ecos no morro

O sol já havia se escondido por trás das casas amontoadas quando Marina percebeu que não sabia exatamente onde estava. As vielas do morro eram um labirinto de becos estreitos, cheios de curvas, vozes e olhares atentos. Cada esquina parecia ter vida própria, cada sombra guardava uma história. O coração dela batia acelerado, e os passos ecoavam no chão irregular de cimento gasto.

— Tá perdida, menina? — a voz veio firme, quase ríspida, de um garoto que estava sentado no degrau de uma escada. Era Rafael, o RL. Ele segurava um caderno gasto nas mãos, como se estivesse estudando em meio à rua. O olhar dele a analisou de cima a baixo, sem maldade, mas com desconfiança.

— Eu… acho que sim. — Marina respondeu, tentando controlar o nervosismo. — Procuro a mercearia da dona Catarina. Disseram que era por aqui.

RL se levantou, fechando o caderno com cuidado. Ele já tinha visto rostos novos passarem pelo morro, mas havia algo diferente naquela garota: não parecia ser visita, e tampouco parecia alguém acostumada com o ritmo daquele lugar.

— Vem comigo, eu te mostro. — disse, enfiando as mãos no bolso. — Mas anda rápido, porque a noite não é hora de ficar rodando por aqui.

Marina o seguiu, ainda sentindo o peso dos olhares curiosos que vinham das janelas e das portas entreabertas. As pessoas do morro sabiam quando alguém de fora aparecia, e raramente isso passava despercebido. RL caminhava firme, como quem conhecia cada pedra no chão, desviando das crianças que ainda brincavam e cumprimentando com um aceno discreto os conhecidos que cruzavam seu caminho.

Poucos minutos depois, chegaram diante de uma pequena mercearia iluminada por lâmpadas amareladas. A placa de madeira trazia escrito “Catarina – Produtos e Quitutes”. Do lado de dentro, uma mulher de olhar cansado, mas sorriso caloroso, arrumava pacotes de arroz em uma prateleira.

— Boa noite, dona Catarina. — RL anunciou, empurrando a porta com leveza. — Achei essa moça perdida pelas bandas de cima. Disse que procurava a senhora.

Catarina ergueu o olhar, surpresa ao ver Marina. Aproximou-se com um avental sujo de farinha, mas uma expressão acolhedora.

— Seja bem-vinda, filha. Aqui todo mundo se conhece… e quando aparece alguém novo, a gente logo nota. Qual é o seu nome?

— Marina. — respondeu, tentando sorrir. — Preciso de um lugar pra ficar… só por um tempo.

A resposta fez Catarina suspirar fundo. Receber alguém de fora sempre trazia riscos, mas havia algo sincero no olhar da jovem. Antes que pudesse responder, a porta da mercearia se abriu novamente. Dinho entrou, com seu jeito agitado e olhar desconfiado.

— Quem é? — perguntou, quase em tom de ordem, olhando diretamente para Marina.

RL interveio rápido:

— É Marina. Eu encontrei ela perdida.

Dinho semicerrava os olhos, avaliando. Era o tipo de homem que não confiava facilmente. Mas, antes que pudesse falar algo, uma voz firme ecoou do lado de fora.

— Deixa a menina respirar, Dinho. — Era Zeca, parado na porta, imponente como sempre. Seu olhar pousou sobre Marina com intensidade, como se tentasse adivinhar sua história em um segundo. — Aqui no morro ninguém entra sem motivo. E todo motivo tem um preço.

O silêncio que se seguiu foi pesado. Marina sentiu as pernas tremerem, mas respirou fundo.

— Só quero recomeçar. Não tenho mais pra onde ir. — disse, a voz firme apesar do medo.

Zeca a encarou por alguns instantes antes de soltar um leve sorriso de canto.

— Coragem você tem. Isso já é alguma coisa.

Catarina quebrou o clima, colocando uma mão no ombro da jovem.

— Deixa comigo, Zeca. Ela pode ficar aqui por uns dias, até se ajeitar.

Zeca assentiu, mas deixou claro em seu tom:

— Então é responsabilidade sua. — E saiu, com Dinho seguindo logo atrás.

RL trocou um olhar com Marina, um misto de curiosidade e respeito.

— Bem-vinda ao morro. — disse, simples, antes de voltar à noite.

Marina respirou aliviada. Mal sabia ela que aquele seria apenas o início de uma jornada onde cada passo guardaria tanto perigo quanto descoberta.

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Comments

Leitora compulsiva

Leitora compulsiva

chegou já mira do boy Master 🤭🤣

2025-09-11

0

Izabel Cruz

Izabel Cruz

/Drool//Awkward//Awkward//Awkward//Drool//Drool//Drool//Drool//Drool/

2025-09-17

0

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