Ao me virar, vejo Rebeca vindo em minha direção. Ela corre com aquele sorriso largo estampado no rosto, como se a noite tivesse começado só porque me encontrou.
— Oi... o que está fazendo aqui? — pergunto, surpresa.
— Calma! — diz ela, ofegante, encostando-se a uma pilastra. — Deixa eu recuperar o fôlego!
— Não me diga que você... — Tento adivinhar, mas ela me interrompe com os olhos brilhando.
— Vim te buscar pra comemorarmos sua formatura!
— Mas...
— Sem desculpas! A gente não teve chance de celebrar como devia, por causa da sua mudança.
— Você veio com sua moto?
— Vim de táxi. E trouxe um vestidinho preto pra você. Básico, mas arrasador. — Ela me entrega uma sacola com um sorrisinho vitorioso. — Na sacola também tem uma sandália que combina. E antes que você reclame, eu sei seu número.
Ela pensou em tudo. E por mais que eu tentasse resistir, Rebeca sempre sabia como me vencer.
— Você me conhece demais, amiga.
— É por isso que você me ama. — Ela faz uma pose exagerada. Eu reviro os olhos, rindo, já entregue.
— Tá bom... me dá essa sacola. Vou ao banheiro da recepção me trocar e retocar a maquiagem.
— Enquanto isso, vou ver como o Jimmy está.
— Você não vai... chamá-lo, né?
— Claro que não. — Ela pisca. — Hoje é noite das garotas.
Sigo em direção ao banheiro com um sorriso no rosto e uma leveza no peito que eu nem sabia que precisava sentir.
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Rebeca Sanderson
— Oiiii! — abro devagar a porta do escritório de Jimmy, mostrando só o rosto. — Posso?
— Olha só quem apareceu. Achei que tinha esquecido dos velhos amigos.
— Impossível esquecer de você. Mas, na verdade, vim buscar a Sthefany pra uma noite de comemoração.
— Ai... essa doeu. — Ele leva a mão ao peito, fingindo estar magoado.
— Para com o drama, Jimmy! Você sabe que eu te adoro.
— Mas a Sthefany já saiu.
— A gente se encontrou na porta do estúdio.
— E vocês vão pra onde, se é que posso saber?
— Le Bain. Noite de garotas. E antes que pergunte: sim, ela topou.
— Eu bem que queria passar lá, mas tenho trabalho acumulado.
— Fica pra próxima. Mas... me conta: como foi o primeiro dia da Sthefany?
— Você conhece ela. Brilha em tudo o que faz.
— Será que não é você que está vendo com olhos apaixonados?
— Que exagero, Rebeca...
— Acorda, Jimmy. Tá na cara que você é caidinho por ela. — Faço um coração com as mãos, provocando.
— Está viajando...
— Olha, vou te dizer como mulher e amiga: não perde tempo. Se você sente algo por ela, fala. Porque quando perceber... pode ser tarde demais.
— Tá dizendo isso por quê? Ela está com alguém?
— Está vendo como você se entregou agora?
— Não é isso... — Ele baixa o olhar, hesitando.
Nesse momento, Sthefany entra na sala. E Jimmy, por um segundo, congela. O olhar dele se fixa nela como se cada palavra não dita estivesse engasgada.
— Oi, gente. Estavam falando sobre o quê?
— Só disse ao Jimmy que, se a gente não corre atrás do que quer, a vida passa. E a oportunidade... some.
— Concordo. — Ela sorri. — Seja lá qual foi o contexto, ela tem razão. Às vezes, a gente deixa passar coisas que não voltam.
— Ela tem? — Jimmy pergunta, confuso.
— Claro que tem. — Ela o encara. — Se você não se mexer, alguém mais vai. É assim com tudo na vida.
Ele parece engolir seco. O silêncio entre eles carrega mais do que palavras poderiam.
— Vamos, garota! Se demorarmos mais, perdemos a pista! — digo, quebrando o momento e puxando Sthefany pelo braço.
— Até amanhã, Jimmy.
— Boa noite, meninas. Divirtam-se.
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Sthefany Miller
Enquanto Rebeca me puxava porta afora, algo no olhar de Jimmy ficou preso em mim. Como se ele quisesse desesperadamente me dizer algo, mas a voz falhasse.
— Sobre o que estavam conversando? — pergunto assim que entramos no carro.
— Sobre a vida, gata.
— Ele está bem?
— Está, sim. Por quê?
— Não sei... ele parecia estranho.
— Estranho como?
— Como se tivesse algo entalado. Como se quisesse falar... mas não soubesse como.
— Vai ver ele tem mesmo algo pra te contar.
— Rebeca, se você sabe de algo, me fala agora!
— Calma! Não sei de nada. Só estou dizendo que talvez ele ainda não esteja pronto pra se abrir.
— Mas você está suspeitando de quê?
— Ai, garota... chega de teorias. Vamos curtir! — Ela liga o pendrive e a batida de "Irreplaceable", da Beyoncé, preenche o carro.
"You must not know about me,
You must not know about me..."
Cantamos aos gritos, como sempre fazíamos. Era o nosso momento, a nossa cápsula de liberdade entre o passado e o que ainda viria.
— Chegamos! — digo, ao ver a movimentação em frente à boate. — Tá lotado.
— Perfeito! — Ela esfrega as mãos, animada.
— Você sabe quem toca hoje?
— Não faço ideia. Mas hoje é nossa noite.
— Eu trabalho amanhã, lembra?
— E hoje você vive. Relaxa, mulher!
Entramos. O ambiente pulsa. As luzes, o som, os corpos — tudo vibra como se o tempo tivesse deixado de existir.
E então vejo o nome da banda no telão: RedPath.
— Meu Deus... é a banda do seu irmão!
— Jura? Eu nem sabia que eles tocariam aqui hoje!
— Vamos beber algo?
— Claro. O que vai querer?
— Vodka com tônica.
— Perfeito. — Me aproximo do bar. — Me vê uma tônica com vodka e uma cerveja, por favor.
Assim que as bebidas chegam, Rebeca vira a dela de uma vez e já some em direção à pista.
— Você não vem?
— Daqui a pouco.
— Então me encontra lá!
Fico no bar, mexendo distraidamente no copo. O gelo dança no líquido, refletindo as luzes da boate. E então, uma mão quente toca minhas costas.
— Sthefany...
A voz é familiar. Dolorosamente familiar.
Me viro devagar. E lá está ele.
— Rick? — digo num sussurro quase sem ar.
Três anos. Três longos anos. E ainda assim, a visão dele faz meu mundo tremer.
— Não esperava te encontrar aqui. — Ele sorri. Aquele mesmo sorriso que tinha o poder de desmontar tudo em mim.
— Eu... também não.
— Você está... ainda mais linda.
— Obrigada. Você... está bem?
— Melhor agora. Bem melhor do que da última vez que nos vimos.— Ele sorri e tentei não me desfazer em meio ao seu sorriso.
— Conseguiu superar a Micaela? — Questionei tentando parecer desenterrada.
— Na verdade... voltamos. Ela só não veio hoje.
O chão pareceu desaparecer.
— Voltaram? Você... E Micaela voltaram?
— Ela cometeu um erro. Mas eu decidi perdoar. — Rick desliza a mão sobre os cabelos, tentando não parecer um idiota — Ela não é tão ruim quanto parece.
— Hum... E como está o futebol? — Mudo de assunto, não quero parecer impactada demais. — Conseguiu o cargo que tanto queria?
— Ainda não como técnico principal, mas sou assistente. Caminhando.
— Que bom... fico feliz por você.
— E você? Com quem veio?
— Só com a Rebeca. E... não estou namorando.
— Sério?
— Sério. — lhe dou um sorriso amarelo.
— Quer dançar comigo?
Hesito por um instante. Mas não por muito.
— Claro...
E, mesmo sabendo que ele não é mais meu — que talvez nunca tenha sido —, meu coração o aceita. Como sempre aceitou. Porque Rick... sempre foi meu erro favorito.
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Atualizado até capítulo 84
Comments
Joelma Portela
superou a bruxa kkkkk
2022-04-21
1
Samara Reis
o Rick é lindo demais😍😍
2020-10-15
7
Sandra Vieira
já estou amando a história!
2020-08-16
6