O salão ainda fervilhava com a revelação. A notícia de que eu me casaria com Gael Castellani, o tio jovem do meu ex, havia se espalhado como fogo em palha seca. Os olhares se cruzavam, alguns de espanto, outros de escárnio, mas o mais marcante era o rosto lívido do homem que me levara à morte na vida passada.
Ele atravessou o salão com passos apressados, o maxilar rígido, a amante correndo atrás dele como uma sombra. Parou diante de mim e de Gael, ignorando completamente a etiqueta e a presença de todos.
— Você enlouqueceu de vez, não foi? — ele disse, a voz baixa, mas carregada de veneno. — Casar-se com ele? Com… com meu tio?
O silêncio caiu como uma pedra. Eu podia sentir os olhares fixos em nós, esperando minha reação.
Na vida passada, eu teria corado, engasgado em explicações, tentando me justificar. Desta vez, não.
Ergui o queixo, segurei mais forte a mão de Gael e encarei meu ex com um meio sorriso.
— Prefiro me casar com um homem de honra do que com alguém que não conhece o significado da palavra lealdade.
O rubor de raiva subiu pelo pescoço dele. Seus olhos faiscavam, e por um instante ele esqueceu-se até da amante, que puxava discretamente sua manga, temendo que ele se expusesse demais.
— Você não sabe o que está fazendo — ele insistiu, a voz quase um sussurro. — Esse casamento vai destruir você.
— Já me destruíram uma vez — respondi friamente. — A diferença é que agora não sou eu quem deve ter medo.
A tensão era palpável. Eu podia sentir meu coração martelando no peito, mas a sensação de enfrentá-lo de frente, sem abaixar a cabeça, era libertadora.
Foi então que Gael se inclinou ligeiramente para frente, sua voz grave cortando o ar como uma lâmina.
— Não fale assim com a minha noiva.
Todos prenderam a respiração. Era raro ouvir Gael se pronunciar em público, ainda mais de forma tão incisiva. Seu tom não deixava espaço para réplica.
Meu ex abriu a boca, pronto para retrucar, mas o olhar de Gael o paralisou. Não era apenas uma repreensão: era um aviso.
A amante, fingindo calma, interveio:
— Adrian, não se exalte. Não precisamos disso aqui…
Mas já era tarde. A humilhação pública estava feita. Ele recuou, mas não antes de me lançar um olhar de ódio que gelou minha espinha. Eu sabia que ele não desistiria tão facilmente.
Mais tarde, quando a cerimônia terminou e os convidados se dispersaram, Gael me chamou em particular. Estávamos em uma sala mais reservada, longe dos olhares curiosos. Ele se virou para mim, os olhos brilhando em uma mistura de cálculo e surpresa.
— Você se divertiu? — perguntou, com um sorriso torto.
— Me diverti? — repeti, arqueando as sobrancelhas. — Apenas disse a verdade.
Ele me observou por um instante, como se estivesse tentando decifrar minhas intenções. Finalmente, suspirou.
— Não esperava que você fosse me defender. Na verdade, eu tinha certeza de que recuaria diante dele.
— Eu já recuei uma vez — confessei, minha voz embargada. — E perdi tudo. Não vou repetir o mesmo erro.
Gael se inclinou para frente, os dedos batendo ritmicamente no braço da cadeira.
— Você fala como alguém que carrega mais do que deveria. — Sua voz era baixa, quase um sussurro. — Isso me intriga.
Eu desviei o olhar, temendo que ele pudesse enxergar além do que eu estava disposta a revelar. Se ele descobrisse que eu havia voltado do passado, que carregava lembranças de uma vida arruinada… talvez tudo mudasse.
— Digamos apenas que aprendi a reconhecer um inimigo quando o vejo — respondi. — E o seu sobrinho… é um deles.
Gael sorriu, mas havia algo perigoso naquele gesto.
— Então parece que temos mais em comum do que eu imaginava.
Fiquei em silêncio, mas dentro de mim havia uma chama acesa. Ali, naquele salão repleto de máscaras e intrigas, eu havia traçado uma nova linha entre passado e futuro.
De um lado, o homem que me condenou. Do outro, o homem que todos acreditavam ser fraco, mas que escondia uma força letal.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
bete 💗
sem palavras ❤️❤️❤️❤️❤️
2025-09-10
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