(Ponto de vista de Dante)
Meu nome é Dante Moretti, e tenho trinta e quatro anos.
Sou CEO de uma das maiores construtoras da Europa, herança de uma parceria que começou muito antes de eu nascer — entre meu pai, Vittorio Moretti, e o homem que se tornou meu padrinho e quase um segundo pai, Lorenzo Vitali.
A vida me ensinou cedo que o sucesso exige sacrifícios.
Trabalho, estratégia, frieza.
Três palavras que moldaram quem eu sou — ou quem aprendi a ser.
Mas nenhuma delas me preparou para o dia em que Lorenzo me chamou ao hospital, o rosto pálido, os olhos serenos, e me pediu algo impossível.
— Dante… quero que prometa que cuidará de Bianca.
Na época, ela tinha dezesseis anos. Uma menina doce, ingênua e completamente alheia ao peso daquele pedido.
Eu tentei recusar. Disse que aquilo era uma loucura, que havia outras formas de protegê-la, mas Lorenzo não me ouviu.
Sabia que não tinha tempo, e me olhou com a mesma firmeza que sempre usava quando queria que eu dissesse “sim”.
— Preciso ter certeza de que ela estará segura… e de que tudo o que construí permanecerá nas mãos certas. Se ela ficar sozinha terá que ir para um orfanato ou algo parecido, tudo que construi cairá nas mãos daqueles tubarões devoradores. Dante você não pode deixa isso acontecer.
E assim, entre papéis, lágrimas e promessas, e os papéis de autorização do meu padrinho para que ela podesse se casar pois era de menor, aceitei.
Aceitei me casar com uma menina que eu vi crescer.
A cerimônia foi silenciosa.
Sem flores, sem convidados, sem sorrisos.
Apenas duas assinaturas e o som frio da caneta riscando o papel.
Eu me convenci de que estava fazendo o certo.
De que era apenas um ato de lealdade, um acordo para proteger o legado de Lorenzo e garantir o futuro de Bianca.
Mas, no fundo, sabia que o problema não era a promessa — e sim o que ela despertava em mim.
Lembro-me de Bianca criança, correndo pela casa, espalhando brinquedos pelo escritório e interrompendo reuniões com seus risos.
Lembro das vezes em que aparecia nas festas de família e implicava com minhas namoradas, me lançando olhares desafiadores, como se fosse dona de mim.
Eu ria disso. Até o dia em que deixei de achar graça.
Não sei quando exatamente deixei de vê-la como a menina de tranças que roubava meus chocolates.
Talvez tenha sido quando a vi pela primeira vez usando um vestido longo e saltos alto, percebi que ela já não era mais uma criança.
Ou quando notei o modo como ela me olhava — não como a uma figura distante, mas como a um homem.
O fato é que, desde aquele momento, tudo em mim quis esquecer o que sentia.
A distância parecia a única solução.
Então, quando ela completou dezesseis anos, e o mundo se tornou pequeno demais para esconder o que eu temia, encontrei uma saída.
Enviei Bianca para o exterior, sob o pretexto de estudar, construir uma carreira, crescer.
Mas, na verdade, eu precisava que ela estivesse longe de mim.
Longe do homem que eu poderia me tornar se a deixasse ficar.
Havia uma cláusula na promessa que fiz a Lorenzo — uma que nunca deixei de carregar como um fardo:
Quando Bianca se tornasse maior de idade e encontrasse alguém que a amasse, eu deveria deixá-la ir. — não sei se serei capaz de cumprir essa cláusula.
E agora… ela está voltando.
Formada, adulta, independente.
A menina que antes era apenas um dever agora é uma lembrança viva do que lutei tanto para esquecer.
Eu deveria estar satisfeito. Ela cumpriu o que prometi a Lorenzo — cresceu, estudou, se tornou forte.
Mas há algo em mim que teme esse reencontro.
E se eu ceder…
Se eu permitir que esses sentimentos antigos despertem, estarei traindo tudo o que jurei proteger.
O nome, a memória do meu padrinho… e talvez, a mim mesmo.
Não.
Eu não posso deixar isso acontecer.
— Senhor Moretti — a voz de Carlo sue assistente rompeu o silêncio, cautelosa. — A senhora Bianca já chegou. Está instalada na villa.
Meu punho se fechou sobre a caneta.
— Muito bem. Diga à governanta que providencie o que for necessário. — Fiz uma pausa curta. — E que me mantenha informado, caso precise de algo.
— Devo avisá-la que o senhor deseja vê-la mais tarde?
— Não. — A palavra saiu seca. — Isso não será necessário.
Quando ele saiu, o silêncio voltou a tomar conta da sala, mas dessa vez parecia diferente. Mais denso.
Cinco anos.
Cinco anos lutei contra mim mesmo tentando me convencer de que Bianca era apenas uma responsabilidade herdada junto com uma fortuna.
A menina de cabelos escuros que insistia em se sentar ao meu lado durante os jantares, que me olhava com aquele brilho curioso, como se eu fosse o centro do universo.
Lembro do dia em que meu padrinho me pediu para cuidar dela — a voz fraca, o olhar implorando: “Prometa que não a deixará desamparada, Dante.”
Eu prometi. E cumpri.
Mas ninguém me avisou que cuidar dela significaria lutar contra mim mesmo.
Fechei os olhos por um instante, apoiando as mãos na mesa. É mais fácil pensar nela como uma responsabilidade do que admitir o que realmente sentia ou..."sinto"
E eu jamais permitirei que esse sentimento cresça dentro de mim de novo.
Abri os olhos e caminhei até a janela. Lá fora, as colinas da Toscana se estendiam sob o sol da tarde, douradas, serenas — o oposto de tudo que eu sentia.
A villa aparecia à distância, o telhado avermelhado entre os ciprestes.
Lá dentro, Bianca estava de volta.
Eu podia negar mil vezes, mas sabia o que aquela presença despertava em mim.
O amor que nunca devia ter nascido.
E que, agora, ameaçava renascer.
— Ela é só uma menina Dante — murmurei, como se dizer isso em voz alta pudesse tornar real. — Só uma menina. Seu dever é protegê-la nada mais.
Mas o eco da minha própria voz não me convenceu.
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Atualizado até capítulo 37
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