O eco das palavras do ancião ainda pairava no ar quando um rugido grave rasgou o silêncio da praça. O som reverberou pelas montanhas como se algo gigantesco tivesse despertado.
As tochas tremularam, algumas se apagando, e o frio da noite se tornou cortante, antinatural. Do alto das muralhas, guardas gritaram em desespero:
— Eles estão vindo! Preparem-se!
E então vimos.
Das sombras do vale surgiram criaturas que não deveriam existir. Seus corpos eram retorcidos, alguns lembrando lobos de olhos incandescentes, outros parecendo homens cobertos de garras e presas. Suas silhuetas deformadas se arrastavam na direção dos portões, emitindo uivos e grunhidos que fizeram a multidão entrar em pânico.
— Corram para as casas! — berrou o ancião, mas era tarde demais. O portão da muralha estremeceu com o impacto da primeira investida.
Arlen me agarrou pela mão.
— Lyra, precisamos sair daqui! Agora!
Eu queria obedecer, mas algo me mantinha presa. Era como se minhas pernas não me pertencessem mais. Dentro de mim, uma onda de calor subia, latejando, pedindo para escapar — mas eu não sabia o que era. Não entendia.
De repente, uma flecha silvou pelo ar e atingiu uma das criaturas em cheio, fazendo-a tombar antes que alcançasse a praça. Outra, e mais outra seguiram a primeira, certeiras.
— Guardas?! — Arlen arregalou os olhos.
Mas não eram os nossos guardas.
As muralhas se abriram com estrondo, e cavaleiros armados avançaram pelas ruas estreitas, as espadas refletindo a luz das tochas. À frente deles vinha um jovem de armadura prateada, o estandarte real tremulando atrás de si. Seu rosto era firme, seus olhos claros como aço, e cada movimento parecia carregado de autoridade.
— Pelo Reino de Elíndar, protejam o povo! — sua voz ecoou poderosa sobre a confusão.
Um príncipe. Eu sabia quem era, mesmo nunca tendo visto de perto. Kaelron, herdeiro do trono. O homem que todos diziam ser um guerreiro nato, mas que jamais havia deixado a segurança da capital.
O choque percorreu a multidão, mas não houve tempo para questionar. Ele desceu do cavalo com agilidade, espada em punho, e se lançou contra a primeira criatura que atravessou a muralha, abatendo-a com um golpe limpo.
Meu coração disparou. Não só pela brutalidade da cena, mas porque, por um instante, os olhos dele cruzaram os meus.
E naquele olhar havia algo estranho. Como se ele soubesse quem eu era.
As criaturas rugiram novamente, e a batalha se espalhou pela praça. Eu não podia me mover, não podia respirar. O calor dentro de mim latejava mais forte, como se implorasse para sair, mas continuei imóvel, assustada demais para entender o que acontecia comigo.
Arlen me puxou com força.
— Lyra, não olhe para eles! Precisamos encontrar abrigo!
Mas, mesmo sendo arrastada, virei o rosto uma última vez.
Kaelron lutava como se tivesse nascido para aquilo, seus golpes certeiros abrindo caminho entre a escuridão. Ainda assim, eu sabia, sem entender o porquê, que ele não tinha vindo salvar Ravaryn por acaso.
Algo não estava certo, por que uma príncipe viria para uma vila isolada?
O que não foi contado? Porque meu país sumirão sem deixar rastros?
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Atualizado até capítulo 36
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