O relacionamento de Mariana e Rafael seguia em ritmo acelerado. Para muitos, poderia parecer apenas paixão de início de namoro, mas para ela, aquilo representava algo muito maior: a sensação de finalmente ser importante para alguém. Cada mensagem recebida, cada ligação inesperada, cada gesto de carinho reforçava em seu coração a ideia de que havia encontrado o amor que sempre buscou.
Rafael era atencioso, quase em excesso. Queria saber como tinha sido o dia dela, com quem havia conversado, o que tinha comido, a que horas ia dormir. Mariana, no começo, achava adorável. Gostava da forma como ele se preocupava com os detalhes, como se nada em sua vida passasse despercebido aos olhos dele. Mas, com o tempo, aquela atenção começou a se transformar em uma vigilância silenciosa.
Certa tarde, Mariana recebeu uma ligação de uma colega de trabalho. Conversaram sobre um projeto que estavam desenvolvendo, e logo depois Rafael mandou uma mensagem:
— Quem era? Por que demorou tanto?
Mariana riu sozinha, achando graça do ciúme dele, e respondeu de forma leve. Mas no fundo, a pergunta a incomodou. Ainda assim, preferiu acreditar que era apenas amor demais, medo de perdê-la. Não seria justo julgá-lo por isso.
Dias depois, ao sair com a mesma colega para resolver assuntos profissionais, Rafael apareceu de surpresa no local. Disse que estava passando por perto e resolveu buscá-la. Mariana ficou lisonjeada no momento, mas percebeu o olhar dele analisando a amiga de cima a baixo. A sensação de ser vigiada cresceu dentro dela, mas novamente ela abafou aquele incômodo com a desculpa do cuidado.
Os elogios de Rafael também começaram a vir acompanhados de críticas disfarçadas. Quando ela se arrumava para sair, ele dizia:
— Você está linda, mas acho que ficaria melhor se usasse outra cor.
Ou então:
— Esse vestido é bonito, mas chama muita atenção. Prefiro você mais discreta.
Mariana, insegura como sempre fora, aceitava as sugestões e trocava de roupa. Afinal, queria agradar, queria manter a relação em equilíbrio. Pensava que talvez Rafael só estivesse tentando ajudá-la a “melhorar”.
Apesar dessas pequenas tensões, o romance continuava intenso. Rafael era carinhoso, enviava flores, escrevia mensagens apaixonadas e fazia planos para o futuro. Falava em viagens, em morar juntos, em casamento. Mariana se deixava levar pela euforia, acreditando que finalmente estava construindo algo sólido e duradouro.
Numa noite estrelada, deitados lado a lado, Rafael segurou a mão dela e disse:
— Você é tudo o que eu sempre procurei. Não preciso de mais nada além de você. Mas também não quero que você precise de mais ninguém. Entende?
A frase soou doce, mas carregava novamente aquele tom de posse que Mariana tentava ignorar. Ela sorriu, concordando com a cabeça, mas no fundo sentiu o coração acelerar por motivos que não conseguia explicar.
Aos poucos, a vida dela começou a girar em torno de Rafael. Encontrava menos amigos, deixava de lado hobbies e até evitava certos lugares para não provocar comentários dele. Mariana dizia a si mesma que era apenas adaptação, que todo relacionamento exigia mudanças. Mas, em silêncio, sentia-se cada vez mais restrita, como se o espaço ao seu redor fosse diminuindo sem que percebesse.
Naquela mesma noite, ao se olhar no espelho, Mariana teve uma sensação estranha. Viu seu reflexo, mas não se reconheceu totalmente. Parecia mais uma versão moldada pelas opiniões de Rafael do que por suas próprias escolhas. Ainda assim, preferiu acreditar que estava exagerando. Afinal, o amor não exigia sacrifícios?
Enquanto se deitava novamente, Rafael a abraçou forte e sussurrou ao ouvido:
— Promete que nunca vai me deixar?
Mariana, com a voz embargada, respondeu:
— Prometo.
Ela acreditava naquela promessa, sem imaginar que, no futuro, precisaria quebrá-la para salvar a si mesma.
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Atualizado até capítulo 100
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