Dois anos. Dois anos vivendo em uma prisão dourada que me roubou tudo. Cada momento da minha vida perdido, meus pais e irmãos não me viam mais, para eles eu era uma administradora ocupada, tudo controlado: horário para comer, horário para dormir, quartos separados. E, muitas vezes, usada de uma forma que ainda dói só de lembrar, inclusive na frente de outros homens. Luigi… ele vivia rodeado de homens estranhos em casa, traindo-me com mulheres mais fúteis e insuportáveis, esfregando na minha cara amantes deploráveis, mais do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar. Algumas até dormiam ali, no meu lugar, como se eu fosse invisível.
Pedi, implorei por um divórcio. Cada súplica dele era recebida com um riso frio, uma satisfação doentia em me ver impotente. Eu me afundava, dia após dia, entre o medo e a raiva que queimava dentro de mim.
E então, na escuridão da noite, restou somente a minha chance. O plano que eu vinha elaborando em silêncio: uma peruca ruiva, o sonífero que deixaria o segurança cochilando, os empregados e Luigi com sua amante, a coragem que crescia com cada passo que eu me aproximava da liberdade.
Quando funcionou chegou a parte mais dificil, roupa curta, peruca, sotaque, mas daria certo, era isso ou tirar minha vida, já não aguentava mais.
O portão surgiu à minha frente. Seguranças em cada lado. Meu coração batia tão alto que achei que iriam ouvir. Forcei o sotaque russo que aprendi assistindo vídeos escondida, minha voz trêmula tentando parecer firme. Cada palavra era um risco, cada movimento podia ser meu fim.
E então… consegui. Passei pelos portões, sentindo o ar frio da noite bater no meu rosto como se fosse uma promessa. Correndo, sem olhar para trás, deixando ali não apenas a casa, mas dois anos de medo, humilhação e prisão. Finalmente, eu estava livre.
Sabia que o veículo tinha rastreador. Cada quilômetro que eu percorria podia ser rastreado, então precisei pensar rápido. Entrei em uma rua mais simples, deserta, desviando de qualquer movimento suspeito, até encontrar um orelhão enferrujado encostado na calçada.
Ia ligar para meus pais no interior, mas a realidade me bateu na cara: eles não poderiam me ajudar. Minha liberdade estava nas minhas mãos, e a sensação de solidão era sufocante.
Enquanto me afastava do telefone, ouvi risadas grotescas ecoando da esquina. Dois, ou três homens, bêbados, cambaleando em minha direção, olhos brilhando de malícia. Tentei ignorar, acelerar o passo, mas um deles estendeu a mão, e senti o toque frio da ameaça.
Meu coração disparou. Sabia que qualquer erro podia ser fatal, fui levada para um beco, temendo o fim apavorante e o toque sujo. E então, do nada, ele apareceu. Um homem grande, ágil, com olhos que não mostravam medo. Derrubou o primeiro com um golpe preciso, parou o segundo com um empurrão que quase o jogou no meio-fio, e segurou com força suficiente para impedi-lo de se aproximar de mim.
— Saiam daqui — disse ele, voz firme, sem pedir, apenas comandando.
Os bêbados que antes riram, agora corriam ainda cambaleando, mas o olhar dele era diferente. Não havia brincadeira, apenas ameaça silenciosa. Um por um, recuaram, sumindo na noite.
Respirei fundo, tentando recuperar o controle do meu corpo trêmulo. Ele me olhou, avaliando, sem se aproximar demais.
— Está bem agora? — disse, e algo na firmeza da sua voz me deu a sensação de que, pela primeira vez em muito tempo, eu poderia realmente respirar.
Alguns minutos se passaram em silêncio. Meu coração ainda batia descompassado, minhas mãos tremiam. Ele permaneceu imóvel, observando, e então começou a se afastar, cada passo aumentando o vazio que eu sentia.
— Por favor… não vá — implorei, minha voz quebrando, quase um sussurro de desespero. — preciso de ajuda.
Ele parou, se virou de leve, com aquele olhar que parecia medir cada fragmento da minha alma.
— Não posso ajudá-la — disse, firme, quase cruel na honestidade. — quer ligar para alguém? Ou dinheiro?
Meu choro explodiu então, intenso, desesperador, um grito de quem esteve presa por anos e viu sua liberdade escapando por segundos.
— Mas você já ajudou! — consegui balbuciar, entre soluços. — Já fez mais do que qualquer um, não me deixe agora, suplico que me ajude, só a sair daqui, não tenho ninguém, vai me deixar aqui para morrer?
Algo mudou nele. Lentamente, tirou o casaco do ombro, sem dizer uma palavra. Colocou-o sobre meus ombros, cobrindo a roupa rasgada, o meu corpo ainda trêmulo, e me olhou com aquela intensidade que fazia meu coração bater mais rápido.
— Vamos — disse, e pela primeira vez senti que não era apenas proteção física. Havia força, mas também… presença, algo quase assustador na forma como se aproximava do meu medo.
Caminhamos juntos até um carro. Meu corpo relaxava por um lado, aliviado por estar protegida, mas, por outro lado, cada gesto, cada olhar daquele homem intenso me deixava assustada, fascinada e vulnerável ao mesmo tempo. Eu sabia que não havia volta, ele havia entrado na minha vida de forma avassaladora, e agora eu estava à mercê de sua intensidade.
— Obrigado, só me ajude a chegar ao interior, droga, ele vai ir atrás deles, não posso ir para lá. — falei mais para mim, do que para ele.
— Sumir é a melhor forma de se proteger quem ama, quer salvar os seus? Não vá para casa, aliás, morrer é a saída, nem que seja morrer só para o mundo. — ele respondeu de forma intensa e começou a dirigir, me perguntei quem era aquele homem, tão forte e vulnerável ao mesmo tempo.
— Você não sabe o que vivi, não pode me dizer para morrer, como ficariam meus familiares?
— Não sei da sua história, e nem quero saber, mas se está fugindo, se quer salvar alguém, não vá para o mesmo lugar que ele. — aquele homem respondeu tenso, sério, com olhos tão claros, mas tão intensos e devastados que me faziam querer chorar.
— E para onde vou? — perguntei.
— Isso não é problema meu, vou te deixar perto da rodoviária, pega um ônibus e vai. — ele respondeu sem parecer ter sentimento, mas entendo... Isso não é problema dele.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Irene Saez Lage
Bom até então não sabemos o vai acontecer não é problema dele já fez muito em ajudar ela deixa acontecer alguma coisa pra ver como fica o decorrer de tudo né
2025-10-25
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Elenir Lima
O quê mudará na atitude dele ? sera que ele vai mudar de ideia e ajudar o simplicidade abandonar e virar as costas 😢
2025-10-25
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Andrea Freire
Tomara que apareça a foto dela, como apareceu a dele
2025-10-31
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