A manhã amanheceu preguiçosa, mas minha mente não. Passei a noite inteira pensando em Letícia. A forma como ela falava, a segurança que transmitia, o cheiro do perfume que ainda parecia grudado em minha memória.
Não era só desejo. Era objetivo.
Peguei o celular e abri novamente o perfil dela nas redes sociais. O mesmo mural impecável, cheio de viagens, conquistas e prêmios profissionais. Nenhuma foto com amigos, nenhuma pista de um relacionamento. Só trabalho, trabalho, trabalho.
Um sorriso escapou. Isso poderia jogar a meu favor. Pessoas assim, tão focadas, muitas vezes guardam carências escondidas. E eu sabia como encontrá-las.
Enviei uma mensagem simples:
"Bom dia, Letícia. Foi ótimo te encontrar ontem. Espero que sua primeira semana de volta esteja sendo leve."
Direto, educado, sem exageros. O suficiente para me manter na mente dela sem parecer ansioso.
Mas o tempo passou e a resposta não veio.
Levantei-me do sofá e comecei a andar de um lado para o outro. Letícia não era como as outras. Não se deixava levar por elogios vazios. Se eu insistisse demais, corria o risco de ser cortado de vez. Precisava ser estratégico.
Peguei o celular novamente e digitei para Diego:
"E aí, parceiro, vamos marcar algo essa semana? Pode chamar a Letícia também. Vocês precisam me atualizar das novidades."
Diego demorou a responder. Finalmente, veio a mensagem seca:
"Henrique, melhor não forçar."
Arregalei os olhos e ri sozinho. Não forçar? Esse cara não me conhece de verdade. Quando eu quero algo, não existe “não forçar”.
Do outro lado da cidade
Enquanto eu maquinava meus planos, Letícia já estava no escritório. Era cedo, e ela estava de pé desde antes do sol nascer. O salto ecoava pelos corredores, mas sua presença não impunha medo — impunha respeito.
— Bom dia, Letícia! — disse animada uma estagiária, quase derrubando uma pilha de pastas.
— Bom dia, querida! Vai com calma, senão vai acabar se machucando — respondeu ela com um sorriso simpático, ajudando a moça a se recompor.
Esse era o diferencial de Letícia. Apesar do cargo alto e da postura firme, era acessível, querida e respeitada por todos: desde a equipe de limpeza até os diretores. Conversava olhando nos olhos, agradecia pequenos favores, e sua simpatia fazia dela um exemplo dentro da empresa.
Mas em meio à rotina impecável, algo a distraiu. O celular vibrou. Mensagem minha.
Ela leu, arqueou as sobrancelhas e deixou o aparelho de lado sem responder. Sorriu, mas aquele sorriso não era de interesse — era de análise. Como se estivesse tentando me decifrar.
Voltou para o trabalho.
De volta a mim
Passei o resto do dia maquinando. Se ela era tão viciada em trabalho, esse seria o ponto de entrada. Pesquisei tudo sobre a empresa dela: notícias, eventos, até palestras de executivos. Precisava falar a língua dela, surpreendê-la, mostrar que tínhamos algo em comum.
Mais tarde, já deitado, enviei outra mensagem para Letícia, fingindo naturalidade:
"Vi que sua empresa participou do fórum internacional de negócios. Você esteve envolvida nesse projeto? Deve ter sido incrível."
Dessa vez, o celular vibrou minutos depois.
"Sim, participei. Foi uma experiência intensa, mas muito produtiva."
Bingo.
Mantive a calma, mesmo com o coração acelerado. Respondi:
"Imagino! Sempre admirei pessoas que conseguem se destacar em ambientes tão competitivos. Você deve ter muito a ensinar."
Silêncio. Mas agora eu tinha um sinal. Ela respondeu.
Deitado no escuro, sorri comigo mesmo. Letícia podia até achar que estava no controle, mas eu sabia aonde queria chegar.
Era apenas uma questão de tempo.
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Atualizado até capítulo 129
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