O som estridente do despertador me fez abrir os olhos de súbito. Minha respiração estava pesada, como se eu tivesse acabado de despertar de um pesadelo… mas o mais perturbador era que tudo parecia real demais para ser apenas um sonho.
As cortinas cor de marfim balançavam suavemente com a brisa da manhã. O quarto era exatamente como eu me lembrava: cada detalhe da mobília, cada quadro, cada estante repleta de livros que eu lia para me distrair antes de dormir. Só que aquilo não podia ser. Meu quarto havia sido tomado, vendido, destruído depois que meu mundo ruiu.
Levantei-me devagar, com o coração acelerado. Minhas mãos tremiam. Fui até a penteadeira e encarei o espelho. O reflexo que vi não era o da mulher exausta e sem esperança que havia se despedido da vida, mas o de alguém mais jovem, com olhos ainda não completamente apagados pela dor. Toquei meu próprio rosto, tentando confirmar se não estava enlouquecendo. Minha pele estava firme, meus cabelos soltos caíam em ondas escuras sobre os ombros.
— Isso… isso não é possível… — sussurrei, sentindo o frio percorrer minha espinha.
Naquele instante, um som familiar ecoou pela casa: passos firmes no corredor, seguidos pelo bater de uma bengala. Meu avô. O coração quase parou no peito. Ele já não estava vivo quando eu… quando eu… me joguei no abismo. Mas agora, ali estava ele, abrindo a porta com aquele mesmo olhar grave e protetor.
— Você ainda está na cama, menina? — disse, com a voz carregada de autoridade. — Hoje temos compromissos importantes.
Eu não consegui responder de imediato. Lágrimas brotaram em meus olhos sem que eu pudesse impedir. Meu avô estava vivo. Meu avô, que havia sido o único a lutar por mim, a me defender até o fim, mesmo quando todos me condenaram. Eu corri até ele e o abracei com força, como se temesse que ele desaparecesse de novo diante de mim.
— O que é isso? — ele murmurou, surpreso. — Já é mocinha para tanta emoção logo cedo.
Eu só consegui soluçar, escondendo o rosto em seu ombro. Quando finalmente recobrei o fôlego, notei a expressão dele mudar. Seus olhos me encaravam com firmeza, como se quisesse ler a verdade dentro de mim.
— Preciso que esteja pronta para a reunião de hoje à tarde — disse ele, em tom solene. — É sobre o noivado.
Foi como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Eu sabia exatamente do que ele estava falando. Três meses antes do casamento que me levou à morte, o meu avô ainda insistia no noivado arranjado com o herdeiro de uma das maiores famílias do país. Um homem que eu rejeitei, por estar cega de amor por aquele que depois me destruiria.
Eu fechei os olhos por um instante, sentindo a lembrança arder em meu peito. Eu tinha agora a confirmação: voltei. O destino me deu uma segunda chance.
Quando desci para o café da manhã, a família já estava reunida. Minha madrasta, com aquele sorriso frio, parecia sempre pronta para me criticar. Meu meio-irmão, preguiçoso e arrogante, me olhava com desdém. Só meu avô mantinha a postura de pilar, sustentando tudo com sua presença forte.
— Já decidiu, então? — ele perguntou, enquanto todos se acomodavam. — Vai aceitar o noivado?
No passado, eu disse não. E essa recusa abriu as portas para minha ruína. Mas, dessa vez, eu não hesitei.
— Sim, avô — respondi, com firmeza. — Aceitarei.
O silêncio tomou conta da mesa. Minha madrasta ergueu as sobrancelhas, surpresa. Meu meio-irmão riu, sarcástico.
— Você? Aceitar se casar com um aleijado? — zombou, sem qualquer pudor. — Vai manchar o nome da família ainda mais!
Meu sangue ferveu, mas não desviei o olhar.
— Melhor me casar com um homem que todos subestimam do que com alguém que só traria desgraça para minha vida — respondi, em tom gélido.
Meu avô observou em silêncio, e pude jurar que vi um lampejo de aprovação em seus olhos.
Naquele instante, uma decisão que parecia pequena mudou tudo. Eu sabia que esse casamento escondia segredos, que o homem que me aguardava não era quem parecia ser. E, principalmente, eu sabia que meu destino estava entrelaçado ao dele de uma forma muito mais complexa do que eu poderia imaginar.
O futuro ainda estava coberto por sombras, mas eu tinha certeza de uma coisa: eu não caminharia novamente para a morte.
Desta vez… era eu quem daria as cartas.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
bete 💗
adorei a postura dela
que ela seja mais forte ainda
e todos paguem pelo que aconteceu
❤️❤️❤️❤️❤️
2025-09-10
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