A porta de ferro rangeu com um som áspero, como se reclamasse por estar se abrindo depois de tanto tempo. Durante cinco anos, aquele barulho foi o meu maior pesadelo e, ao mesmo tempo, a minha maior esperança. Agora, ele marcava o fim de uma prisão que não era apenas feita de grades e paredes úmidas, mas de traição, de injustiça e de um amor que me havia esmagado.
O guarda me lançou um olhar rápido, indiferente, antes de entregar os poucos pertences que ainda restavam comigo. Um relógio parado, uma corrente de prata que havia perdido o brilho, e a lembrança de que o tempo, para mim, havia congelado.
Dei o primeiro passo para fora. O ar de Ardênia parecia diferente. O céu estava cinzento, pesado, como se soubesse que o meu retorno não era o de uma vítima, mas o de uma predadora. Inspirei fundo. O vento tinha o gosto amargo da liberdade.
No portão, um carro preto me esperava. Elegante, discreto. Reconheci de imediato o motorista que abriu a porta traseira: Camila Costa, minha assistente. Seus olhos brilharam ao me ver, embora tentasse disfarçar a emoção com a postura profissional que sempre admirei nela.
— Serena... — sua voz falhou por um instante. — Finalmente.
Sorri de canto, aquele sorriso contido que aprendi a usar para esconder a verdadeira tempestade dentro de mim.
— Finalmente — repeti, entrando no carro.
O estofado de couro me abraçou como uma lembrança de uma vida que parecia distante demais. Camila fechou a porta e deu a volta, assumindo o volante. No silêncio inicial, eu apenas olhei pela janela, vendo a estrada se abrir diante de mim como se fosse o primeiro traço da minha vingança se desenhando.
— Eu ainda não acredito que eles fizeram você pagar por algo que não cometeu — disse Camila, com os dedos apertando o volante. — Mas agora... agora vamos colocar tudo no lugar.
Virei-me lentamente para ela. Sua lealdade sempre foi inabalável. Durante cinco anos, ela foi minha voz do lado de fora, mantendo intacto o império que construí.
— Não, Camila. — Minha voz saiu firme, fria. — Agora, vamos destruir quem ousou brincar comigo.
Ela engoliu em seco, como se a intensidade das minhas palavras fosse um aviso.
O carro avançava pela estrada, cortando a paisagem cinzenta. O silêncio voltou, mas não durou. Camila desviou os olhos por um instante e perguntou:
— Posso te fazer uma pergunta?
— Sempre.
— Por que você nunca contou a ele? — O tom dela era hesitante, mas carregado de curiosidade. — Você poderia ter mostrado quem era desde o início. Poderia ter revelado que foi você quem o salvou, que é a verdadeira magnata por trás do maior império de Ardênia. Talvez... ele nunca tivesse acreditado naquela impostora.
Meu peito apertou. Não pelo arrependimento, mas pelo peso da lembrança. Fechei os olhos por um instante, sentindo de novo o frio da água, o desespero nos olhos dele quando criança.
— Porque eu não queria gratidão. — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro, mas cada palavra era afiada. — Eu queria amor. Queria que Aiden me olhasse e me escolhesse, não porque eu o salvei, não porque eu era rica, não porque eu tinha poder... mas porque o meu coração batia por ele.
Camila respirou fundo, voltando os olhos para a estrada.
— E o que você ganhou com isso?
Ri, mas sem humor.
— Cinco anos em uma prisão. — Abri os olhos e encarei meu reflexo no vidro. — E o gosto amargo de ver outra mulher roubar o meu lugar, usando um feito que nunca lhe pertenceu.
O carro seguiu em silêncio por alguns minutos, até que as torres do meu império surgiram no horizonte. Mesmo distante, podia ver os arranha-céus que carregavam o nome da minha família. Eu, Serena Valmont, era a mulher mais rica de Ardênia, herdeira de uma fortuna que poderia comprar reis, corromper governos, mover o mundo. Ainda assim, fui tratada como nada.
— Eles esqueceram quem eu era. — Toquei levemente o vidro, como se apontasse para as construções. — Mas agora vão se lembrar.
Camila sorriu de lado, com um ar de cumplicidade.
— Ardênia inteira vai tremer, Serena.
Inclinei a cabeça, observando cada detalhe que passava pela janela. Pessoas apressadas nas calçadas, carros que se moviam em fluxo constante, o mundo que continuou girando sem mim.
— Não, Camila. — Corrigi, com o olhar fixo. — Não apenas Ardênia. O mundo inteiro.
Ela assentiu, sem ousar contestar.
Enquanto o carro se aproximava do coração financeiro da cidade, pensei em Aiden Castellani. Seu rosto ainda queimava na minha memória, misto de amor antigo e decepção mortal. Ele acreditara em mentiras. Trocou-me por ilusões. E pior: me condenou, como se eu fosse a inimiga.
Mas agora... ele iria me ver.
Ver a mulher que ele enterrou viva por cinco anos.
Ver a verdadeira salvadora que ele nunca reconheceu.
Eu não seria mais a sombra que se escondia pelo amor. Eu seria a tempestade que destruiria tudo o que ele pensava ser seguro.
Afinal, o amor que eu guardei um dia morreu atrás das grades.
O que sobrou agora... era apenas ódio.
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Eneide Gonçalves Fernandes
começando ler agora tô gostando gosto de mulher forte
2025-09-13
2
bete 💗
mulher de personalidade e atitude
❤️❤️❤️❤️❤️
2025-09-14
0
Dulce Gama
tadinha de Serena sofreu cinco anos por não falar a verdade ó 🌟🌟🌟🌟🌟❤️❤️❤️❤️❤️🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹👍👍👍👍👍
2025-09-16
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