Ana desceu as escadas do prédio com o coração acelerado e a mente fervendo de indignação. Maria Alice vinha logo atrás, equilibrando a bolsa e o copo de café com a elegância desajeitada de quem estava mais interessada em fofocar do que em andar.
— E aí? — perguntou, já com um sorrisinho curioso.
— Como foi a entrevista?
— Foi… uma aula de paciência. — Ana respondeu, secamente. — O seu chefe é um arrogante de primeira classe.
— O meu chefe? — Maria ergueu as sobrancelhas, quase tropeçando. — Sebastian Alencar? Arrogante? Você tem certeza de que entramos no mesmo andar?
— Absoluta. — Ana cruzou os braços. — Ele me tratou como se eu fosse uma intrusa no castelo dele. Um rei sem coroa, mas com ego de mármore.
— Nossa… — Maria coçou a cabeça, intrigada. — Ele é exigente, sim, mas sempre foi justo. Nunca o vi tratar mal alguém. Nem o estagiário que confundiu o toner da impressora com achocolatado!
Ana bufou, indignada. — Pois hoje ele resolveu fazer um teste de resistência psicológica. Falou do meu sobrenome como se fosse um pecado mortal. Me olhou como se eu tivesse ido lá brincar com ele ou sei lá… afrontá-lo acho que é a palavra.
— Hm. — Maria estreitou os olhos, avaliando. — Então talvez ele tenha te confundido com alguém. Ou não estava em um dia bom.
— Ah, claro — ironizou Ana. — Deve ter confundido com outra candidata chamada Ana Laura Maciel, loira, olhos azuis e com a mesma cara de quem acordou às cinco da manhã para não se atrasar. Super provável.
Maria riu, mas o riso logo se transformou em reflexão.
Sebastian nunca tratou ninguém daquele jeito. Havia algo estranho, uma faísca invisível entre os dois — algo que, se fosse um fio elétrico, já teria causado um curto-circuito.
Ana continuou, ainda fervendo. — Mas quer saber? Eu vou mostrar para ele. Vou trabalhar direito, fazer tudo o que for preciso e, quando ele perceber, vai engolir cada palavra que usou para me diminuir.
— Ih, o discurso da vingança de classe já começou — brincou Maria. — Só cuidado para não se apaixonar no meio do caminho.
— Apaixonar? Por ele? — Ana riu alto, o som carregado de ironia. — Por favor. Eu prefiro me apaixonar por um galho seco, pelo menos não fala.
— Tudo bem, guerreira — respondeu Maria, levantando as mãos. — Mas se o “galho seco” tiver um terno italiano e aquele perfume amadeirado e a covinha fofa no queixo, é melhor não subestimar.
As duas riram, mas no fundo, Maria ficou pensativa. Conhecia Sebastian havia cinco anos. Sabia quando ele estava irritado — e quando estava mexido.
E aquele olhar que ele deu para Ana… não era de irritação. Era outra coisa.
Ana foi embora e Maria voltou para o escritório para trabalhar.
Mais tarde, Sebastian estava em sua cobertura, segurava uma taça de vinho e olhava pela janela. A cidade se iluminava devagar, um mar de luzes pequenas que pareciam refletir o turbilhão em sua cabeça.
Desde a entrevista, algo o incomodava. Ele tentava focar nos relatórios, nos contratos, em qualquer coisa que não tivesse olhos azuis ou respostas afiadas.
Mas, quanto mais tentava esquecer, mais lembrava do jeito que ela o olhou: desafiadora, firme, sem o mínimo traço de submissão.
“Ela sabia quem eu era”, pensou, dando um gole no vinho. “Tinha que saber. Ninguém reage assim por acaso.”
A mente voltava, teimosa, para o dia em que ouviu o nome dela pela primeira vez — Ana Laura Maciel.
A mesma que, dois dias antes, havia recusado seu pedido de casamento arranjado. A mesma que deveria estar fugindo dele, não batendo na porta do seu escritório.
— Está me testando — murmurou, girando o líquido na taça. — Quer brincar de provocação.
Um sorriso torto lhe escapou.
Eu posso jogar esse jogo. Melhor que ninguém.
Mas havia algo errado com aquela explicação — e ele sabia.
Porque, se ela estava apenas provocando, porque parecia tão genuinamente… indignada?
E por que, ao invés de ódio, o que ele sentia era uma vontade absurda de ver até onde ela aguentava?
Sebastian passou a mão pelos cabelos, frustrado. “Não é atração”, disse a si mesmo pela décima vez.
Não podia ser.
Era orgulho. Curiosidade.
Talvez pura vingança.
Mas a imagem dela, saindo do escritório com aquele olhar altivo, se infiltrou em seus pensamentos como perfume que não se dispersa. Deu um sorriso sarcástico e pensou.
"Pai, não precisei ir atrás de minha querida esposa, ela veio até mim, agora só preciso descobrir o que ela quer com essa farsa."
Ana, por sua vez, passou o resto do dia tentando se esquecer do jeito arrogante do seu patrão. Quando chegou em casa, jogou os sapatos no canto e suspirou.
O espelho a encarava, e ela respondeu com um olhar cansado:
— É, Ana Laura, parabéns. Você arrumou emprego e um inimigo no mesmo dia.
Deitou no sofá, os pensamentos rodando como roupa na máquina.
Ele era irritante, provocador, arrogante — e ainda assim, o rosto dele não saía da cabeça.
Droga.
Tentou racionalizar.
“É só raiva”, pensou. “Raiva da forma como ele falou comigo. Raiva da forma como me fez sentir pequena.”
Mas no fundo, sabia que não era só isso.
Havia algo perigoso naquele olhar dele.
Algo que fazia o estômago dela revirar, não de medo — de expectativa.
A noite quando Maria chegou, Ana não conseguiu falar em outra coisa, foram dormir com Ana sem entender porque ele a tratou com tanta má vontade.
Acordou mais tarde da noite e ainda irritada. Pegou o celular e mandou mensagem para Maria:
ANA: Maria, seu chefe é insuportável.
MARIA: Você ainda tá pensando nele?
ANA: Só pra deixar claro o quanto o detesto.
MARIA: Claro, claro. Detesta tanto que está digitando sobre ele às dez da noite. E você sabe que estamos no mesmo cômodo?
Ana levantou a cabeça e deu um tchau para Maria que estava na cama logo ao lado.
ANA: Boa noite, Maria.
Ana colocou o celular ao lado e cobriu o rosto com o travesseiro, rindo de nervoso.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, Sebastian girava a caneta entre os dedos, lendo o nome dela repetido em letras finas no formulário de admissão.
Ana Laura Maciel.
Aquela assinatura parecia zombar dele.
— Segunda-feira — murmurou, quase sorrindo. — Vamos ver quem brinca com quem, senhorita Maciel.
Mas o sorriso durou pouco.
Havia algo dentro dele que o incomodava, algo que não sabia nomear. Uma parte que não queria humilhar, queria entender.
E outra, mais sombria, que queria provocá-la até ver o quanto aguentava.
Por um instante, encostou-se na cadeira e fechou os olhos.
E lá estava ela — nítida, desafiadora, linda.
— Não — disse em voz baixa. — Não é atração. É curiosidade.
Mas a voz interior riu.
“Claro, Sebastian. Curiosidade com cheiro de jasmim e olhos azuis. Muito convincente e só para deixar a equação mais complicada sua esposa.”
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Dulce Gama
vamos vê até onde a curiosidade dele vai parar porque ele não conhece ele agora ele conhece ela KKK 🌟🌟🌟🌟🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁❤️❤️❤️❤️❤️👍👍👍👍👍
2025-10-29
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