A manhã de domingo não passou, eu praticamente fiquei desmaiada, quando
finalmente eu abri meus olhos e senti o gosto amargo em minha boca, levantei sentindo
minha cabeça pesar uns dez quilos e fui até o banheiro.
— Bom dia, quer dizer, boa tarde sua bêbada.
Ignorei Emma batendo a porta do banheiro, observar meu reflexo foi a pior parte.
Fui até a cozinha ignorando as risadas de minhas amigas, bebi a maior quantidade
de líquido que eu consegui, peguei umas torradas salgadas e forrei meu estômago que
estava enfrentando uma guerra. Voltei ao quarto pegando a toalha e indo retirar de meu
corpo o cheiro da fumaça e da bebida.
Depois do banho, deitei desejando acordar somente no dia seguinte.
A segunda-feira começou cedo, pulei da cama com tanta fome, que mesmo a
etiqueta de Erika em cima de um iogurte natural não me deteve. Sentei em frente ao
computador, para enviar alguns currículos e imprimir outros.
— Já acordou? Eu achei que ia ficar em coma por dias — Emma passou por mim em
direção à cozinha.
— Engraçadinha você, onde está Erika?
— Levantou cedo, disse que tinha muitas coisas a fazer — Emma respondeu,
pegando outro iogurte de Erika — E você, o que fará hoje?
— Vou entregar mais alguns currículos, não vejo a hora de trabalhar de verdade.
— Ok, então boa sorte, eu vou tentar implorar mais cartas de recomendação dos
professores, se eu não conseguir o trabalho que quero, não desejo acabar em um tabloide,
pelo menos, quero uma função de respeito.
Enquanto eu terminava de imprimir os currículos, meu celular tocou. Era de uma
editora pouco conhecida chamada margarida. Marquei a hora da entrevista, desliguei o
telefone, e parei de imprimir mais currículos imediatamente.
Era a minha primeira entrevista de emprego, eu estava radiante de felicidade.
Almoçamos o que tinha na geladeira, isso era, alguns sanduíches. Depois de encontrar a
roupa perfeita, fui em direção à Editora, não era um local grande, mas seria muito
bom se eu entrasse nela. Quando o editor chefe me chamou para entrevista, me espantei.
— Boa tarde, queira sentar-se, senhorita Parker.
— Sim claro, achei que o Recursos Humanos fosse me entrevistar — falei ao me
sentar em sua frente, olhei na placa em cima de sua mesa: “Josh Roger, Editor chefe”.
— Não minha cara, eu mesmo vou fazer isso, gostei muito de seu currículo e
espero que aceite trabalhar conosco, a parte do Recurso Humanos é selecionar, no entanto,
você já foi selecionada.
— Como?
— Seu currículo, eu sei que é seu primeiro emprego e é recém-formada, mas é o
que eu quero, alguém no começo e visionário. Creio que poderá dar ótimas avaliações aos
livros.
A entrevista foi muito boa, e rápida, e eu estava empregada, nem em sonhos
imaginava ser tão fácil.
Voltei ao apartamento, e as meninas encheram-me de perguntas.
Eu só estava feliz, mesmo com a mudança programada, eu estava empregada e
ainda evitaria uma visita à casa de meu pai.
Terça-feira, o dia da formatura chegou, depois de toda a formalidade da
universidade, fomos à última festa da faculdade. Sentiria falta disso tudo, mas a vida
adulta estava finalmente começando.
Chegamos a uma das fraternidades que promoveu a festa, Jackson tirava fotos e
todos estavam bastante felizes, não havia divisões, a despedida unia todos, até os mais
quietos estavam se divertindo. Mike chegou até mim, mas fiz questão de desviar.
— Clara, você arrumou trabalho não foi? Erika me contou.
Jackson chegou ao meu lado, me entregando um copo de cerveja, observei seu
olhar de advertência.
— É arrumei, viu, achei que ia ser difícil e bem no fim, foi muito rápido.
— E eu achei o apartamento, basta você e Emma dizerem se vão morar comigo —
Jackson falou tentando fazer a minha atenção se voltar a ele.
— Por mim está tudo certo, vamos ver com a Emma — respondi, desviando o olhar
de Mike, que logo se afastou.
— Tudo bem. Morar com garotas, vamos ver onde isso vai dar.
Quarta-feira. Esse era o dia do voo de Erika, eu não acreditava que iria me afastar
de uma de minhas amigas.
Chegamos ao aeroporto internacional, o voo dela estava marcado para o meio-dia,
porém às dez horas, já estávamos todos lá para acompanhá-la. Jackson fez questão de
trazer as malas dela no Opala.
— As três loiras loucas nunca mais serão as mesmas sem você — Jack falou
abraçando Erika.
— Seremos somente as duas loiras… Isso não será legal. — disse Emma enquanto
Erika tentava disfarçar um sorriso.
— E você Clar? — Erika chegou a minha frente segurando em minha mão.
— Só estou pensando em quem vai manter meus pés no chão agora — meus olhos
estavam marejados, ela sempre foi a que me mantinha na linha o equilíbrio entre as
minhas loucuras e as inconsequências de Emma.
— Estava pensando justamente nisso — ela respondeu enquanto me abraçava.
— Pode deixar, eu vou cuidar dessas duas — Jack falou.
— Mande um abraço para Jonas — Emma disse.
— Eu mando o seu abraço e ainda de quebra, digo a ele que você sente saudades.
— Quem falou isso? — Emma rebateu.
— Eu sei que você sofreu quando ele foi embora, mas hoje eu entendo meu irmão,
se temos oportunidades temos que aproveitá-las, é isso que estou indo fazer, e digo a
mesma coisa para vocês duas, aproveitem todas as oportunidades que a vida lhes trouxer.
Assim que ela entrou para fazer o check-in, eu sabia que era realidade, éramos
agora as duas loiras e Jackson.
— Vamos meninas, temos uma mudança para fazer, vocês vão amar o novo
apartamento, e seja o que Deus quiser — Jackson falou sorrindo segurando nas mãos de cada uma de nós voltando ao Opala.
Algumas semanas depois.
— Jackson, dá para liberar o banheiro, esqueceu tem só um e tem duas mulheres
para se aprontar para o trabalho!
— Calma Clar, eu já estou saindo! — ele abriu a porta e um vapor saiu de dentro
do banheiro — Se eu soubesse que morar com mulheres fosse tão complicado… — falou
pensativo enquanto saía pisando duro.
— Não reclame, a ideia foi sua de morarmos todos juntos, agora dá licença, senão
vou me atrasar — falei entrando no banheiro.
— Aquela editora gira ao teu redor, nem sei como encontrou um trabalho tão bom!
Isso era verdade, era um céu, eu tinha minha própria sala, não era pressionada, e
nem quando eu chegava atrasada era repreendida. Era o trabalho perfeito.
Assim que entrei em meu escritório e me sentei à mesa, o interfone tocou.
— Parker.
— Pode vir a minha sala? — a voz aguda de Josh me fez praticamente saltar da
minha mesa, era hoje que eu levaria uma bronca pelos meus seguidos atrasos. Caminhei
até a sua sala preocupada.
— Olá, deseja falar comigo?
— Parker sente-se, temos uma coisa importante a tratar.
Sentei-me a sua frente, eu já imaginava o discurso da pontualidade sendo proferido
quando ele me encarou sorrindo.
— Quer uma oportunidade para crescer em sua carreira aqui na editora?
— O que? — perguntei espantada. Ele me pegou de surpresa.
— Foi o que eu disse. Você quer a oportunidade de ouro que eu tenho a lhe
oferecer?
— Depende, do que se trata?
— Bem, o fato é que percebeu que nossa editora é de pequeno porte, vivemos
pelas publicações de livros didáticos e informativos, não somos de uma linhagem que vai
produzir best-sellers, ou até mesmo um autor que será o destaque do ano.
— Sim, eu gosto dessa simplicidade.
— Pois eu não, eu quero ver a editora crescer, expandir, se tornar uma editora
conhecida, porém, todos precisam de um ponta pé inicial.
— Entendo seu ponto de vista, e onde eu me encaixo nisso?
— Vejamos, você não quer somente trabalhar na editoração de material didático o
resto de sua vida, certo?
— Não mesmo.
— Uma autora famosa em escrever biografias de celebridades está nos dando a
oportunidade única, editar uma de suas biografias de uma figura pública em vida.
— Bem, me explique direito, onde eu entro?
— Está na cara, quero que você assuma a edição deste livro, é um marco para sua
carreira!
— Isso é maravilhoso!
— Então, amanhã será a primeira reunião.
— Amanhã?
Estava tudo indo rápido demais, não que eu reclamasse disso, mas o fato de estar
trabalhando somente há algumas semanas, e o máximo que eu fiz na editora foi ler alguns
manuscritos. Era estranho Josh confiar tanto em mim desta forma.
— Sim, amanhã teremos uma reunião com a escritora, lembre-se: é algo muito
importante!
— Tudo bem.
Assim que saí da sala, lembrei de que não perguntei de quem se tratava a tal biografia, mas no dia seguinte seria a reunião, então, nem voltei para perguntar.
Direcionei-me até a sala do café, abri o armário procurei a minha sacola, ainda tinha algumas torradas salgadas, servi um
café e fiquei ali encostada na bancada.
Essa sala ficava ao fundo do grande conglomerado de biombos em que a maioria
dos editores trabalhavam. Por mais que fosse uma editora pequena, a margarida era
responsável pela edição de muitos livros didáticos e apostilas, então, normalmente se
trabalhava muito, porém, eu observei o contraste de minha situação, desde que entrei aqui
eu tive minha própria sala e os trabalhos que me forneciam não eram os mesmos de todos.
O dia passou entediante, quando estava indo embora, passei na banca
de jornal, porque a imagem na revista de negócios exposta ali me
chamou atenção.
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Atualizado até capítulo 125
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