O galpão rangia como se fosse desabar a qualquer instante. O cheiro de ferrugem e mofo se misturava ao ar denso. Do lado de fora, os gemidos abafados ecoavam, aproximando-se como um coro faminto.
— Eles estão cercando a gente — disse Lívia, apertando o facão contra o peito.
— Cercando não — corrigiu Maya, olhando para as sombras entre as frestas. — Estão caçando. Esses não são os comuns.
— Ah, maravilha — murmurou Diego, sentado no chão, mexendo num painel de energia coberto de poeira. — Sempre adoro quando a cientista anuncia nossa morte iminente.
Rafael, de pé ao lado dele, não riu. — Consegue ou não ligar esse gerador?
— Tá quase… — Diego respondeu, mordendo o lábio. — Se eu tivesse mais luz, seria mais rápido.
— Se você ligar o gerador, terá toda a luz que quiser — retrucou Rafael.
— Obrigado pela lógica, Capitão Óbvio. — Diego girou um fio, faíscas saltaram, e ele recuou. — Aí, tá vendo? Eles deviam contratar eletricistas pros apocalipses, não hackers.
— Eles? Quem são “eles”? — Lívia resmungou. — Tá falando besteira no pior momento possível, garoto.
BAM!
Um impacto na porta de ferro fez todos congelarem. Outro. A cada batida, o metal se dobrava mais.
Rafael ergueu o rifle, olhar fixo. — Se preparem.
— Quantos? — perguntou Lívia.
Ele encostou o ouvido na parede, tenso. — Cinco… seis, talvez. Mas estão estranhamente silenciosos.
— Então são evoluídos — confirmou Maya, com frieza.
Diego engoliu seco, mas tentou disfarçar. — Ótimo. Adoro upgrades.
BAM!
A porta caiu, e cinco figuras invadiram. Seus olhos leitosos refletiam a pouca luz, corpos tensos, rápidos demais para parecerem mortos.
— Cabeça! — gritou Rafael, atirando no primeiro.
O tiro ecoou, mas outro já vinha em seguida, direto contra Diego.
— Merda! — Diego puxou sua pistola velha e disparou, acertando em cheio. — Viu só? Ainda sei me virar!
O terceiro avançou sobre ele. A arma travou. — Ah, claro! Logo agora!
— Diego! — Rafael correu, disparando de perto. O zumbi caiu com o crânio estourado. Ele agarrou Diego pelo braço, puxando-o para trás. — Eu já falei mil vezes pra largar essa porcaria de pistola!
— Eu acertei um, tá? — Diego respondeu, ofegante, mas com um sorriso nervoso. — E não foi a arma que te beijou ontem à noite.
— Diego… — Rafael suspirou, sem tempo pra discutir.
— Depois eu falo mais, prometo! — Diego disparou de novo, agora usando uma faca improvisada para enfiar no olho de um dos monstros que se aproximava. — Não me olha assim, eu também sei usar lâmina!
Lívia avançou contra outro, enfiando o facão no pescoço da criatura. Ela recuou rápido, gritando: — Rafe, ajuda aqui!
Ele atirou sem pensar, estourando a cabeça do bicho.
— Eu falei que era na cabeça! — esbravejou.
— Você também podia agradecer! — Lívia rebateu.
Enquanto isso, Maya, calma como sempre, fincou uma barra de ferro no olho do último zumbi que vinha por trás. O corpo caiu convulsionando.
O silêncio voltou.
Todos respiravam pesadamente, olhando para o chão coberto de sangue e pedaços.
Diego quebrou a tensão primeiro: — Bom… pelo menos não foi chato.
Lívia o encarou, incrédula. — Como você consegue brincar depois disso?
— Alguém tem que manter o clima leve. — Ele limpou a faca na calça e piscou. — E convenhamos, sou ótimo nisso.
Rafael passou a mão no rosto suado, depois agarrou o ombro do namorado. — Você podia ter morrido.
— Mas não morri. — Diego abriu um meio sorriso. — E se morresse, ia ser culpa sua por me distrair com aquele beijo ontem.
Rafael fechou os olhos, respirando fundo, e puxou Diego num abraço rápido. — Você me deixa maluco.
— É, mas você gosta. — Diego riu, mesmo com a voz trêmula.
Lívia bufou. — Pronto, casalzinho no meio do apocalipse. Não dá pra ser normal, não?
— Normal morreu no dia em que esses bichos apareceram — respondeu Maya, voltando para o painel do gerador. — E se não ligarmos isso logo, vamos ter mais companhia.
Todos trocaram olhares. O perigo ainda não tinha acabado. Na verdade, só estava começando.
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Atualizado até capítulo 31
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