A Estrada
Amélia estava sentada no banco traseiro da minivan, com os fones no colo e o olhar perdido na janela. O vidro refletia seu rosto jovem, ainda marcado pela adolescência, mas os olhos carregavam um peso que não combinava com seus dezessete anos. Dentro de duas semanas completaria dezoito, a idade que tanto ansiava — a idade da liberdade. Mas, em vez de celebrar com os amigos e com o namorado, estava presa naquela viagem que não desejava.
— Eu não precisava estar aqui… — murmurou, quase sem voz, apenas para si mesma.
Sua avó, Teresa, notou a tristeza no semblante da neta. A senhora de cabelos prateados sorriu com doçura, colocando a mão enrugada sobre a dela.
— Minha menina, eu sei que não queria vir, mas me conforta ter você comigo. Não tem ideia de como esse tempo me fará bem.
Amélia a olhou de soslaio. Havia ternura naquelas palavras, mas também uma dor silenciosa. Teresa ainda chorava, às escondidas, a morte recente do marido — o padrasto de Patrick, pai de Amélia. Não era seu avô de sangue, mas ela sabia que o amor que a avó dedicava a ele fora real. Talvez por isso a jovem engolisse a raiva da viagem; não queria que a solidão da avó se tornasse maior.
Atrás delas, os irmãos quebravam o silêncio com brigas infantis. Anne Mary, com seus doze anos, estava exasperada pelo irmão mais novo, Andrew, que insistia em cutucá-la com um pedaço de massinha de modelar.
— Para, Andrew! — a garota gritou, empurrando a mão dele. — Você é insuportável!
— Chata! — o menino retrucou, inflando as bochechas. — Eu queria estar no meu quarto, jogando videogame!
Rachel, a mãe, fechou os olhos e massageou as têmporas. Patrick, o pai, apertou o volante com força. O ambiente dentro do carro parecia prestes a explodir.
— Andrew Coles! — a voz grave de Patrick ecoou. — Eu disse para não trazer essa porcaria!
O menino se encolheu, mas ainda choramingou:
— Eu não queria vir! Eu odeio essa viagem!
O silêncio caiu por alguns segundos, até Rachel perder a paciência de vez.
— Chega! — gritou, virando-se para trás. — Se vocês três não pararem agora, juro que a viagem vai ficar muito pior do que já está!
As crianças engoliram em seco. Amélia voltou a encarar a janela, desejando se tornar invisível.
Foram oito horas de estrada, entre discussões abafadas, suspiros e silêncios pesados. O carro avançava por caminhos cada vez mais estreitos, ladeados por árvores densas que se inclinavam sobre a estrada como se quisessem engolir os viajantes. O céu, antes claro, começava a escurecer, tingido por nuvens pesadas.
Quando a minivan finalmente parou diante da casa de verão, Amélia sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha.
A construção era imensa, erguida em madeira escura e pedra, com janelas grandes que refletiam o lago que a cercava. A água, quase imóvel, espelhava o céu cinzento e parecia esconder algo profundo, insondável. A faixa de areia em volta dava um ar ilusório de praia particular, mas as árvores altas, enfileiradas como guardiãs, conferiam ao lugar um aspecto de clausura.
Anne e Andrew correram pela areia, rindo como se nada tivesse acontecido durante o trajeto. Rachel suspirou, aliviada pelo momento de paz, enquanto Teresa permanecia imóvel, encarando a casa com olhos marejados.
Amélia, no entanto, não conseguia se sentir confortável. Quanto mais olhava para a mansão e para o lago, mais sua pele formigava. Era como se algo invisível a observasse do meio das árvores.
E, mesmo sem ver, ela sabia: havia algo ali.
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Atualizado até capítulo 66
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