Se passara duas semanas desde a proposta de Beatriz, e desde as revelações que me fizera. Não tive coragem em dizer ainda para minha avó sobre Beatriz, tinha um pouco de medo de como ela agiria se eu falasse dela. Rose não mostrou muito o que sentia por aquela mulher. E também eu penso que minha avó não saiba da história da minha suposta mãe e é muito difícil ainda em ver ela como minha mãe, ou acreditar naquela história toda. Afundada em minha cama, novamente. Ficava pensando, em tudo que aconteceu em tão pouco tempo e era muito difícil para processar tudo ainda, pois nossa, meu pai morreu em um terrível acidente que eu poderia ter evitado, minha mãe aparecerá depois de 17 anos e ainda me veio com uma bela história, que meu pai abandonou a faculdade por minha causa e que já desejavam minha morte antes mesmo de eu nascer, e ainda eram os meus avós!
– Por que isso tinha que acontecer comigo, por quê Deus, por quê? - Gritava em meu quarto para mim mesma. Como se uma voz do além iria me dizer o por quê.
– Não fique assim querida...- Praticamente dava um pulo em minha cama, surpresa com a voz, que vinha de trás da porta, e que logo minha avó aparecera, com um semblante triste.
–Oh...vó…- Relaxava agora, sabendo que a voz era da minha vó e não do além. - Você me assustou, mas o que está fazendo aqui? -Voltava a sentar na cama.
– Vim te trazer um pedaço de bolo...você ainda não desceu para comer, então fiquei preocupada. -Minha avó se aproximava, deixando um prato de bolo de chocolate no criado-mudo. Tinha me esquecido de comer, tenho tantas coisas para pensar.
– Obrigada vó...-Pegava o prato, e comia o bolo, com grande satisfação. Ah! Que bolo delicioso!
– Mel queria falar sobre Beatriz, aquela mulher que apareceu no cemitério. - Ficava em estado de choque. O quê? O bolo parecia entalar em minha garganta, fazendo me engasgar. Rose imediatamente veio ao meu socorro, batendo em minhas costas.
O bolo já desentalado, deixando Rose mais tranquila, mas não a mim, ela tinha me pego de surpresa e isso só me deixava em pânico, não esperava a minha avó falar de Beatriz. Rose sentava ao meu lado, pegando a minha mão, e fazia carinhos nela, como que se tivesse querendo me acalmar, mas que surtiu efeito ao contrário, só conseguiu me deixar com mais pânico.
– Querida, eu sei que deve estar estranhando eu vim falar aqui sobre aquela mulher...mas...eu penso que você deva saber a verdade. - Ela me olhava com cautela, querendo ver alguma hesitação em mim. E por fim falava.
– Aquela mulher estava falando a verdade sobre ser sua mãe. Ainda não entendo muito o por que dela ter te deixado, como a seu pai também, ela não explicou muita coisa para mim, mas sei que foi por motivo nobre. Então Mel...- Ela acariciava a minha bochecha carinhosamente, querendo que eu a olhasse.
– Não a odeie, o ódio faz coisas horríveis conosco. - Ela dizia firme, com o olhar de alerta. Mas me surpreendia e a surpreendia quando começava a chorar.
Ela me abraçava enquanto fazia carinhos em minhas costas, me consolando.
–Oh...Mel, não chore, eu sei, você deve estar confusa agora com a revelação, mas...eu precisava contar.-Olhava para minha avó, que parecia que iria chorar comigo, mas sei que estava se segurando, como sempre fizera desde a morte de meu pai. Não aguentava mais esse sofrimento todo, preciso dizer sobre a proposta.
–Vó. Obrigada, por tudo, mas, preciso lhe dizer uma coisa.-Falava insegura, limpando as minhas lágrimas de alívio.
–Sim querida..-Rose falava num tom baixo e solene, ainda parecia me consolar. Eu amo ela e precisava fazer isso.
– Eu sabia que Beatriz era a minha mãe, eu me encontrei com ela a duas semanas atrás.- Parava com cautela, para a minha avó entender com calma. Sabendo que ela estava surpresa, não demorava para prosseguir.- Calma, ela só quis dizer toda a verdade.
–Ah..mas, por quê não me disse antes?
–Estava com medo da sua reação.-Ela ria, mas logo olhava para mim, acariciando o meu rosto.
–Oh querida, parece que somos duas, eu também estava preocupada quando revelasse a verdade. Mas olha só, parece que você já sabia. - Ela sorria e me abraçava, como se fosse para conforta-la também de toda insegurança que ela teve.
–Vó, tem mais uma coisa também..-O pânico me dominava novamente, mas preciso falar para ela.
–O quê querida? - Ela continuava com o abraço.
–Ela quer me conhecer mais, se aproximar mais de mim.
–Ah, mas isso é bom, não? -Ela me olhava, ainda me confortando com a ideia.
–Sim, é, mas...ela quer que eu venha morar com ela, por um ano.- O rosto de Rose mudava de semblante, como se fosse uma mistura de choque, confusão e por fim medo.
–Mel, isso já não posso permitir.-Ela falava num tom de voz duro, como dissesse para mim que a conversa encerrasse por ali.
–Mas...ela vai ainda pagar a minha faculdade Vó, eu sei que não temos dinheiro.
–Nada de mais. Eu volto a trabalhar e tenho alguns investimentos.
–Vó não vou deixar você trabalhar, não é grande coisa vó. Eu estarei aqui todo final de semana, prometo a você! Mas não posso deixar que eu seja um fardo para você vó..não posso fazer isso! Fora que você já sabia que meu sonho era ir para a cidade grande. -Rose parecia querer chorar, mas as lágrimas caíam contra a sua vontade. Ficava imóvel, as lágrimas de Rose me pegava de surpresa.
–Mel, não posso perder você, eu já perdi meu filho, não aguentaria mais outra perda Mel. Não posso deixar você ir. -Com isso ela se levantava e andava para direção a porta, mas antes de fechá-la ela parava e parecia limpar agora as suas lágrimas.
– Não se esqueça de comer seu bolo querida. - E com isso ela ia embora, me deixando confusa.
Estando imóvel em minha cama, não sabendo o que fazer, e menos ainda em que pensar. Ainda chocada com tudo que aconteceu a poucos minutos atrás. Eu estava pronta para tudo, mas não ver minha vó chorar, nunca tinha visto minha avó chorar. Foi algo inesperado.
Sentada em minha cama, ainda olhando para a porta que Rose tinha passado. Esperando que ela a abrisse e dissesse que esta tudo bem, que eu estava simplesmente em um terrível sonho. Instintamente belisco o meu braço, e a dor que sinto diz que é tudo real. Eu deveria estar com ela agora, confortando ela, dizendo que ficarei ao lado dela e que ela nem precisaria trabalhar eu trabalharia e sustentaria nós duas. Mas sei que isso não é possível, nossas condições financeiras não são boas, eu estava fazendo curso e ainda terminando os meus estudos, e sem bolsa para nenhuma faculdade e além das outras despesas que existiam. Estava planejando tudo, sem eu estar aqui, tudo ficaria melhor, as despesas diminuiriam e nada ficaria nas costas da minha avó, trabalharia para pagar os restos das despesas e ainda conseguiria continuar em meu curso, pois sei que Beatriz não iria querer que eu parasse o meu curso, pois pelo que parece, ela se interessa pelos meus estudos. Decido no final, que um bom e longo banho me faria bem.
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Ao sair do banho, com forças renovadas, decido ir falar com minha avó, não posso fugir desse assunto. Deixando de lado meus cabelos ainda úmidos pelo banho, desço as escadas indo para a sala de estar, onde minha avó se acomodava em sua poltrona grande e bege, enquanto parecia perdida em seus pensamentos.
–Vó..? -Digo baixinho, para não assusta-la, enquanto ia me aproximando mais dela.
–Sim..?
–Quero conversar com você.-Digo, enquanto me sentava no sofá que ficava em frente a sua poltrona.
–Mel, já sei o que quer conversar, mas a resposta ainda continua sendo não. -Dizia ela depois de um longo suspiro, enquanto ela me olhava, com os olhos tristes e ainda úmidos pelas suas lágrimas.
–Esta bem..- Desistia, após ver aqueles olhos tristes, meu coração se apertava. Me levantava na poltrona, e me ajoelhava em sua frente, abraçando a sua cintura.
–Vó, só quero o melhor para você, e achei que indo embora tudo ficaria melhor.- Rose agora acariciava os meus cabelos.
–Mel, como acha que seria melhor se você fosse?
–Eu sei que nós não estamos bem financeiramente. E eu não deixo você chorar e sei que isso esta fazendo mal a senhora. E comigo fora tudo ia ser diferente.
–Como iria ser diferente querida? - Ela dizia suavemente, continuando a acariciar os meus cabelos.
– Você finalmente tiraria o seu descanso e não precisaria se preocupar com mais nada. Eu pagaria suas contas e continuaria fazendo o meu curso. E não precisaria se preocupar com a faculdade. Vó, você merece o seu descanso, merece se recuperar de toda tristeza e de todos os problemas. Sei que não está sendo fácil para você, sei que não quer vender esta casa e se mudar por uma pequena. Você morou aqui por quase toda..-Parava, Rose chorava e não sabia o por que direito chorava, mas agora eu sei que posso conforta-la.
Sentava no braço da poltrona, e abraçava Rose, a consolando de toda tristeza e estresse que ela acabara de passar.
–Agora é minha vez de cuidar da senhora..- Dizia baixinho e beijava o topo de sua cabeça. Agora Rose parava de chorar e me olhava, como se estivesse mais aliviada, que tinha tirado o peso que estava em seus ombros.
– Oh...querida, obrigada.-Ela dizia enquanto abria um sorriso. - Mas ainda temos que pensar nisso, tudo bem? - Sorria para ela.
–Tudo bem!- Dizia animada, sei que consegui convencer a minha avó, mas ela ainda estava hesitante com a ideia. E por fim ficamos mais um tempo abraçadas.
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Uma semana se passou desde a conversa que Rose e eu tivemos sobre a proposta. E parecia que a cada a dia ela se convencia e se conformava com a ideia. Pois no nosso último jantar, ela disse que seria bom se aproximar da Beatriz; E até disse como era diferente lá fora, lá na cidade grande. Até eu fiquei animada em conhecer. Estando em meu quarto, e finalmente, sorrindo, me permitindo a sonhar um pouco. Em como seria legal conhecer a cidade grande, eu sonhava em viajar e conhecer todos os países possíveis, e que agora poderia ser realizado o meu sonho.
O celular tocava no criado-mudo, me despertando de meus devaneios. Era Ben. Pegava o celular hesitante. Não sabia se atendia ou não, mas logo, logo, precisava conversar com ele.
–Mel?-Rose falava atrás da porta.
–Sim?- Outra hora.Penso quando desligo o celular.
–Bem..queria falar com você. Acho que precisa da resposta.- Ela aparecia e logo se sentava em minha cama, olhando para mim.
–É..-Falava, tentando conter a animação.
– Bem, a resposta é sim.
–Sério? Sério mesmo vó? - Falava com uma certa surpresa. Não acreditando no que tinha acabado de ouvir.
–É. Mas vamos precisa nos organizar aqui. Pois eu vou cobrar todo final de semana você me visitar. E ainda mais, quero que pelo menos me ligue uma vez por semana. Não estou pedindo muita coisa, mas..- Eu abraçava ela antes que ela terminasse a frase.
–Obrigada Vó! Não se preocupe, agora poderá descansar. Eu cuidarei de você. Você merece. - Eu sorria e olhava para o rosto dela que sorria também.
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Faltava apenas dois dias para ir para casa de Beatriz, olhava para as minhas malas já prontas. Deixando só algumas roupas no armário, pois sabia que voltaria aqui nos finais de semana. Mas ainda sabia que faltava, faltava falar com Ben. Andava de um lado e para o outro em meu quarto, não sabendo como iria fazer. Não podia simplesmente ir na casa dele e falar "Tchau Ben! Vou me mudar da aqui a dois dias! E aquela pessoa que quis me encontrar no Star Coffe era a minha mãe! Que máximo não?'' Suspirava com esse pensamento bizarro e sem coração. Decido finalmente ir e falar com Rose para saber o que eu poderia fazer, quando o celular toca, e vejo o rosto de Ben na tela do meu celular. É agora ou nunca! Pego o meu celular e atendo a chamada de Ben.
–Até que fim!-Dizia Ben que parecia animado.
–Oi para você também.- Dizia, estando nervosa. Precisava dizer a ele.
–Mel, eu sei que tem me evitado todo esse tempo, mas, eu queria você de volta, queria falar com você, confortar você, chorar com você, mas com você me evitando não tem como.
–E-eu sei, mas Ben...-Ele me interrompia.
–Mel, sei que você sabe que eu gosto de você, não escondo isso de ninguém e hoje, desde a muito tempo, tomei coragem para te ligar e finalmente te convidar para sair. Mas não como amigos. Sei que isso é repentino, mas...Mel, quer sair comigo?
Ficava muda no telefone. Surpresa com aquele convite inesperado, sei que era errado o que iria fazer, mas eu precisava dizer para ele.
–Sim..-Dizia baixinho, eu precisava fazer daquele encontro como a nossa despedida. Um suspiro de alívio escutava na linha.
–Legal!-Dava para ver como ele estava animado e ao mesmo tempo incrédulo.-Então, pode ser amanhã a trade?
–Claro!
–Ok! Te pego a manhã as 4. Até!- Ele desligava antes mesmo de me despedir dele.
É....amanhã vai ser um longo dia.
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Rosane
Hahaha Mel é uma personagem engraçada
2021-12-01
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