Dias depois, após se reabastecer e desaparecer na anônima imensidão da capital estadual, Jared Cortez já estava de volta à sua verdadeira caçada. A missão.
A selva que ele agora desbravava era diferente. Mais antiga, mais densa e mais vertical. Ele havia deixado as planícies alagadas para trás e adentrado uma região de serras baixas e planaltos, a centenas de quilômetros de qualquer vestígio de civilização moderna. O ar era mais rarefeito, a vegetação, mais hostil, e o silêncio, mais profundo.
Por uma semana, ele se moveu por aquele terreno implacável. A jornada era um testemunho silencioso de sua disciplina e perícia sobre-humanas. Sua sobrevivência era um balé de eficiência brutal. Ele caçava com uma zarabatana silenciosa, um método que não deixava rastros sonoros. Abatia pequenos animais apenas para o sustento necessário. Identificava plantas comestíveis e medicinais com um conhecimento que parecia ancestral, um legado sussurrado em seu sangue. Purificava água usando um filtro compacto e moderno, uma concessão à tecnologia que ele só se permitia quando a eficiência superava o instinto.
No quarto dia, ele enfrentou o Rio da Fúria, um trecho de águas turbulentas que nenhum barco ousaria cruzar. Ele não construiu uma jangada; a correnteza a faria em pedaços. Em vez disso, passou horas observando, mapeando as pedras submersas e a força da água. Ele prendeu sua mochila firmemente às costas, envolveu seus equipamentos essenciais em bolsas estanques e mergulhou. A água gelada o atingiu como um soco, a correnteza tentando arrancá-lo de seu curso. Mas ele não lutou contra ela. Ele usou a força do rio, movendo-se em ângulos precisos, de uma rocha para outra, usando a energia da água para impulsioná-lo em vez de arrastá-lo. Foi um exercício exaustivo de força e inteligência, e quando ele finalmente alcançou a outra margem, tremendo de frio e exaustão, ele apenas se permitiu trinta segundos de descanso antes de seguir em frente.
No oitavo dia de sua expedição solitária, ele soube que estava perto. A topografia mudara sutilmente, como se a própria terra estivesse guardando um segredo. As colinas formavam um vale escondido, um anfiteatro natural protegido por paredões de pedra por quase todos os lados. A flora também era diferente, com espécies de árvores e flores que ele não via em nenhum outro lugar. Era um bolsão de tempo, um mundo dentro de um mundo.
Seguindo o curso de um riacho que descia do coração do vale, ele finalmente a viu.
No início, era apenas uma anomalia geométrica contra a desordem orgânica da natureza. Uma linha reta demais, um ângulo perfeito demais. Coberta por séculos de vegetação, musgo espesso e raízes que a abraçavam como serpentes, mas inconfundível. A base de uma estrutura maciça, feita de blocos de pedra negra que nenhuma força da natureza poderia ter empilhado daquela maneira.
Era uma pirâmide.
Não era alta e esguia como as do Egito ou da Mesoamérica, mas era vasta, robusta, uma montanha artificial engolida pela floresta. Na sua base, uma abertura retangular, uma entrada escura que parecia um portal para outro tempo, aguardava em silêncio.
Jared parou, o coração batendo um pouco mais forte em seu peito, um tambor solitário na imensidão verde. Anos de pesquisa, fragmentos de histórias e uma determinação de ferro o haviam levado àquele exato ponto. Ele se aproximou, a pistola em um coldre de saque rápido, o corpo em alerta máximo, cada sentido aguçado.
E foi então que ele a viu.
Ela não surgiu das sombras. Ela já estava lá, imóvel, como se fosse parte da própria pirâmide. Estava sentada em uma rocha plana ao lado da entrada, observando-o.
A mulher era uma visão de força e beleza selvagem. Sua pele bronzeada brilhava com a umidade, e seus longos cabelos escuros caíam sobre os ombros. Seu rosto, de traços expressivos e inteligentes, era sério, os olhos escuros fixos nele, analisando-o sem um pingo de medo. Usava roupas práticas — calças cargo e uma regata —, mas nela, pareciam uma vestimenta tribal moderna. Seu corpo era tipicamente indígena e com curvas naturais, o de alguém que pertencia àquele lugar, com exceção do busto avantajado. Em seu colo, descansava um arco longo e moderno, e uma aljava de flechas estava ao seu lado.
Jared parou a uns dez metros de distância. O invasor e a sentinela. Ele levantou uma mão lentamente.
— Oi. — A palavra em português pairou no ar. Nenhuma reação. — Hola.
Após a segunda saudação, ela falou. A voz era grave, clara e firme. — Você está longe de casa.
Jared a estudou. A resposta não era uma pergunta, mas um desafio. Ele não recuou.
— Sim. Eu estou... mas julgando pela sua aparência... você não é uma indígena pura. Descendente de europeus, talvez... espanhola.
A provocação, a análise fria, fez a postura dela enrijecer. — Meus ancestrais não são da sua conta — respondeu ela, a voz cortante. Ela se levantou em um movimento fluido. — E nomes não significam nada aqui. O que significa é o que você veio fazer. Vou perguntar uma única vez. O que você quer aqui?
A hostilidade dela era uma muralha. Jared mudou de tática, trocando a provocação por uma verdade calculada.
— Quero conhecer melhor este lugar. — Ele apontou com a cabeça para a pirâmide. — É uma missão pessoal. Meu pai era um brasileiro, minha mãe mexicana. Eu nasci longe, mas após a morte do meu pai, eu me lembrei de algumas histórias que ele me dizia.
A menção ao pai, a uma busca pessoal, abriu uma fresta na armadura dela. A curiosidade substituiu a hostilidade em seus olhos. — Histórias... Este lugar é feito de histórias. Seu pai... ele esteve aqui?
— De jeito nenhum, moça. Ele só me contava que a floresta escondia segredos. Um desses segredos era um santuário. Eu passei os últimos meses procurando e finalmente achei.
A chuva começou a cair, grossa e pesada, encharcando os dois. Jared deu um passo à frente, entrando no espaço pessoal dela, um ato de confiança ou de loucura. Ele parou a um braço de distância e estendeu a mão, a palma aberta sob o dilúvio.
— Jared Cortez.
O nome completo. Uma declaração de identidade. Uma aposta total.
— Gostaria de me mostrar mais desse lugar?
A guardiã olhou da mão estendida para o rosto dele. Ela via a sinceridade. Via o homem sobre quem os rumores provavelmente falavam, o "fantasma" que havia limpado a floresta. Lentamente, ela transferiu o arco para a mão esquerda. Sua mão direita, forte e calejada, encontrou a dele. O aperto foi firme, um encontro de duas forças da natureza.
— Maya — disse ela, oferecendo seu nome em troca.
Ela soltou a mão dele e fez um gesto com a cabeça em direção à escuridão da pirâmide.
— A chuva vai piorar. É melhor entrarmos. Mas entenda, Jared Cortez. Você não está aqui como um convidado. Está aqui como um teste. Este lugar decide quem é digno.
Ela se virou e, sem olhar para trás, caminhou para dentro do santuário, desaparecendo na escuridão.
Continua...
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Atualizado até capítulo 20
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