Capítulo 3 – Olhos que Não Se Esquecem

O sol já estava alto quando saímos da casa em ruínas, os pés ainda sujos de poeira e cinzas da batalha. Ravaryn estava em silêncio agora, mas não havia paz. O cheiro de fumaça e madeira queimada ainda persistia, e os moradores olhavam desconfiados uns para os outros, tentando entender o que havia acontecido.

Arlen me puxou pela mão, desviando de destroços e barracas destruídas.

— Lyra… precisamos verificar se todos estão bem. — Ele falava baixo, mas o tremor na voz denunciava o medo que ainda carregava.

Eu mal conseguia pensar. Cada passo que eu dava me lembrava do que vi na batalha: Kaelron avançando entre as criaturas como se tivesse nascido para lutar, os olhos claros fixos em cada movimento, a confiança e a precisão de um guerreiro experiente. E mesmo sem nos conhecermos, algo nele me fez tremer, como se algo em mim o reconhecesse — embora eu não soubesse o quê.

Nos aproximamos da praça central, onde o príncipe ainda estava. Ele desmontava do cavalo, ajudando os aldeões a se levantar, avaliando os danos. Quando finalmente nossos olhares se cruzaram, meu corpo inteiro gelou.

— Lyra? — Arlen murmurou surpreso, mas eu não ouvi. Eu só conseguia olhar para ele.

Kaelron parou e me fitou com atenção intensa. Não havia hostilidade em seus olhos, mas havia algo estranho, quase como se ele estivesse tentando me ler sem palavras. Por um instante, o mundo desapareceu ao redor.

— Quem é você? — eu finalmente consegui perguntar, a voz quase um sussurro.

— Eu sou Kaelron. — Ele respondeu firme, mas não agressivo. — Príncipe herdeiro de Elíndar. E você é…?

— Lyra. Lyra de Ravaryn. — A palavra “Ravaryn” saiu com um fio de hesitação. — Mas você… por que está aqui?

Ele olhou ao redor, avaliando a vila.

— Recebi notícias do ataque. Vim assim que pude. — Ele se aproximou, mantendo distância respeitosa, mas havia determinação na forma como falava. — Parece que chegamos tarde para alguns, mas conseguimos impedir que fosse pior.

Eu não consegui esconder o espanto.

— Você chegou sozinho com seus cavaleiros e… salvou a vila. — A incredulidade soava na minha voz.

Kaelron desviou o olhar, os lábios se curvando em um sorriso discreto.

— Não sozinho. Mas… talvez tenha sido o suficiente. — Então olhou diretamente para mim novamente, e senti o calor subir às minhas bochechas. — Você está bem?

— Estou… — respondi, hesitando. Havia algo na forma como ele olhava, algo que parecia ver mais do que eu mostrava. — Ainda… não consigo acreditar no que aconteceu.

— É normal. — Ele respondeu com calma. — Aquelas criaturas… não são comuns. E Ravaryn não deveria ter sido o alvo.

Eu engoli em seco. — Então… por que nós?

Ele hesitou. Por um instante, apenas me observou, como se procurasse as palavras certas.

— Eu não sei… ainda. Mas você… estava lá. No meio de tudo. Observando, sem fugir. — Ele me fitou com intensidade, mas sem julgamento. — Há algo em você que não posso explicar.

A confusão tomou conta do meu peito. Sentia uma energia estranha dentro de mim, pulsando e tentando se manifestar, mas eu não conseguia compreender o que era.

— Eu… não sei o que sente — murmurei. — Mas… é como se algo dentro de mim estivesse… reagindo.

Ele franziu a testa, mas não disse nada. Apenas me observava, e algo naquele silêncio dizia que ele também sentia que algo importante estava acontecendo, algo além do ataque.

— Preciso falar com os aldeões — disse por fim, desviando o olhar. — A vila ainda precisa de ajuda.

— Claro. — Kaelron respondeu, recuando um passo, mas ainda mantendo os olhos fixos em mim. — Eu… posso ajudar.

Arlen me olhou, preocupado, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Kaelron se voltou para organizar os cavaleiros que ainda permaneciam nas ruas. A presença dele era imponente, e mesmo sem palavras, transmitia segurança.

Eu sabia que aquela não seria a última vez que o veria. Havia algo inevitável naquele encontro, algo que eu não compreendia, mas que mudaria minha vida para sempre.

Enquanto eu e Arlen ajudávamos os aldeões a reconstruir o que restara, sentia o olhar dele em mim, mesmo de longe. E a sensação dentro do peito crescia, silenciosa, como se estivesse apenas começando a despertar.

Capítulos
1 Capítulo 1 – O Silêncio Antes da Tempestade
2 Capítulo 1 – O Silêncio Antes da Tempestade (continuação)
3 Capítulo 1 – O Silêncio Antes da Tempestade (conclusão)
4 Capítulo 2 – Chamas e Sussurros
5 Capítulo 3 – Olhos que Não Se Esquecem
6 Capítulo 4 – Entre Ruínas e Segredos
7 Capítulo 5 – Entre Medo e Lealdade
8 Capítulo 6 – O Silêncio da Noite
9 Capítulo 7 – O Amanhecer Sobre Cinzas
10 Capítulo 8 – Vozes Entre Cinzas
11 Capítulo 9 – Sussurros na Escuridão
12 Capítulo 10 – O Amanhecer da Partida
13 Capítulo 11 – Entre Cinzas e Aurora
14 Capítulo 12 – Ecos do Amanhecer
15 Capítulo 13 – Sussurros do Vento
16 Capítulo 14 – O Sussurro das Sombras
17 Capítulo 15 – Ecos do Passado
18 Capítulo 16 – Sombras e Segredos
19 Capítulo 17 – Lembranças de um Dia Perdido
20 Capítulo 18- O Medalhão
21 Capítulo 19 – Entre Vilas e Segredos
22 Capítulo 20 – Noite Entre Sombras
23 Capítulo 21 – Ecos ao Amanhecer
24 Capítulo 22 – A Casa dos Ecos
25 Capítulo 23 – Estrada para a Capital
26 Capítulo 24 — A Cidade De Mil Olhos
27 Capítulo 25 – Ecos na Capital
28 Capítulo 26 – Sombras na Cidade
29 Capítulo 27 – Vozes nas Sombras
30 Capítulo 28 – O Eco dos Portões
31 Capítulo 29 – As Sombras do Palácio Velho
32 Capítulo 30 – Ecos e Planos nas Sombras
33 Capítulo 31 – Entre Correntes e Sombras
34 Capítulo 32 – A Fuga pelas Sombras
35 Capítulo 33 – Correntes Invisíveis
36 Capítulo 34 – Entre Cinzas e Segredos
Capítulos

Atualizado até capítulo 36

1
Capítulo 1 – O Silêncio Antes da Tempestade
2
Capítulo 1 – O Silêncio Antes da Tempestade (continuação)
3
Capítulo 1 – O Silêncio Antes da Tempestade (conclusão)
4
Capítulo 2 – Chamas e Sussurros
5
Capítulo 3 – Olhos que Não Se Esquecem
6
Capítulo 4 – Entre Ruínas e Segredos
7
Capítulo 5 – Entre Medo e Lealdade
8
Capítulo 6 – O Silêncio da Noite
9
Capítulo 7 – O Amanhecer Sobre Cinzas
10
Capítulo 8 – Vozes Entre Cinzas
11
Capítulo 9 – Sussurros na Escuridão
12
Capítulo 10 – O Amanhecer da Partida
13
Capítulo 11 – Entre Cinzas e Aurora
14
Capítulo 12 – Ecos do Amanhecer
15
Capítulo 13 – Sussurros do Vento
16
Capítulo 14 – O Sussurro das Sombras
17
Capítulo 15 – Ecos do Passado
18
Capítulo 16 – Sombras e Segredos
19
Capítulo 17 – Lembranças de um Dia Perdido
20
Capítulo 18- O Medalhão
21
Capítulo 19 – Entre Vilas e Segredos
22
Capítulo 20 – Noite Entre Sombras
23
Capítulo 21 – Ecos ao Amanhecer
24
Capítulo 22 – A Casa dos Ecos
25
Capítulo 23 – Estrada para a Capital
26
Capítulo 24 — A Cidade De Mil Olhos
27
Capítulo 25 – Ecos na Capital
28
Capítulo 26 – Sombras na Cidade
29
Capítulo 27 – Vozes nas Sombras
30
Capítulo 28 – O Eco dos Portões
31
Capítulo 29 – As Sombras do Palácio Velho
32
Capítulo 30 – Ecos e Planos nas Sombras
33
Capítulo 31 – Entre Correntes e Sombras
34
Capítulo 32 – A Fuga pelas Sombras
35
Capítulo 33 – Correntes Invisíveis
36
Capítulo 34 – Entre Cinzas e Segredos

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