Arturo chegou à mansão tarde da noite, mas não parecia cansado. Havia em seus olhos um brilho diferente, frio, calculista, como se trouxesse nos bolsos um segredo capaz de arruinar vidas. Helena, que esperava no quarto, sentiu a espinha gelar no instante em que ele abriu a porta.
Sem dizer palavra, Arturo caminhou até a mesa de cabeceira e deixou sobre ela um envelope. O som seco do papel batendo na madeira fez o coração de Helena quase parar. Ela sabia. O instinto lhe gritava que ali dentro estava sua condenação.
— Abra. — A voz dele não era alta, mas cada sílaba carregava o peso de uma sentença.
As mãos de Helena tremiam ao desfazer o lacre. Puxou as fotos, uma a uma, como se tirasse punhais do próprio peito. Lá estava ela, entre os braços de Miguel, o beijo, o toque, a entrega. Cada imagem era um espelho da sua culpa.
Helena tentou falar, mas a garganta falhou.
— Nada a dizer? — Arturo aproximou-se, os olhos cravados nela. — Eu ofereci a você o mundo, Helena. E, em troca, recebo traição.
— Arturo, eu… — sua voz era um fio de ar. — Eu não planejei…
Ele ergueu a mão, cortando suas palavras. — Não importa o que você planejou. Importa o que fez.
O silêncio entre eles era sufocante. Helena sentiu as pernas fraquejarem, mas ainda encontrou forças para encará-lo.
— Eu nunca pedi esse mundo. Pedi apenas ser feliz.
Por um segundo, Arturo ficou imóvel. As palavras dela o atingiram como uma faca, mas em vez de recuar, ele endureceu ainda mais.
— A felicidade não existe, Helena. Existe lealdade. Existe poder. E você me tirou ambos.
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Enquanto isso, no casarão abandonado, Miguel esperava por ela. Caminhava de um lado para o outro, atormentado pelo pressentimento. Camila apareceu, trazendo consigo a tensão de quem conhecia bem os jogos do irmão.
— Helena não virá — disse ela, firme. — Arturo já sabe.
Miguel empalideceu. — Como?
Camila estendeu a fotografia que conseguira interceptar. — Ele tem provas. E se já mostrou a ela, não demorará até que venha atrás de você.
O jovem médico passou a mão pelos cabelos, desesperado. — Então é o fim…
— Não. — Camila o interrompeu, os olhos faiscando. — É apenas o começo. Arturo está vulnerável, mais do que nunca. Mas precisamos agir rápido.
— E Helena? — Miguel a fitou, aflito. — Ela corre perigo.
Camila respirou fundo. — Se quiser salvá-la, terá de confiar em mim.
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Na mansão, a noite avançava como um predador silencioso. Arturo caminhava pelo quarto, enquanto Helena permanecia sentada, imóvel, com as fotografias no colo. Cada passo dele soava como correntes arrastando-se pelo chão.
— Você sabe o que acontece com quem me trai, não sabe? — perguntou ele, sem virar o rosto.
Helena fechou os olhos. Lembrou-se das histórias sussurradas, dos desaparecimentos inexplicáveis, dos rumores de que Arturo tinha sangue nas mãos.
— Se for me matar, faça logo. — A voz dela saiu firme, surpreendendo até a si mesma.
Arturo parou, encarando-a com uma mistura de raiva e admiração. — Matar você? Não. Isso seria muito simples. O verdadeiro castigo é viver sob minhas regras, sabendo que não pertence a mais ninguém.
Ele se aproximou, curvou-se diante dela e sussurrou ao ouvido: — Mas o médico… esse sim, vai pagar com a vida.
Helena sentiu o chão sumir sob seus pés.
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Quando Arturo saiu do quarto, ela se atirou contra a porta, tentando ouvir seus passos. O som da chave girando no trinco confirmou seus temores: estava trancada. Prisioneira dentro da própria casa.
Na escuridão, Helena abraçou as fotografias contra o peito. O medo a devorava, mas, sob ele, algo mais queimava: a certeza de que não podia mais esperar. Precisava agir.
Recordou-se de Camila. A cunhada, por mais perigosa que fosse, era a única que podia ajudá-la. E, de algum modo, ela sabia: Camila estava tecendo seus próprios planos.
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Horas depois, Arturo encontrou Camila no escritório. A irmã folheava um livro como se nada acontecesse.
— Você sabia? — perguntou ele, a voz carregada de veneno.
Camila ergueu os olhos com calma. — Sabia o quê?
— Que Helena me traiu.
Um leve sorriso curvou os lábios dela. — E você achou mesmo que poderia manter uma mulher como ela enjaulada sem que o coração buscasse saída?
Arturo estreitou os olhos. — Está me provocando, Camila.
— Apenas dizendo a verdade. — Ela fechou o livro devagar. — Mas a verdade nunca foi seu ponto forte, não é?
O ar entre eles se encheu de eletricidade. Arturo sabia que a irmã escondia mais do que deixava transparecer. Camila, por sua vez, percebia que o império do irmão começava a rachar.
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Na madrugada, Miguel não resistiu. Invadiu os jardins da mansão, disposto a tudo para resgatar Helena. Escalou os muros, escondendo-se entre as sombras, até alcançar a janela do quarto dela.
— Helena! — chamou em sussurro desesperado.
Ela correu até a janela, as lágrimas transbordando. — Miguel… ele sabe de tudo! Arturo vai te matar!
— Então venha comigo agora! — implorou ele, estendendo a mão. — Fugiremos juntos, não importa para onde.
Helena olhou em volta, o coração em frangalhos. Queria agarrar aquela mão, queria desaparecer ao lado dele. Mas, atrás da porta, ouviu o som metálico de passos e o clique de uma arma sendo engatilhada.
O terror congelou sua alma.
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Arturo surgiu à sombra, uma pistola em punho.
— Eu sabia que viria. — A voz dele cortou o silêncio como lâmina. — E agora, doutor, você pagará o preço da ousadia.
Helena gritou. Miguel, imóvel, manteve a mão estendida, olhando para ela como se aquele instante fosse o último.
E no meio daquele triângulo mortal, Camila observava de longe, escondida no corredor, os olhos faiscando. Não era medo o que ela sentia, mas a excitação cruel de quem vê as peças de um jogo se encaixando.
O destino estava prestes a ser selado. Mas, para quem, ainda não estava escrito.
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Atualizado até capítulo 80
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