— Você parece cansada, querida. Por que não lava o cabelo e descansa, esta noite? Eu passo o seu vestido amanhã. Estará pronto, quando você chegar.
— Oh, mamãe que bom! Muito obrigada.
Fui até o banheiro, sentindo-me feliz por ter pais tão maravilhosos. Eu tinha sorte. Agora podia ter um fim de tarde agradável e uma boa noite de sono. Entretanto, um dos comentários de minha mãe continuou em minha cabeça, causando uma certa curiosidade… ou melhor, uma certa apreensão.
Sim, por que deveria ser importante para mim saber se Robert Larkham era casado ou não? Eu estava me tornando possessiva com o paciente, simplesmente porque seus olhos me observavam constantemente e porque sabia que sempre o olhava primeiro.
Achei que era melhor pensar no meu encontro com o doutor Gray, no dia seguinte. Estava certa de que eu era a primeira garota que ele convidava para sair. A maioria teria ficado encantada. Eu também. Ou, pelo menos, devia estar.
Mas ainda continuava me sentindo desanimada, quando mais tarde fui até a sala, onde mamãe tricotava um casaco para mim e papai estava mergulhado em seu livro.
Na manhã seguinte, quando o doutor Gray entrou na enfermaria para uma rápida olhada em um de seus casos, ele me deu um sorriso, ao passar pelo leito onde eu lavava um paciente. Olhei-o, observando o brilho castanho de seu cabelo sob o reflexo de alguns raios de sol. Era muito atraente! Meu orgulho cresceu e um arrepio de antecipação percorreu-me a espinha. Eu estava realmente esperando ansiosa por aquela noite. Fiquei contente em não ter dito a ninguém sobre o nosso encontro. E imaginei novamente por que ele teria me escolhido, entre tantas enfermeiras?
A Irmã veio me perguntar alguma coisa e eu sabia que ela tinha percebido o olhar do doutor Gray. Não consegui deixar de enrubescer, mas ela não fez nenhum comentário. Quando Chris veio me ajudar a erguer um doente, cochichou.
— Nicole, a Irmã não lhe dará um minuto de paz, se achar que ele está interessado em você. Já saíram juntos?
— Não! — Eu respondi, dizendo a verdade. — E você, já saiu com ele?
— Oh, seria adorável! Eu não hesitaria! Ele é muito gentil. Espero que apareça no baile de Páscoa, quando eu estiver de folga!
A Irmã estava voltando.
— Espero que vocês duas saibam que horas são e que o doutor Reith chegará aqui em cinco minutos. — Ela me deu um olhar penetrante e disse: — Enfermeira Page, seu chapéu está amassado e seu cabelo precisa de mais atenção. Cuide disso.
Chris desapareceu rapidamente. Eu peguei o jornal que tinha caído da cama de Robert e fiquei imaginando por que aquela Irmã era tão mal-humorada. Ele falou comigo fingindo uma enorme severidade:
— O que fez de errado, enfermeira? E que importância tem se o seu chapéu está amassado? Parece-me muito atraente, desse jeito — disse Robert Larkham.
Dei-lhe uma olhada:
— Não devia ficar ouvindo os comentários, senhor Larkham.
— Ontem, você me chamou de Robert.
— Oh, bem…
— Acha que pode me ajudar a mudar de posição? Estou todo dolorido, neste inferno.
— Eu provavelmente serei despedida. — Mas passei o braço por baixo dele e arrumei os lençóis. Vi o alívio surgir em seu rosto.
— Obrigado. Você está mesmo com um perfume muito gostoso. Sabe, você me lembra o outono e as rosas do meu bangalô… a chuva caindo na floresta. Eu daria tudo para ver isso outra vez. Parece que estou preso nesta cama faz uma vida inteira.
— Paciência — disse eu alegremente, apesar de suas palavras terem me tocado muito fundo. Queria lhe dizer algo que ajudasse. O sinal da Irmã, parada na porta, olhando o relógio, fez-me voar para a direção oposta a da enfermaria. Depois, lembrei-me de meu chapéu. Arrumei-o e passei uma escova no cabelo. Enquanto fazia isso, pensava em Robert. Pensava nele, que lembrava da sua floresta… por causa do meu perfume, ou do xampu, quem sabe?
Cinco minutos mais tarde eu estava em pé, ao lado de sua cama, observando-o mais de perto do que o habitual. Ou talvez, de um modo diferente. Ele prestava atenção ao doutor McReith. Seu queixo estava tenso, enquanto esperava o diagnóstico do diretor. Observei os olhos dele, enquanto o doutor Gray conversava com o doutor McReith.
De repente, Robert não pôde mais esperar. Falou com firmeza:
— Gostaria de saber a verdade, doutor McReith. Vou ficar curado? E se vou, quanto tempo ainda tenho de ficar aqui? Se não vou, o que vai acontecer?
Ele cruzou os braços. Eu também.
O grande homem sorriu confiante. Senti o coração leve porque estava dividindo aquela notícia com Robert.
— Pode sair do gesso hoje, senhor Larkham. Mas preciso avisá-lo de que ainda vai levar algum tempo antes que possa montar ou exercer muitas atividades. É um processo lento.
— Obrigado, doutor. — O sorriso agradecido de Robert fez surgir outro no rosto do cirurgião. Foi só.
— O doutor Gray vai ajudá-lo de agora em diante. Mas terá de ficar em pé e andar, antes que possamos lhe dar alta.
Fomos até o leito do paciente seguinte, mas para mim era como se meu coração, de repente, se enchesse de rosas, margaridas, tulipas, como se toda a enfermaria ficasse florida. Era sempre assim, naturalmente. Os pacientes vinham ao hospital para ser consertados. Depois voltavam às suas vidas. Mas deixavam atrás de si aquele brilho que nos enchia de contentamento e nos dava forças para começar tudo outra vez, com o novo ocupante do leito. A Irmã me chamou depois que eles saíram.
— Enfermeira, abaixe a cama do senhor Larkham, tire-o do gesso e da tração — falou depressa. — Pode fazer isso sozinha? Quero que a enfermeira Denham me ajude no balcão de remédios.
— Naturalmente que posso, Irmã.
Se eu queria ajuda? Claro que não. Estava gostando daquilo. Estava adorando ter de voltar ao leito de Robert.
— Boas notícias, hein? — Falei, tirando seu cobertor e começando as minhas tarefas. Estava tão contente quanto ele.
— As melhores! — Ele sorriu, enquanto olhava para suas próprias pernas. — O que aconteceu com elas? Elas não vão conseguir me sustentar. Como vou puxar os cavalos? Até mesmo meu filho tem tornozelos melhores do que estes.
— Você… tem um filho? — Por que eu sentira um golpe diante das palavras dele? Eu não tinha pensado em Robert como pai, acho. Para disfarçar meu choque, continuei, em tom de brincadeira.
— Oh, céus... Nós não sabíamos que você era casado. E ficamos todas pensando no simpático novo solteiro da enfermaria. Isto é, o segundo mais simpático, depois do motoqueiro que está ali.
Eu estava falando só por falar. Sabia disso. Ele me pareceu solitário, sem nunca falar da família. Assim, concluímos que não tinha nenhuma.
— Jamie tem sete anos. — Ele sorriu, feliz. — Vai ser bom ver aquele sujeitinho outra vez. Ele deve estar com saudades.
— Naturalmente que está. E hoje é dia de visitas, portanto vai poder dar as boas notícias a sua esposa, também.
— Não — disse baixinho. — Lamento que não. Ela morreu logo depois que Jamie nasceu.
— Oh! Sinto muito… — a consternação deve ter aparecido em meu rosto — não tinha a menor idéia…
— E como poderia ter? Foi há sete anos.
— Você mora sozinho? Quem cuida de Jamie? E quem cuidará de você, quando voltar para casa? — Eu tinha terminado de abaixar sua cama e estava com os braços cheios de aparelhos que tirara dele.
— Minha irmã veio morar no bangalô. Foi uma sorte para nós que ela tivesse acabado de sair da escola e estivesse esperando um emprego. Leciona na escola do vilarejo. Assim, tudo deu certo para Jamie e para mim. E não posso mais ter problemas. O tempo é precioso, e preciso ganhar a vida. Além disso, o campo é minha vida. Não posso viver em nenhum outro lugar. Você vê porque estou preocupado, enfermeira? Ei, o que vai fazer com isso?
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Comments
Amanda
Quantas perguntas hein 🤭🤭🤭🤭
2023-07-25
4
Alice Brito
acho que a enfermeira Page está gostando do paciente bonitão.
2023-07-20
0