(Ponto de vista de Dante)
Não era a primeira vez que eu descia à cozinha no meio da madrugada.
Era o único lugar da casa onde o silêncio me deixava pensar.
Mas, naquela noite, eu não queria pensar.
Eu só queria não sentir.
Desde que Bianca voltara, eu vinha me escondendo atrás do trabalho. Reuniões que podiam esperar, relatórios que eu já havia lido duas vezes, horas a mais no escritório só pra evitar o inevitável: olhar pra ela.
E ainda assim, lá estava eu, sozinho, com uma xícara de café frio nas mãos e a mente cheia dela.
O som dos passos veio suave, quase imperceptível, mas bastou.
Meu corpo reconheceu antes mesmo que eu virasse.
E então, a voz — doce, atrevida, familiar demais.
— Marido…
Demorei alguns segundos pra reagir. Quando me virei, ela estava ali — parada à porta, envolta em seda branca, o cabelo longo solto caindo pelos ombros.
Por um instante, pensei que fosse uma miragem.
Bianca.
Não a menina de antes — a mulher que o tempo havia transformado.
O robe leve não conseguia enconder o corpo que o tempo levou cinco anos para esculpir o olhar firme, a mesma doçura disfarçada em coragem. Ela está aqui na minha frente linda… e perigosa.
E o pior de tudo é que, mesmo depois de cinco anos, bastou um olhar para que eu me perdesse de novo.
Seguimos com uma conversa que parecia fria mais em mim a voz de queimava.
Ela estava mais madura. Mais dona de si.
Mais mulher. Ela sorriu — aquele mesmo sorriso pequeno e cheio de luz.
— — Você cresceu, Bianca. Está mais alta.
— E você continua o mesmo. Só um pouco mais cansado.
Sim. Cansado de fugir.
Cansado de tentar fingir que não me importo.
O silêncio se alongou, denso, quase confortável.
Mas então, ela falou — e cada palavra foi um golpe preciso.
— Trabalhar é a sua maneira de me evitar, não é?
Eu devia negar. Devia dizer qualquer coisa. Mas o olhar dela me calou.
Porque era verdade.
Ela me viu. Viu através de todas as minhas desculpas, como sempre fez.
E por um instante, o ar pareceu faltar.
— Não estou aqui pra te atrapalhar — disse ela. — Só queria ver o homem com quem me casei.
Ela deu alguns passos tímidos em minha direção e fixei meu olhar nela pois precisava ficar firme. E derrepente mais perto e perto... não consegui me mover só aceitei o abraço dela. Minha respiração pesada mais ainda sim pude sentir o cheiro dos seus cabelos. Feiche meus olhos para que podesse me aprofundar naquele cheiro.
— Senti saudades. Quando ela disse isso eu desejei confessar o mesmo mais a minha covardia não me deixa, quando aos poucos fui levantando meus braços para retribuir o abraço ela se afastou.
Ela virou e saiu, e eu quase pedi que ficasse.
Mas a voz não veio.
Ela parou à porta, olhou por cima do ombro e sussurrou:
— Boa noite, marido.
Eu fechei os olhos.
— Boa noite, Bianca.
O som dos passos dela sumiu no corredor, e fiquei ali, imóvel, com o gosto amargo do café e o doce da saudade queimando no peito.
Porque, por mais que eu quisesse negar, ela ainda era o meu ponto fraco.
E talvez sempre fosse.
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Atualizado até capítulo 37
Comments
Maria Luísa de Almeida franca Almeida franca
só quero ver quando ela descobrir que ele tem uma amante
2025-11-08
0
Lionete Marques
estou gostando da história
2025-11-07
0