Capítulo 3

— Olha só o estado da sua irmã?! Porque a levou para um lugar cheio de perigos e a embebedou?! Até quando Sofia? Até quando vai continuar me decepcionando?

— Eu sou a gorda rejeitada, lembram? Não tenho amigos e não sou tão popular quanto a filha de vocês. Porque acham que eu sou a culpada por levar a filha de vocês para beber com os amigos dela? Se ela bebeu, é responsabilidade dela e não minha!

Sofia disse e subiu as escadas, ignorando os xingamentos de seu pai.

Ela também estava passando mal, mas eles só se preocupavam com a filha adotiva.

Ela nunca saia para festas, não tinha amigos, constantemente sofria bullying e isso não era um segredo para os seus pais, mas para eles, qualquer coisa que acontecesse com Verônica culpada era ela.

Sofia chegou ao seu quarto e foi ao banheiro, olhou no espelho e acariciou seu rosto. Ela nem se lembrava mais desse rosto, ela apertou as próprias bochechas, vendo o rubor se instalar em sua pele.

Nada de pele acinzentada e sem vida, nada dos ossos da maçã do rosto saltando. Nenhum resquício de olheiras e olhos fundos.

Nada de queda de cabelos, seus cabelos eram castanhos acobreados, ondulados e cheios.

— Eu sou bonita! — ela disse para si mesma, não algo que tentava se convencer, era uma real constatação.

Após, olhou para a sacolinha que carregava e retirou de lá o contraceptivo de emergência. Pegou uma pílula e colocou na boca, em seguida encheu um copo de água e estava prestes a engolir.

Mas sua garganta fechou, sua mão parou trêmula.

Quando não se sabe o resultado da noite de uma noite sexo casual, não há peso na consciência, mas ela sabia.

Ela acariciou sua barriga, relembrando de sua outra vida, relembrando sua primeiro gravidez. Era um menino, Luiz. Ele se mexia sempre que ela se sentia abandonada por Lucas, fazendo a se lembrar que não estava sozinha, que ele estava ali.

Ela sempre conversava com ele, contava histórias e sempre que ela perguntava se ele estava ouvindo, ele se mexia a correspondendo.

Dos cinco abortos, foi o seu primeiro e o mais doloroso.

Em uma festa, Verônica trombou nela quando estava próximo a uma escada. Ela caiu e Verônica também.

E quem Lucas salvou primeiro? Verônica.

Perder aquele bebê foi a dor mais profunda que já sentiu.

Foi salva pelo assistente de Rafael Castro, tio de Lucas Fontes da casa, nem seu pai, sua mãe, sua sogra se importaram. Todos a acusaram de ter empurrado Verônica.

Lembrando agora, ela pensou que Rafael Castro sempre esteve por perto, sempre arranjando um jeito de a salvar. Se não fosse por sua deficiência na vida passada ela teria percebido isso. Só em seus últimos momentos ela percebeu, que se fosse por Rafael, ela teria sobrevivido, no último aborto, foi ele quem a salvou, mas Lucas Fontes não permitiu a cirurgia que salvaria sua vida, dizendo que ninguém iria tirar aquele bebê da barriga dela e que Sofia só estava inventando esse aborto para voltar a comer compulsóriamente.

No hospital, ficou internada por dias e não recebeu nenhuma visita. Passou pelo luto sozinha.

Naquela vez, pensou em se divorciar de Lucas, sem um bebê não tinha razão para continuar naquele casamento.

Mas ele apareceu no dia da alta para buscá-la. Só naquele dia ele soube da perda do bebê. Ele se desculpou, dizendo que pensou que as gorduras de Sofia protegiam o bebê. Disse que Verônica era a arquiteta chefe da empresa e por isso, se machucasse a mão significaria que ele perderia milhões em investimentos.

Ele pareceu realmente enlutado, até sua sogra pareceu a tratar melhor. Até seus pais foram visitá-la em casa, lamentando a perda do bebê.

Verônica, levou flores e se ajoelhou pedindo desculpas e dizendo que foi um acidente, que havia escorregado.

Todos pareciam a tratar melhor e ela desistiu de pedir o divórcio, sem saber que todo aquele tratamento seria temporário, logo tudo voltaria a ser como antes e até pior.

Relembrando todos os acontecimentos da vida passada, Sofia acabou cuspindo o contraceptivo de emergência e desistiu de interromper aquela gravidez. Agora ela faria com que essa vida fosse diferente para ela e também para esse bebê.

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