Capítulo 4 - A Semente da Inveja – Gael

O uísque desceu queimando pela garganta de Gael Montfleur, mas o fogo em seu peito era mais antigo e muito mais quente. Ele bateu o copo de cristal pesado sobre a mesa de mogno maciço, e o som seco ecoou por seu escritório suntuoso e sombrio. O escritório de Gael era o oposto polar do de Yaruan. Onde o do irmão mais novo era um santuário de minimalismo e tecnologia, o de Gael era uma fortaleza de tradição e poder palpável. As paredes eram revestidas de madeira escura, adornadas com mapas náuticos antigos e fotos em preto e branco de seu avô inaugurando navios cargueiros. Cheirava a couro, tabaco e a uma raiva contida que parecia ter impregnado a própria mobília.

— Sem precedentes... — Gael zombou para o silêncio do escritório, imitando a voz trêmula de um dos diretores na videochamada de emergência que acabara de terminar. — A jogada de um gênio... Puta merda.

Ele se levantou, grande e inquieto, e começou a andar de um lado para o outro. Um urso enjaulado. A humilhação ainda ardia em sua pele. Ele, o chefe da Divisão de Logística Global, o homem que conhecia cada porto, cada sindicato e cada rota como a palma de sua mão calejada, fora publicamente descartado. Sua solução para a crise em Singapura — pragmática, segura, testada pelo tempo — fora ridicularizada como "força bruta". E a solução de Yaruan, aquela manobra digital, aquele truque de mágica com trens e favores políticos, fora aplaudida como a segunda vinda de Cristo.

Frescura, pensou Gael. Era tudo uma frescura de moleque. Um show de pirotecnia para impressionar os velhos do conselho que não entendiam mais como o mundo real funcionava. O mundo real era feito de graxa, suor e acordos selados com um aperto de mão firme, não com algoritmos e cláusulas escondidas em contratos de trezentas páginas. Ele se lembrava de passar semanas nos portos, sob um sol escaldante, negociando com líderes sindicais teimosos, aprendendo o negócio da forma como deveria ser aprendido: no chão da fábrica. E Yaruan? Yaruan aprendia o mundo através de telas, transformando o trabalho de homens de verdade em meros pontos de dados em seus gráficos elegantes.

A inveja não era um sentimento novo. Era uma semente plantada na infância, regada diariamente pela atenção que seu pai dispensava ao irmão mais novo. Gael se lembrou de um dia, quando ele tinha talvez doze anos. Havia passado a tarde inteira ajudando a equipe de manutenção a consertar um motor de barco na propriedade da família. Suas mãos estavam sujas de graxa, um corte no seu dedo, mas ele sentia um orgulho imenso de seu trabalho prático. Quando mostrou as mãos ao pai, esperando um elogio, Arthur Montfleur apenas franziu o nariz em desaprovação. Minutos depois, Yaruan, com oito anos, entrou no escritório do pai e, em menos de dez minutos, resolveu um complexo quebra-cabeça japonês que estava na mesa do patriarca há dias. O olhar de orgulho que Arthur deu a Yaruan naquele momento foi uma faca que se cravou no peito de Gael e nunca mais saiu.

O forte. O trabalhador. O herdeiro. Esses eram os papéis que deveriam ser de Gael. Mas Yaruan, com sua mente afiada e seu charme fácil, havia roubado os holofotes, redefinindo o que significava ser valioso para a família Montfleur. E o ressentimento de Gael apodreceu, transformando-se em um miasma venenoso que sufocava qualquer ambiente que ele compartilhasse com o irmão. Nas reuniões de família, ele mal conseguia suportar a forma como seus pais e até mesmo seus tios se calavam quando Yaruan começava a falar. Nas reuniões de conselho, ele via a admiração nos olhos dos executivos e sentia seu estômago revirar.

Ele parou em frente à janela. Seu escritório não oferecia a vista panorâmica e divina de Yaruan. Ele ficava em um andar mais baixo, com uma visão mais direta dos portos e das docas. Ele via os guindastes, os contêineres sendo movidos. O trabalho real. O trabalho que Yaruan controlava de sua torre de marfim. Gael se serviu de outra dose de uísque.

Aquele filhinho de mamãe não estava apenas ofuscando-o. Ele estava tornando-o obsoleto. Cada inovação de Yaruan, cada algoritmo de otimização, era um prego a mais no caixão da velha guarda, a guarda de Gael. E a raiva que sentia não era apenas inveja; era medo. Medo de ser visto como um dinossauro, uma relíquia de uma era passada, enquanto seu irmão mais novo se tornava o futuro indiscutível da Montfleur Global.

Ele pensou no "acidente" com o carro. A falha fora ter sido sutil demais. Ter confiado em um mecânico incompetente. Yaruan era inteligente, sim, mas também era sortudo. E a sorte, Gael sabia, uma hora acaba. A abordagem precisava ser diferente. Mais direta. Menos... elegante. Tinha que ter a sua marca: força bruta.

Seu olhar caiu sobre um pesado peso de papel em sua mesa, uma miniatura de bronze de uma âncora de navio, um presente de seu avô. Ele a pegou, o metal frio e pesado enchendo sua palma. Seu avô entendia o valor da força, da ação decisiva. Ele não teria tolerado um exibicionista como Yaruan. Ele teria valorizado a lealdade e o trabalho duro de Gael.

A decisão se solidificou em sua mente, fria e pesada como a âncora em sua mão. Competir com Yaruan no tabuleiro dele era uma batalha perdida. As salas de reuniões eram o palco de Yaruan. Gael precisava arrastá-lo para a sua arena. Uma arena onde algoritmos e charme não valiam nada. Onde a sorte não poderia salvá-lo.

Ele não iria mais tentar minar a carreira do irmão. Iria acabar com ela. E com ele. A semente da inveja, nutrida por décadas de ressentimento, finalmente germinou, e o fruto que ela prometia era a violência. Gael colocou a âncora de volta na mesa com um baque surdo e final. A hora dos jogos havia acabado.

...***...

Se está gostando não deixe de curtir pra mim saber e me segue no coraçãozinho, bjs.

❤⃛ヾ(๑❛ ▿ ◠๑ )

Capítulos
1 Capítulo 1 - O Monarca Escarlate da Montfleur
2 Capítulo 2 - A Missão do Amor (Superficial)
3 Capítulo 3 - O Império de Silício e Aço
4 Capítulo 4 - A Semente da Inveja – Gael
5 Capítulo 5 - A Astúcia Oculta – Sérgio
6 Capítulo 6 - O Primeiro "Acidente"
7 Capítulo 7 - A Armadilha Financeira
8 Capítulo 8 - O Jogo de Xadrez Corporativo
9 Capítulo 9 - O Santuário Pessoal de Yaruan
10 Capítulo 10 - O Presentimento
11 Capítulo 11 - A Noite Chuvosa na Galeria
12 Capítulo 12 - Clara e o Azul Profundo
13 Capítulo 13 - A Conversa Inesperada
14 Capítulo 14 - Uma Conexão Genuína
15 Capítulo 15 - O Amanhecer e o Vazio
16 Capítulo 16 - O Vazio Doloroso
17 Capítulo 17 - O Detetive do Coração
18 Capítulo 18 - A Intensificação da Guerra
19 Capítulo 19 - A Armadilha de Sérgio
20 Capítulo 20 - A Contratramo de Yaruan
21 Capítulo 21 - A Queda de Sérgio
22 Capítulo 22 - Uma Pista Fragrante
23 Capítulo 23 - O Reencontro na Floricultura
24 Capítulo 24 - A Confissão de Clara
25 Capítulo 25 - O Protetor Apaixonado
26 Capítulo 26 - A Fúria de Gael
27 Capítulo 27 - O Plano Diabólico de Gael
28 Capítulo 28 - A Intuição de Yaruan
29 Capítulo 29 - A Descoberta da Sabotagem
30 Capítulo 30 - O Confronto Final
31 Capítulo 31 - A Reunião Patriarcal
32 Capítulo 32 - O Veredito de Arthur
33 Capítulo 33 - A Distorção do Amor Familiar
34 Capítulo 34 - A Rejeição e o Banimento
35 Capítulo 35 - O Adeus Amargo
36 Capítulo 36 - A Luz no Fim do Túnel
37 Capítulo 37 - O Santuário do Amor Verdadeiro
38 Capítulo 38 - O Fim de Uma Era
39 Capítulo 39 - O Novo Horizonte
40 Capítulo 40 - A Promessa
41 Capítulo 41 - O Recomeço Humilde
42 Capítulo 42 - Aura: O Nome da Nova Empresa
43 Capítulo 43 - O Primeiro Grande Contrato
44 Capítulo 44 - A Inovação Contínua
45 Capítulo 45 - O Reflexo do Passado
46 Capítulo 46 - A Construção de Um Lar
47 Capítulo 47 - O Vermelho e Seu Novo Significado
48 Capítulo 48 - O Legado de Yaruan
49 Epílogo
Capítulos

Atualizado até capítulo 49

1
Capítulo 1 - O Monarca Escarlate da Montfleur
2
Capítulo 2 - A Missão do Amor (Superficial)
3
Capítulo 3 - O Império de Silício e Aço
4
Capítulo 4 - A Semente da Inveja – Gael
5
Capítulo 5 - A Astúcia Oculta – Sérgio
6
Capítulo 6 - O Primeiro "Acidente"
7
Capítulo 7 - A Armadilha Financeira
8
Capítulo 8 - O Jogo de Xadrez Corporativo
9
Capítulo 9 - O Santuário Pessoal de Yaruan
10
Capítulo 10 - O Presentimento
11
Capítulo 11 - A Noite Chuvosa na Galeria
12
Capítulo 12 - Clara e o Azul Profundo
13
Capítulo 13 - A Conversa Inesperada
14
Capítulo 14 - Uma Conexão Genuína
15
Capítulo 15 - O Amanhecer e o Vazio
16
Capítulo 16 - O Vazio Doloroso
17
Capítulo 17 - O Detetive do Coração
18
Capítulo 18 - A Intensificação da Guerra
19
Capítulo 19 - A Armadilha de Sérgio
20
Capítulo 20 - A Contratramo de Yaruan
21
Capítulo 21 - A Queda de Sérgio
22
Capítulo 22 - Uma Pista Fragrante
23
Capítulo 23 - O Reencontro na Floricultura
24
Capítulo 24 - A Confissão de Clara
25
Capítulo 25 - O Protetor Apaixonado
26
Capítulo 26 - A Fúria de Gael
27
Capítulo 27 - O Plano Diabólico de Gael
28
Capítulo 28 - A Intuição de Yaruan
29
Capítulo 29 - A Descoberta da Sabotagem
30
Capítulo 30 - O Confronto Final
31
Capítulo 31 - A Reunião Patriarcal
32
Capítulo 32 - O Veredito de Arthur
33
Capítulo 33 - A Distorção do Amor Familiar
34
Capítulo 34 - A Rejeição e o Banimento
35
Capítulo 35 - O Adeus Amargo
36
Capítulo 36 - A Luz no Fim do Túnel
37
Capítulo 37 - O Santuário do Amor Verdadeiro
38
Capítulo 38 - O Fim de Uma Era
39
Capítulo 39 - O Novo Horizonte
40
Capítulo 40 - A Promessa
41
Capítulo 41 - O Recomeço Humilde
42
Capítulo 42 - Aura: O Nome da Nova Empresa
43
Capítulo 43 - O Primeiro Grande Contrato
44
Capítulo 44 - A Inovação Contínua
45
Capítulo 45 - O Reflexo do Passado
46
Capítulo 46 - A Construção de Um Lar
47
Capítulo 47 - O Vermelho e Seu Novo Significado
48
Capítulo 48 - O Legado de Yaruan
49
Epílogo

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