
– Pelo banheiro, tem um buraco na parede perto da pia. – Respondi através de um sussurro.
– Venha... – Ele rapidamente me virou e começou a me puxar pelo pulso – Você passou dos limites, tenho que ter mais cuidado com você.
– Aonde você está me levando? Vai me matar? – Perguntei enquanto ele me arrasta.
– É o que deveria fazer, você me tira do sério... – Respondeu parando em frente a uma porta no corredor – Vamos... – Ele abriu a porta e me empurrou para dentro – Fique aqui e não ouse sair, tenho uma visita chegando e se acabar vendo você vou ter que te castigar da minha própria maneira, entendeu?... – Apenas assenti com a cabeça – Que bom, é assim que gosto.
– Espere um pouco... – Ele parou de andar e voltou a olhar-me – Esse é o seu quarto?
– Sim... – Respondeu – E antes que me esqueça, não mecha em nada. – Isso foi o que ele disse antes de sair do quarto.
.... . ....
O quarto é totalmente diferente dos demais, parece ser como o apartamento luxuoso da Yoshida. A cama é de casal e forrada por lençóis de seda brancos, os travesseiros são laranjas, assim como as cobertas que estão dobradas. As paredes são todas revestidas de marfim. O quarto tem um cheiro bom e fresco que se espalha pelo ambiente. O chão é de piso cristalino e possui vasos com flores de íris, rosas, hortênsias, tulipas e cerejeiras na beirada das janelas. Os móveis são todos em estilos medievais, tornando tudo ainda mais interessante e o espelho ocupa praticamente toda a parede, ficando perto do espaçoso guarda-roupa. As cortinas são longas e macias, sendo de babado nas pontas com algumas pedrinhas brilhantes para aderir um certo charme. Tem um tapete de pelo no meio, ar-condicionado, dois ventiladores de teto e um banheiro que ela fez questão de olhá-lo um pouco. O banheiro possui uma banheira mil vezes maior que a do seu apartamento e sua forma é quadricular. O chuveiro e a pia são de mármore, tendo um espelho em cima dele preso a parede com luz LED.
– Tudo aqui é incrível. – Concluiu a rosada, voltando para o quarto.
Ela prestou atenção em um imenso álbum que está sobre uma cômoda, escrito: Recordações.
– Ele disse que não é para mexer em nada, mas vai ser rapidinho... – Disse a rosada enquanto o abre cuidadosamente – Se for rápida ele não irá perceber.
São várias fotos dele junto com um casal muito lindo e por incrível que pareça ele sempre está sorrindo em todas elas, somente em algumas ele mostrou desconforto com tantos abraços apertados. Foi engraçado vê-lo daquela forma tão espontânea e distante do habitual. O homem alto ao seu lado parece bastante com ele, provavelmente devem ser os seus pais. Tem várias fotos com os dois bagunçando os seus cabelos, deu para ver o como eles o amam através daquele simples gesto.
De repente ele entra e Hiromi leva um grande susto, sendo pega com o álbum nas mãos.
– O que você pensa que está fazendo?!... – Ele na mesma hora se alterou – Disse que não é para tocar em nada, será que deveria ter desenhado para você entender melhor?! – Gritou após arrancar bruscamente o álbum de suas mãos.
– Desculpa, não resisti. – Disse a rosada.
– Saia daqui. – Disse em um tom frio.
– O que?... – Perguntou incrédula – Você está me expulsando?
– Sim... – Respondeu não dando à mínima – Te levarei para o cativeiro.
– Mas e o buraco? – Agora ela ficou confusa.
– Vou tapá-lo com cimento. – Disse enquanto abre a porta.
...Depois......
Ele abriu a porta cheia de trancas e logo em seguida entraram no quartinho.
– Toshio... – Ela o chamou e ele a olhou – Você queria sequestrar a Naomi por causa da morte de Tadao e Nozomi, não é?... – Suas pupilas se dilataram aos poucos, ele ficou surpreso – Desde quando entrei aqui pensei que vocês estavam querendo se vingar e não tem porque você sequestrar a filha do policial sem pedir resgate, você quer muito mais que isso.
– Você pensa e fala demais, deveria ficar na sua. – Disse o rapaz.
– Tenho perguntas a fazer. – Disse a Yoshida.
– Já disse que não quero responder nenhuma. – Disse irritado.
– Nós temos um acordo, você pelo menos pode cumprir com o combinado e não fugir. – Disse em um tom sério.
– Não estou fugindo de nada, você que vive querendo se meter nas coisas que não te dizem respeito. Agora, pare de me atormentar. – Suspirou.
– Aquele casal na foto são os seus pais? – Perguntou.
Toshio passou as mãos pelo cabelo tentando manter a calma.
– O que você acha? – Perguntou.
– Que sim. – Respondeu.
– Ótimo, então não faça mais perguntas. – Disse.
Ele foi até o banheiro sem confirmar o que realmente ela quer saber.
– De onde você tirou essa barra de ferro? – Perguntou a pegando.
– No armário. – Respondeu enquanto dá longos passos para trás.
– Se você tirar isso do lugar novamente vou vim cuidar de você pessoalmente te dando uma lição pior que aquele tapa. – Aquilo foi o suficiente para fazer a Yoshida se arrepender.
Dessa forma, ele colocou a barra de ferro no lugar e voltou para o banheiro, começando a tapar o buraco.
– Você irá continuar me olhando até quando? – Perguntou fazendo a Yoshida se assustar com a pergunta.
– Não sei o que você está falando. – Disse.
– Não se faça de desentendida, sei muito bem quando uma mulher está me observando há horas e quase babando em cima. – Ele a olha.
– Você que se acha muito... – Disse Hiromi – Tenho coisas melhores para fazer do que perder o meu precioso tempo te olhando.
Ele riu alto.
– Sabe o que é mais divertido nisso tudo?... – Ele se aproximou dela com um sorriso de canto nos lábios – Ver uma pessoa tentando se enganar e enganar-me. – Sussurrou em seu ouvido com uma voz tão profunda e tentadora que a fez quase não ter forças para separá-lo. É incrível a maneira tão fácil que ele tem de seduzir uma mulher, mas com ela será totalmente diferente, a rosada nunca aceitaria a possibilidade de ser fraca o bastante para deixar-se cair nas suas armadilhas. Durante muitos anos com esse jeito difícil ela sempre resistiu a muitas tentações e não será agora que isso mudará.
– Até quando você pretende continuar me mantendo prisioneira?... – Perguntou à rosada – Já contei tudo para você.
– Você não acha mesmo que te libertarei, não é? Seria muita falta de inteligência minha fazer algo tão mal pensado. – Respondeu.
– Todos vão sentir a minha falta e vão procurar-me, o mínimo que você deve fazer é me soltar. – Retrucou.
– Essa conversa não faz o menor sentido, te soltar para depois sermos presos não é algo que está em meus planos. Pode começar a descartar essa possibilidade, ela nunca acontecerá e você não me fará seguir uma ideia ridícula dessas. Não sou um homem que se deixa cair pelas conversas fiadas das mulheres e muito menos confiar em uma vítima, é a coisa mais absurda que faria. – Após dizer isso ele saiu do quarto e trancou a porta como sempre faz.
– Droga, mas que homem complicado... – Disse a rosada irritada enquanto bagunça os seus cabelos e anda de um lado para o outro – Sinceramente, não sei mais o que fazer, durante todos esses anos até hoje nunca vi um homem que chegue aos seus pés em questão de seriedade, autoridade, desconfiança, autoconfiança, esperteza, força, mistério e resumindo... Tudo! Dessa forma acabarei precisando de uma terapeuta.
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Atualizado até capítulo 31
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