Capítulo 2 – Entre Muros e Silêncios

• Tee

As portas do carro se fecharam com um baque seco e pesado atrás de mim. Bass entrou no assento do motorista, e o silêncio que ele trouxe consigo era mais cortante e pesado do que qualquer gritaria. O motor ligou com um ronco suave, e sem sequer olhar na minha direção, ele arrancou, suas mãos segurando o volante com uma força que deixava os nós dos dedos brancos.

Eu me joguei contra o banco de couro frio, tentando disfarçar o quanto meu pulso ainda doía e latejava por causa do jeito brutal como ele me agarrou e me arrastou para fora da boate. A marca dos dedos dele parecia estar queimando na minha pele, uma lembrança dolorida e humilhante que doía mais do que a bebida daquela noite.

— Vai ficar calado o caminho inteiro? — joguei a provocação no ar, tentando quebrar aquele silêncio que me apertava a garganta.

Nada. Nenhuma reação. Ele nem sequer respirou mais fundo.

Olhei para ele de lado. Bass estava completamente rígido, seus ombros tensionados, seus olhos fixos na estrada como se estivesse em uma missão de guerra. Cada músculo do seu corpo gritava que ele estava furioso, e aquela raiva silenciosa era assustadora.

Soltei um suspiro exagerado. — Você age como se fosse meu dono. Como se eu fosse sua propriedade.

— Não sou seu dono. — A voz dele saiu baixa, mas tão dura e afiada que pareceu cortar o ar. — Sou o homem que seu pai paga para manter você vivo, já que você mesmo se esforça todos os dias para encontrar uma maneira de morrer.

Revirei os olhos, sentindo a raiva ferver dentro de mim. — Drama desnecessário. Exagero.

Ele virou o rosto por um instante, e o olhar que me lançou foi tão gelado e carregado de desprezo que eu senti um calafrio percorrer minha espinha. Abri a boca para retrucar, para xingar, mas as palavras morreram na minha garganta. Havia algo naquele olhar que me paralisou, que me fez sentir pequeno e exposto.

Tentei rir, forçando um som de deboche. — Você leva esse trabalho a sério demais. Deveria relaxar um pouco.

— Alguém precisa levar a sério. — ele respondeu na mesma hora, sem hesitar, sua voz como um chicote.

A raiva subiu dentro de mim, quente e rápida, misturada com uma confusão de sentimentos que eu não entendia. Por que meu coração batia tão forte contra meu peito toda vez que ele me olhava daquele jeito? Não era atração. Não podia ser. Era apenas raiva, pura e simples.

Era só isso que eu conseguia aceitar.

O silêncio desceu sobre o carro de novo, pesado e desconfortável. A cidade passava pelas janelas, um borrão de luzes brilhantes que não conseguiam iluminar a escuridão que eu sentia dentro de mim. Eu odiava aquele sentimento. Odiava como Bass sempre me fazia me sentir como uma criança irresponsável e estúpida. Mas, ao mesmo tempo, havia algo na maneira firme e segura dele… algo que me puxava para perto, como um ímã perigoso.

Balancei a cabeça, tentando me livrar daqueles pensamentos. Isso era errado. Isso era loucura.

---

•Bass

O silêncio era minha única proteção.

Cada palavra que Tee soltava, cada provocação, era como um fósforo jogado na minha paciência. Eu precisava respirar fundo, contar mentalmente, para não perder o controle e fazer algo que iria me destruir. Ele não fazia ideia. Não tinha noção de como eu estava a um passo de quebrar aquele sorriso arrogante dele, só para ver se ele aprendia a lição.

Mas a raiva não era tudo. Esse era o verdadeiro perigo.

Quando agarrei o braço dele na boate, quando o puxei para fora dali, senti a pele suave e quente dele sob meus dedos. Frágil. Foi como se um fio elétrico tivesse me conectado a ele.

E agora, dentro do carro fechado, o cheiro do perfume dele enchia o ar, me envolvia de um jeito que me sufocava. Não era apenas um cheiro doce. Era provocante, como tudo nele.

Eu deveria ignorar. Deveria apenas fazer meu trabalho. Mas, por dentro, cada parte do meu corpo estava em guerra.

— Você age como se fosse meu dono — ele tinha dito.

Não. Eu não era dono dele. Mas naquele momento, olhando para ele no escuro do carro, uma parte perigosa de mim quisesse ser.

Apertei o volante com mais força, meus dedos doendo, tentando empurrar aquele pensamento para longe. Não podia. Não devia.

Ele é apenas um garoto mimado, me lembrei. Um herdeiro rico que nunca vai entender o mundo real.

Mas, quando parei o carro em frente ao portão enorme da mansão, a memória dos olhos dele me encarando na boate voltou com tudo. Desafiadores. Cheios de fogo. E, no fundo, com um medo que ele tentava esconder.

Desliguei o motor sem dizer uma palavra. Saí, fechei minha porta com um baque e abri a porta dele com um movimento brusco.

— Anda. — minha voz saiu áspera e seca.

Ele ergueu o queixo, aquele ar de superioridade que me irritava mais do que tudo. — Não precisa bancar o durão. O mandão.

— Preciso sim. — respondi, encarando ele. — Se não fosse por isso, você já estaria morto.

Por um instante, vi algo diferente brilhar no olhar dele. Não era só raiva. Era outra coisa.

---

• Tee

O corredor enorme e vazio da mansão estava silencioso quando entrei, meus passos soando alto no chão de mármore tão limpo e frio. Bass vinha logo atrás de mim, como uma sombra grande e silenciosa que eu não conseguia escapar.

Eu queria gritar. Queria virar e empurrá-lo contra a parede e dizer que não precisava dele me protegendo. Mas uma parte pequena e assustada de mim sabia que, se ele não tivesse aparecido naquela noite, coisas ruins poderiam ter acontecido.

Isso me deixou ainda mais irritado.

Virei de repente, encarei ele de frente. — Você acha que pode controlar minha vida só porque é mais velho, mais forte e sabe como bater nos outros. Mas não controla.

Ele me encarou, seus olhos escuros e sérios, tão perto que eu pude ver cada detalhe.

— Eu não quero controlar você, Tee. — Ele falou baixo, cada palavra saindo com um peso que fez meu estômago se apertar. — Só quero te manter vivo.

Aquela voz grave ecoou dentro de mim. Senti meu rosto esquentar e odiei aquela reação.

Revirei os olhos e soltei uma risada falsa, mesmo sentindo minha garganta seca. — Então faça seu trabalho direito e pare de me asfixiar. Pare de me seguir como um cachorro.

Virei de costas, subindo as escadas largas, tentando ignorar o peso do olhar dele queimando nas minhas costas.

Mas, naquela noite, deitado na minha cama grande e vazia, o rosto sério e rigoroso de Bass não saiu da minha cabeça.

E, pela primeira vez em muito tempo, eu senti medo. Não medo do que os outros poderiam fazer comigo… mas medo do que eu estava começando a sentir por ele.

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Comments

Gilvaneide Siqueira

Gilvaneide Siqueira

uau, perfeito estou amando sua história

2025-09-19

0

Marina Silva

Marina Silva

Quero foto dos personagens

2025-09-27

0

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 – Fuga na Noite
2 Capítulo 2 – Entre Muros e Silêncios
3 Capítulo 3 – Entre Aparências
4 Capítulo 4 — Vidro, Ouro e Farpas
5 Capítulo 5 – Rumores e Confrontos
6 Capítulo 6 – Entre Quatro Paredes
7 Capítulo 7 – Entre Desejo e Aparências
8 Capítulo 8 – Pressão e Tentação
9 Capítulo 9 — O Impulso
10 Capítulo 10 – Rachaduras
11 Capítulo 11 – A Casa da Noiva
12 Capítulo 12 — Grades Invisíveis
13 Capítulo 13 – Linha Tênue
14 Capítulo 14 – Fuga Noturna
15 Capítulo 15 — Retorno em Brasa
16 Capítulo 16 — Correntes e Quebra
17 Capítulo 17 — Beijo Matinal
18 Capítulo 18 — A Chave do Corpo
19 Capítulo 19 — Bom Dia, Prisioneiro
20 Capítulo 20 — Clube, Vitrine e Fuga
21 Capítulo 21 — Juros e Silêncio
22 Capítulo 22 — Rota de Colisão
23 Capítulo 23 — Jantar na Prisão de Luxo
24 Capítulo 24 — Pista de Aterrissagem
25 Capítulo 25 — Transferência
26 Capítulo 26 — Manual de Desobediência
27 Capítulo 27 — Porta Trancada
28 Capítulo 28 — Sem Roteiro
29 Capítulo 29 — Posição
30 Capítulo 30 — Ataque
31 Capítulo 31-“Nós”
32 Capítulo 32 — Depois
33 Capítulo 33 — Retorno com Estilo
34 Capítulo 34 — Operação Banho
35 Capítulo 35 — Debaixo da Água
36 Capítulo 36 — Manhã com Código
37 Capítulo 37 — O Olhar que Denuncia
38 Capítulo 38 — Sem Volta
39 Capítulo 39 — A Porta que Eu Abro
40 Capítulo 40 — Postura e Queda
41 Capítulo 41 — Um Mês Depois, Primeira Aula
42 Capítulo 42 — Parcerias Inesperadas
43 Capítulo 43 — Sinais que Queimam
44 Capítulo 44 — Entre Risadas e Portas Abertas
45 Capítulo 45 — Silêncios e Provocações
46 Capítulo 46 — Entre Contas e Confianças
47 Capítulo 47 — Entre Luzes e Confissões
Capítulos

Atualizado até capítulo 47

1
Capítulo 1 – Fuga na Noite
2
Capítulo 2 – Entre Muros e Silêncios
3
Capítulo 3 – Entre Aparências
4
Capítulo 4 — Vidro, Ouro e Farpas
5
Capítulo 5 – Rumores e Confrontos
6
Capítulo 6 – Entre Quatro Paredes
7
Capítulo 7 – Entre Desejo e Aparências
8
Capítulo 8 – Pressão e Tentação
9
Capítulo 9 — O Impulso
10
Capítulo 10 – Rachaduras
11
Capítulo 11 – A Casa da Noiva
12
Capítulo 12 — Grades Invisíveis
13
Capítulo 13 – Linha Tênue
14
Capítulo 14 – Fuga Noturna
15
Capítulo 15 — Retorno em Brasa
16
Capítulo 16 — Correntes e Quebra
17
Capítulo 17 — Beijo Matinal
18
Capítulo 18 — A Chave do Corpo
19
Capítulo 19 — Bom Dia, Prisioneiro
20
Capítulo 20 — Clube, Vitrine e Fuga
21
Capítulo 21 — Juros e Silêncio
22
Capítulo 22 — Rota de Colisão
23
Capítulo 23 — Jantar na Prisão de Luxo
24
Capítulo 24 — Pista de Aterrissagem
25
Capítulo 25 — Transferência
26
Capítulo 26 — Manual de Desobediência
27
Capítulo 27 — Porta Trancada
28
Capítulo 28 — Sem Roteiro
29
Capítulo 29 — Posição
30
Capítulo 30 — Ataque
31
Capítulo 31-“Nós”
32
Capítulo 32 — Depois
33
Capítulo 33 — Retorno com Estilo
34
Capítulo 34 — Operação Banho
35
Capítulo 35 — Debaixo da Água
36
Capítulo 36 — Manhã com Código
37
Capítulo 37 — O Olhar que Denuncia
38
Capítulo 38 — Sem Volta
39
Capítulo 39 — A Porta que Eu Abro
40
Capítulo 40 — Postura e Queda
41
Capítulo 41 — Um Mês Depois, Primeira Aula
42
Capítulo 42 — Parcerias Inesperadas
43
Capítulo 43 — Sinais que Queimam
44
Capítulo 44 — Entre Risadas e Portas Abertas
45
Capítulo 45 — Silêncios e Provocações
46
Capítulo 46 — Entre Contas e Confianças
47
Capítulo 47 — Entre Luzes e Confissões

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