Sua fúria ao telefone, e sua testa vincada o deixavam de aparência mais velha do
que ele realmente era, em um dia comum, eu o confundiria com um dos alunos da
universidade…
Que porra! Ele nada tinha a ver com o garoto irritante que conheci há anos, pele
clara e barba impecavelmente feita seus cabelos de uma cor negra estavam alinhados. Ele
levantou os olhos no instante que eu fazia a minha análise, fornecendo a imagem de um
azul intenso e profundo, ele ergueu seu dedo pedindo um tempo, eu assenti com a cabeça
sem falar nada e sorri, ao perceber que ele se demorou um pouco me analisando, mesmo
ao telefone.
Suas mãos eram jovens, unhas limpas e bem feitas, dedos longos, eu tinha um
fraco por mãos, tentei expulsar as imagens se formando em minha mente lembrando-me
de um episódio de Friends. Coloquei a minha mão em frente a minha boca escondendo
meu sorriso.
— Qual foi a graça senhorita Parker? — a voz dele era aveludada, forte e
destemida, no entanto, com um requinte. Ele guardava seu celular no bolso interno do
paletó.
— Nada de mais — sorri.
— Daniel Walter.
— Clara Parker.
Eu sabia que essa apresentação foi pura formalidade e educação, pois não era
necessária.
— Vejo que seguiu minhas exigências — disse ele.
— Segui, mesmo achando-as exageradas — eu não era conhecida por ser discreta e
nem por refrear minha boca, então, naquele momento, foi um dos que não consegui
refrear.
— Exageradas? Digamos que foram necessárias — ele disse erguendo uma das
sobrancelhas. “Merda, ele era sexy”, ele sorria formando pequenas covinhas, mostrando
seus perfeitos dentes brancos.
— Não preciso lhe falar como deve ser feito seu trabalho, não é mesmo senhorita
Parker?
Ele percebeu a minha falta de decoro em salientar que as exigências dele foram
exageradas e uma pontada de dúvida se eu realmente seria uma companhia discreta essa
noite, passou por seus olhos, mas eu já tinha feito isso muitas vezes, eu sabia ser discreta
quando necessário.
— Não precisa, obrigada — eu pude ter soado meio rude, me arrependi da forma
que meu tom de voz saiu.
— Eu não admito falhas senhorita, todos que trabalham para mim sabem disso —
ele mostrou um tom de arrogância e eu novamente, não segurei minha língua.
— Eu não trabalho para o senhor.
— Senhorita Parker, hoje trabalha — a arrogância e a forma de superioridade
foram notadas e eu me corroí internamente, pensado que esse homem tinha um motivo
para estar sozinho, sendo tão jovem e precisando de acompanhantes.
— Senhor Walter, eu presto um serviço, e garanto que sei fazê-lo muito bem.
— É o que eu espero.
Ficamos calados, um tipo de silêncio irritante até que o carro chegou ao seu
destino, à divisão que separava o motorista de nós, foi abaixada.
— Senhor Walter, próximo à entrada ou no estacionamento?
Recebi um sorriso de deboche e sarcasmo de Walter.
— A senhorita Parker deve estar habituada a andar de saltos, quero evitar câmeras,
pode nos deixar no estacionamento, já falei com Hanks entrarei pela porta lateral.
— Sim senhor.
— Andar? — perguntei.
— Não quero que as câmeras me peguem com alguém que é desconhecida à
sociedade, e assim, boatos surgirem.
Tivemos que andar um pedaço, mas eu não me incomodei. Entramos no local.
Ainda haviam poucas pessoas no salão, uma mesa de pôquer estava montada em um dos
cantos e muitas mesas ao redor e no meio, um espaço para quem quisesse dançar.
Ele soltou meu braço e começou a cumprimentar as pessoas, eu sabia que meu
trabalho era sorrir e cumprimentar somente. Estava sendo fácil com Walter, ele não
deixava que as pessoas conversassem muito ou me dirigissem a palavra, assim, eu não
precisava entrar em detalhes, porém, acho que por sua reputação, as pessoas evitavam
realmente uma conversa mais longa com ele.
Depois de uma infinidade de cumprimentos, Daniel me acompanhou até uma
mesa.
— Senhorita Parker — ele puxou a cadeira como um cavalheiro — Ficaremos
mais um pouco, depois, creio que iremos embora.
— O quê? — ele já iria embora, esse trabalho todo foi somente por alguns minutos
de festa?
— Desculpe se te deixei frustrada — ele disse se sentando à minha frente e
percebendo meu espanto — Não fico muito nas festas, apareço por obrigação somente.
— Então por isso precisa de companhia?
— Necessariamente não, eu geralmente tenho companhia, porém, minha
acompanhante de hoje teve problemas.
— Entendo — ele deveria não ser solteiro e ter algum caso que mantinha às
escondidas. Confesso que essa doeu, mas atiçou meu lado petulante e lembrou-me de
minhas discussões com meu pai, então, me deu mais combustível para rebatê-lo.
— Não costuma interagir muito nas festas, vi que tem uma mesa de jogos logo ali.
— Jogos de Blefe não são meu forte, senhorita Parker.
— Qual seu forte? — coloquei minhas mãos em meu queixo analisando as suas
reações, ele era um homem sem muitas emoções, isso poderia ser útil em uma partida.
— Creio que meus jogos vão além de algumas expectativas.
Mesmo sabendo que estava ultrapassando essa barreira, eu continuei nas
perguntas.
— Que tipo de jogos?
Ele abriu um sorriso largo, e ali, eu vi uma expressão em sua face, deboche.
— Receio que não seria seu tipo de jogo — ele endireitou a postura — Sabe que
esse trabalho não é algo que compete à senhorita, ele exige certo grau de discrição, que é
visível não ter.
— Não almejo mesmo continuar — dei de ombros olhando a pista, muitos casais
dançando, suspirei pensando que era meu último trabalho e que estaria em uma destas
festas reservadas e eu nem iria dançar.
— Bom, creio que é uma escolha sábia a fazer.
— Não quero passar meu tempo servindo de brinquedo de exposição a homens mal
amados, tenho sonhos e planos como qualquer um.
Desta vez ele não me retrucou. Pegou duas taças de champanhe do garçom que
passava e me entregou uma.
— A sua última noite aguentando a enfadonha sociedade cheia de aparências.
Bati minha taça na dele. Olhei ao longe e vi Emma com um senhor, sorri
mentalmente, pelo menos vez eu estava melhor que ela.
Deixei que o tempo rolasse, e eu observava Daniel olhar o salão, depois olhar em
seu celular, muitas vezes seguidas.
— Impaciente?
— No meu ramo, tempo é dinheiro, só o fato de me dar ao luxo de parar em um
evento desses, eu perco de ganhar.
— É sexta à noite Daniel, como pode ser assim? Relaxe!
Ele me encarou espantado, notei que sem querer eu usei seu primeiro nome.
— Senhorita, eu creio que nossa noite esteja se encerrando.
Não dançamos, e Daniel fez como falou, antes mesmo da uma hora, estávamos
indo embora, não tinha o que reclamar, eu realmente achei quase insuportável a
companhia de Daniel Walter.
Assim que o carro parou em frente ao alojamento, ele estendeu a mão em minha
direção.
— Obrigado pela agradável companhia, creio que valeu muito à pena.
Mesmo eu sentindo que não foi uma noite tão produtiva, Walter parecia sincero ao agradecer.
— O prazer foi meu senhor Walter. Aliás, se não se lembra, eu me lembro, natal de
2000, seu pai deu uma festa para os funcionários da madeireira de Hill city você
estava lá.
— Que bom que lembrou, Clara — ele sorriu em minha direção.
James abriu a porta, dei uma última olhada em Daniel, eu talvez não o visse mais,
nem ao menos desejava que isso acontecesse, entretanto, algo me dizia que não seria a
última vez em que eu o veria.
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Atualizado até capítulo 125
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