A noite estava abafada em Vallentina. A mansão Moretti parecia guardar segredos em cada canto, e Isabella já sentia o peso de estar ali havia poucos dias. Cada olhar de empregados, cada comentário velado, cada sussurro em corredores lhe lembrava que não era apenas a “filha perdida” que retornava — era uma peça de um jogo perigoso.
No salão de jantar, a mesa estava posta com exagero. Lustres brilhantes, taças de cristal, pratos alinhados com perfeição. Don Marco sentava-se à cabeceira, ao lado de Elena Castellani, que havia permanecido como convidada especial da noite. Isabella se esforçava para manter a postura, mas o ambiente estava carregado.
E então, Lorenzo entrou.
Ele parecia ainda mais imponente do que na noite anterior. Terno negro, gravata solta, olhar intenso. Caminhou até seu lugar com uma calma que parecia calculada, ciente de como sua presença afetava a todos — principalmente Isabella.
Ela desviou o olhar, mas sentiu cada passo dele como se o som ecoasse dentro dela.
A refeição começou silenciosa, até que Don Marco quebrou o silêncio.
— Isabella, terá que se acostumar. O nome Moretti exige sacrifícios.
Ela ergueu os olhos, contrariada.
— Sacrifícios? Ou obediência cega?
O pai estreitou o olhar, mas antes que pudesse responder, Lorenzo interveio com um sorriso irônico.
— Às vezes, obedecer é mais seguro do que desafiar.
Isabella o encarou, os olhos faiscando.
— Você fala como quem nunca desobedeceu.
Ele se inclinou levemente, a voz baixa, carregada de provocação.
— E você fala como quem não entende o preço da rebeldia.
O coração dela acelerou, mas não se deixou intimidar.
— Prefiro pagar o preço da minha liberdade a viver acorrentada às tradições de famílias que só sabem destruir.
O silêncio caiu pesado sobre a mesa. Elena Castellani ergueu a taça de vinho, satisfeita em assistir ao embate. Don Marco cerrou os punhos, mas permaneceu calado, permitindo que o confronto continuasse.
Lorenzo apoiou o cotovelo na mesa e inclinou-se mais, aproximando-se dela.
— Cuidado, Isabella. Essa chama que você carrega… pode te queimar antes de iluminar.
Ela não piscou.
— E talvez seja exatamente isso que eu quero.
As palavras dela o atingiram como um desafio direto. O ar parecia vibrar entre os dois, tão denso que era impossível não notar. Lorenzo se recostou na cadeira, mas os olhos continuaram fixos nela, intensos, como se a despisse em público.
O jantar terminou em silêncio tenso. Assim que todos se levantaram, Isabella saiu apressada, atravessando o corredor em direção ao jardim. O coração batia acelerado, não apenas pela raiva, mas pela estranha excitação que Lorenzo provocava nela.
Mas não demorou para ouvi-lo atrás dela.
— Isabella. — A voz firme ecoou, fazendo-a parar.
Ela girou o corpo, irritada.
— O que você quer, Lorenzo? Já não teve diversão suficiente me provocando diante de todos?
Ele se aproximou devagar, como um predador que cerca a presa.
— Não estou brincando com você.
— Parece que está. — Ela cruzou os braços, tentando manter a distância. — Cada palavra sua é uma provocação, um jogo para me desestabilizar.
Ele parou a poucos passos, o olhar ardente.
— E se for? Talvez eu queira ver até onde consegue resistir a mim.
O estômago dela revirou. Isabella tentou sustentar a firmeza, mas o corpo não respondia. A cada passo que ele dava em sua direção, o ar ficava mais rarefeito.
— Você é arrogante, Lorenzo. — A voz dela tremia de raiva, mas também de algo que não queria admitir. — E eu te odeio por isso.
Ele sorriu de canto, inclinando-se para tão perto que os lábios quase roçaram nos dela.
— Me odeia… ou me deseja?
Isabella estremeceu, mas não recuou.
— Talvez os dois.
O olhar dele brilhou, e naquele instante Lorenzo segurou o braço dela, firme, mas sem machucar. Aproximou-se ainda mais, a respiração quente contra sua pele.
— Então lute, Isabella. — O sussurro dele queimava. — Lute contra mim… ou se renda.
Por um segundo eterno, ela quase cedeu. Quase fechou os olhos, quase permitiu que os lábios se encontrassem. Mas um barulho no jardim — o farfalhar de passos entre as árvores — a fez recuar bruscamente.
Isabella se libertou, o coração disparado, e recuou dois passos.
— Isso nunca vai acontecer. — A voz dela soava mais como um aviso a si mesma do que a ele.
Lorenzo apenas sorriu, os olhos fixos nos dela, cheios de promessa.
— Já está acontecendo, Isabella. Você só não percebeu.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Isabel Esteves Lima
Os dois vão ficar com esses joguinhos.
2025-09-10
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bete 💗
ele é muito seguro de si
❤️❤️❤️❤️❤️
2025-09-06
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