Capítulo 03

Regina e Mateus — O Primeiro Brilho da Noite…

Assim que o homem se aproximou, não consegui desviar o meu olhar. Era como se ele tivesse puxado um fio invisível que me mantinha presa ali, suspensa entre o espanto e a vontade de sorrir. Ele avançou alguns passos, e o leve perfume que o acompanhava trouxe consigo uma onda de calma inesperada. Senti minha pele arrepiar. Não era somente a voz grave, aveludada, mas como parecia moldada para me alcançar. No fundo dos olhos de Mateus havia uma promessa silenciosa, um convite para algo que ela não sabia nomear, mas que desejava descobrir.

Regina — O destino também nunca é bom comigo.

Mateus — Vai ver, ainda não havia chegado a hora.

Regina — Talvez.

O meu coração batia rápido, e cada segundo ao lado dele parecia uma revelação: a de que o acaso, às vezes, tem o poder de redesenhar destinos. Naquele instante, não havia dúvidas, apenas a certeza arrebatadora de que Mateus seria mais do que um encontro. Ele já era uma presença que incendiava o ar entre nós dois e após mais uma golada no copo de uísque.

Mateus — O destino não seria tão irresponsável em deixar você vir sozinha?

Regina — Não, eu estou acompanhada pela minha amiga, que agora está bem empolgada na pista de dança.

Olho para a pista de dança e lá está a Ju como se nada mais existisse, somente ela na pista de dança. Juliane é uma mulher alegre, dona da própria vida e isso a torna viva e capaz de se misturar às luzes da boate iluminada. Assim que percebe que estou olhando, levanta um dos braços me chamando para a pista, justamente no momento que começa a tocar a minha música dançante favorita BELIEVE da Cher.

Regina — Não sei você, mas adoro essa música.

Não podia deixar de dançar essa música, então olhei para o homem, apoiei o meu copo na beira do balcão e corri para a pista de dança ao lado da Ju, curtir a minha música. O som grave da música vibrava no meu peito, mas de algum jeito, desde que aquele homem maravilhoso apareceu ao meu lado, tudo pareceu mais leve, como se o barulho tivesse perdido importância e somente fechei os olhos e somente senti o cheiro do perfume dele se aproximar de mim.

Mateus — Então, você realmente acha que sabe dançar melhor que eu?

Regina — Não acho. Eu tenho certeza.

Sorrio sem parar de dançar e vendo o garçom da casa de aproximar com a bandeja pego mais um copo, até que brindamos, sorrimos, e o toque rápido dos copos fez o líquido balançar. A cada gole, as palavras vinham mais fáceis, as histórias fluíam, e a sensação de tempo parecia distorcida. Entre confidências engraçadas e revelações inesperadas, havia também os silêncios confortáveis, onde bastavam nossos olhares se cruzarem para preencher o espaço.

A pista de dança pulsava, convidativa, mas nós dois pareciamos presos naquela bolha particular, conversamos sobre filmes favoritos, viagens que sonhavam fazer e pequenas memórias de infância que raramente eram ditas em voz alta.

Regina — É estranho! Parece que já te conheço há mais tempo.

Falo isso e ele só observou com atenção, inclinando-se um pouco mais perto para que a música não abafasse sua voz.

Mateus — Talvez a gente só tenha se encontrado na hora certa, minha linda.

Regina — Oi!

Eu senti um arrepio, não sabia se devido à frase ou pela proximidade dele. Minutos viraram horas, até que para a minha surpresa perguntamos rindo coincidentemente.

Os dois — Quer sair um pouco daqui?

Regina — Kkkkkkk!

Eu somente olhei a Ju que ainda dança na pista e saímos da boate lado a lado. O ar da madrugada nos recebeu como um alívio depois da intensidade da balada. As ruas ainda tinham movimento, mas, para nós, parecia que a cidade inteira tinha desacelerado. Caminhamos lado a lado, sem pressa, como se aquela noite fosse um segredo só nosso, prolongando a sensação de descoberta que ainda estava somente começando.

O ar fresco da rua bateu no meu rosto, carregando consigo o cheiro de madrugada e mistura de asfalto úmido, fumaça distante e o perfume que ainda pairava em minha pele. Puxei os cabelos para trás, rindo sozinha como uma louca e após respirar fundo.

Regina — Acho que precisava disso.

Mateus — De sair da balada?

Perguntei, enfiando as mãos nos bolsos enquanto caminhava ao lado dela.

Regina — Não! Precisava de uma pausa, mas não de você.

Olhei de canto, com aquele, meu sorriso malicioso que não se esforçava para esconder. Ele arqueou a sobrancelha, surpreso e divertido ao mesmo tempo. Aproximou-se um pouco mais de mim, como se as minhas palavras fossem um convite implícito.

Mateus — Então quer dizer que estou liberado para estender a noite?

Pergunto isso a ela, que fingiu pensar, mordendo o lábio, como se quisesse me provocar e já me provocando.

Regina — Depende. Vai me convencer?

Ele parou de andar, virando-se para mim. Nós dois ficamos frente a frente sob a luz amarela de um poste, e pela primeira vez, sem a música alta ou a multidão em volta, o silêncio pareceu cúmplice. Ele se inclinou devagar, testando a distância entre nós dois.

Mateus — Posso tentar.

Ela não recuou. Ao contrário, aproximou-se de mim também, senti a minha respiração misturar-se com a dela. Por um instante, ficamos presos naquele quase-beijo que parecia esticar o tempo. Ela, então, riu baixinho, quebrando a tensão.

Regina — Se eu soubesse que você era tão ousado assim, teria deixado a balada antes.

Ele sorriu e, dessa vez, não hesitou. O nosso beijo aconteceu intenso, quente, mas, ao mesmo tempo, natural, como se já estivesse escrito. Confesso que estamos completamente altos devido aos copos de bebidas que tomamos enquanto estávamos na boate. Quando nos afastamos, ainda com as testas encostadas, sussurrei.

Regina — Então… vamos?

Ele segurou a minha mão, firme, e logo seguimos pela calçada, como se a noite tivesse acabado de começar…

Continua…

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