Capítulo 4

Adrian o levou a sala de vidro que dava visão parcial para o corredor, ajeitando a prancheta embaixo do braço enquanto Ayden o seguia em silêncio, os olhos percorrendo cada detalhe do laboratório.

As mesas de inox estavam alinhadas, os computadores abertos com gráficos em tempo real e tubos de ensaio brilhavam sob a luz fria. A atmosfera era de precisão.

Adrian parou perto de uma bancada e virou-se para o novo assistente.

— Bem, Halbrecht, a partir de hoje você é parte da nossa equipe. Quero que se sinta à vontade para perguntar qualquer coisa. Aqui ninguém trabalha sozinho, mesmo eu sendo presidente, eu ponho as mãos na massa. - Sorriu de forma genuína.

Ayden correspondeu com um aceno contido.

— Claro. Estou pronto para aprender.

Adrian apoiou a prancheta sobre a mesa e explicou:

— Nosso foco atual é uma patente que chamamos internamente de Projeto Helix. É uma solução biogenética para regeneração de tecidos em pacientes com queimaduras extensas. Se conseguirmos apresentar resultados sólidos antes do fim do mês, teremos os investidores alinhados e prontos para injetar recursos na expansão da pesquisa.

Ayden franziu a testa, fingindo surpresa:

— Regeneração de tecidos? Isso soa grande. - Fingiu hesitar: — E qual vai ser exatamente o meu papel nisso?

Adrian deu uma leve risada.

— Você vai começar como meu assistente júnior, claro, mas não pense que isso significa apenas trazer café. Vai analisar dados, organizar relatórios, revisar os cálculos e acompanhar testes de cultura celular. É trabalhoso, mas essencial. E com o tempo, quero que participe mais ativamente nas simulações.

Ayden assentiu, os dedos tamborilando discretamente sobre o jaleco, como quem guarda a raiva para si.

— Entendido. Eu consigo lidar com isso.

Adrian fez sinal para que ele se aproximasse de uma das telas.

— Veja aqui.. - Apontou para um gráfico com curvas ascendentes e descendentes: — estamos mapeando respostas celulares a um composto que desenvolvemos. Preciso que você atualize essas planilhas com as medições do dia e cruze com os dados do laboratório B.

O rapaz puxou a cadeira e começou a digitar com agilidade. Adrian observou por um instante, impressionado.

— Você tem prática com planilhas científicas, não tem?

Ayden escondeu o sorriso e respondeu como se fosse modesto.

— Eu aprendo rápido.

Adrian sorriu satisfeito.

— Ótimo. Essa é a atitude que precisamos. Pelo visto, seremos uma ótima equipe.

Enquanto trabalhavam lado a lado, os outros membros da equipe entravam e saíam, ajustando amostras e discutindo hipóteses. Uma das assistentes, uma jovem de cabelos castanhos presos em coque e jaleco impecavelmente alinhado, chamada Lorena, se aproximou sorrindo.

— Você deve ser o novo. - Disse em tom amistoso:— Ayden, não é?

Ele levantou os olhos azuis por um instante, frios, e apenas respondeu:

— Sim.

— Eu sou Lorena, trabalho na equipe de análise genética. Se precisar de ajuda para se localizar… - Ela tentou prolongar o contato, mas ele já havia voltado a digitar, ignorando a deixa.

Adrian percebeu, mas não comentou.

Lorena se afastou constrangida, ajeitando o jaleco.

Pouco depois, Adrian voltou a se concentrar em instruí-lo.

— Amanhã, quero que me acompanhe nas reuniões de revisão. Você vai anotar tudo, porque a apresentação aos investidores é decisiva. Se não mostrarmos resultados sólidos, podemos perder parte do financiamento.

Ayden respondeu com firmeza.

— Não se preocupe. Vai ter o que precisa antes do prazo.

Adrian sorriu, satisfeito, sem perceber a chama fria de vingança que crescia no olhar do rapaz.

O rapaz desviou os olhos para os gráficos.

A cada número que digitava, sua mente voltava à lembrança sobre o homem que ele admirava que foi injustiçado pelos Castelier. Ele respirou fundo, disfarçando a tensão.

Tinha que jogar bem, conquistar a confiança de Adrian para depois arrancá-la dele.

...---...

O relógio digital da parede marcava o duas da tarde quando Adrian levou Ayden até a sala principal do laboratório depois do almoço.

O ambiente era amplo, iluminado por grandes painéis de LED e repleto de bancadas de aço inox, frascos etiquetados e telas com gráficos em constante atualização. O ar cheirava a esterilização e café recém-passado.

— Aqui é onde passamos a maior parte do tempo. - Adrian disse, enquanto colocava as luvas de látex:— Vai se acostumar com o ritmo. Nem sempre é fácil, mas é recompensador.

O rapaz observava em silêncio, os olhos azuis royal brilhando mais pela intensidade de sua raiva contida do que pela curiosidade de principiante.

Mas, no papel de assistente júnior, assentiu.

— O que você quer que eu faça primeiro? - Ele perguntou com uma calma estudada.

Adrian sorriu de lado:

— Boa pergunta. Hoje, vamos começar revisando as amostras que chegaram ontem. Depois, quero que acompanhe de perto o processo de calibração do sequenciador. É uma tarefa delicada, mas quero que aprenda.

Enquanto Adrian mostrava as telas e explicava cada etapa, Ayden se forçava a manter a expressão de alguém admirado. Na verdade, o que sentia era vontade de contestar cada palavra, socar forte o rosto daquele herdeiro odioso, mas sabia que não podia se trair.

— E essa patente de que você falou antes? - Ayden comentou, enquanto digitava os dados sob supervisão de Adrian.

— Uma nova aplicação de bioengenharia celular. - Adrian respondeu, animado:— Estamos desenvolvendo uma técnica de regeneração específica para tecidos cardíacos. Se funcionar, poderá reduzir em até cinquenta por cento as complicações pós-operatórias. - Ele respirou fundo e completou com firmeza:— Precisa estar pronta até o final do mês. Os investidores estão esperando algo sólido.

— É ambicioso. - Ayden respondeu, com um leve arquejo, como se fosse de admiração, mas era apenas cálculo.

Adrian riu:

— É a marca da Castelier. Não aceitamos nada menos do que impossível.

As horas correram rápidas, entre tarefas práticas e explicações.

Adrian não apenas distribuía ordens, mas trabalhava lado a lado com a equipe. Segurava tubos, conferia planilhas, corrigia medições. Ele não parecia um presidente intocável, e isso mexia com Ayden, que tentava manter sua máscara intacta.

Em certo momento, uma outra assistente, Clara, de cabelos loiros presos em coque, se aproximou dele.

— Você é a nova adição a equipe, não é? - Disse, inclinando-se um pouco, com um sorriso sugestivo.

Ele respondeu apenas com um aceno, voltando para o relatório que digitava, nem a olhou.

Clara mordeu o lábio e se afastou, confusa com a indiferença.

Adrian, que percebeu de longe, deu uma risada curta e se aproximou:

— Já vi que vai ser popular por aqui.

Ayden ergueu o olhar devagar:

— Não vim para fazer amigos. Meu foco é no trabalho.

— Bom.. - Adrian respondeu, ainda sorrindo: — mas às vezes os amigos ajudam a manter a sanidade nesse lugar.

...-----...

Mais tarde, na pequena sala de descanso, os dois estavam sentados com bandejas simples à frente. Adrian comia distraído, olhando anotações no tablet. Ayden, porém, aproveitou a pausa para puxar outro tipo de conversa.

— Sabe, chefe, eu li sobre a história da sua mãe nos jornais. - Ele disse em tom baixo, quase respeitoso:— Não quis comentar antes para não parecer indelicado. Mas ela foi forte. Transformar a dor em força, mudar a imagem da Castelier para biogênese dessa forma é coisa de uma empresária de sucesso.

Adrian ergueu o olhar, surpreso com a franqueza. Seus olhos ganharam um brilho de orgulho.

— Minha mãe é a mulher mais forte que já conheci. - Ele apoiou os cotovelos na mesa: — Ela denunciou crimes quando teria sido mais fácil se calar. Assumiu os riscos e pagou o preço, mas não recuou. Isabelle herdou muito disso dela.

— Imagino. - Disse Ayden fingiu um sorriso educado.

— Só que… — Adrian desviou o olhar, por um instante sério:— Eu não gosto do noivo dela. Álvaro Roblez. Acho ele superficial. Muito preocupado com status, pouco com essência. Mas como é um arranjo da família, não me oponho.

Ayden se inclinou levemente a cabeça:

— Já falou isso a ela?

— Não. - Adrian balançou a cabeça: — Não me envolvo nos assuntos pessoais dela. Isabelle sempre tomou as próprias decisões, mesmo quando parecem impostas.

— Entendo. - Disse Ayden, voltando os olhos ao prato: — É melhor deixar que ela descubra sozinha, certo?

— Exatamente.

Ayden mudou de assunto rapidamente, mantendo o tom leve, mas dentro de si, um veneno pulsava:

"Álvaro Roblez, então é esse o nome do idiota. Vou descobrir tudo sobre ele. Vou fazê-la acreditar no príncipe encantado e depois ver o coraçãozinho mimado dela despedaçado. E então eu estarei ali para recolher os cacos."

Seu sorriso falso voltou, escondendo a sombra que passava por sua mente.

Por que quem move o tabuleiro, sabe a estratégia perfeita para o cheque-mate.

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Comments

Mara Melo

Mara Melo

Não estou entendendo o tempo na história, quando tudo aconteceu com a Cleia os gêmeos nem eram nascidos ,agora são adultos ,então quantos anos o Ayden tinha para quardar tanto ódio da família, e esse amor todo pelo o cientista maluco nasceu como ?No caso o Aiden teria que ter no mínimo a idade da Cleia .

2025-10-20

0

Alaise Santos Silva

Alaise Santos Silva

Isabella de alguma forma vai descobrir alguma coisa sobre ele 🤔🤔

2025-10-16

0

Alaise Santos Silva

Alaise Santos Silva

Então ele gostava de teste em fetos??? Monstro 🤔🤬

2025-10-16

0

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