A madrugada se estendia silenciosa em Vallentina, mas dentro da mansão Moretti a noite ainda parecia jovem. Música suave ecoava ao longe, e o som de taças sendo brindadas no salão principal contrastava com o silêncio pesado do terraço.
Isabella permaneceu imóvel diante de Lorenzo, como se o mundo tivesse diminuído até caber no espaço estreito entre eles. A respiração dela era rápida, e cada batida do coração parecia gritar a insensatez daquele momento.
Ele estava tão perto que bastava um pequeno movimento para que seus lábios se encontrassem. Isabella sabia que não deveria permitir, sabia que era errado, perigoso, imperdoável. Mas, naquele instante, nada lhe pareceu mais real do que o magnetismo daquele homem.
— Você deveria se afastar… — murmurou, sem força na voz.
Lorenzo sorriu de canto, inclinado sobre ela.
— E você deveria parar de me olhar assim, Isabella.
O sangue dela ferveu. Quis negar, mas sabia que ele tinha razão. Ela estava olhando para ele como jamais deveria olhar para um Castellani. Como se ele fosse mais do que o inimigo, mais do que o herdeiro de uma família amaldiçoada.
Lorenzo estendeu a mão e, sem tocar, passou os dedos a poucos centímetros da pele do braço dela, em um gesto lento, provocador. Isabella fechou os olhos por um segundo, sentindo um arrepio que percorreu todo o corpo.
Foi nesse instante que a porta do terraço se abriu com um rangido abrupto.
— Isabella! — A voz firme de Don Marco Moretti interrompeu o momento, como uma lâmina cortando o ar.
Ela se afastou de imediato, o rosto corando, como se tivesse sido pega em flagrante. Lorenzo, no entanto, permaneceu calmo, o sorriso provocador ainda nos lábios.
— Vejo que sua filha sabe escolher bem a companhia — disse Lorenzo, com ironia, enquanto ajeitava o terno como se nada tivesse acontecido.
Os olhos de Don Marco faiscaram.
— Cuidado, Castellani. Esta casa não é lugar para suas provocações.
Lorenzo apenas arqueou uma sobrancelha e inclinou a cabeça, como quem aceitava o desafio silencioso.
— Até breve, Isabella — sussurrou, antes de sair pelo corredor com passos firmes.
O coração dela ainda martelava no peito quando o pai se aproximou.
— O que pensa que está fazendo? — Marco a encarava com dureza. — Você sabe quem ele é?
— Sei, pai. — Isabella ergueu o queixo, tentando recuperar o controle. — Sei exatamente quem ele é.
Don Marco suspirou fundo, passando a mão pelo rosto marcado pelo tempo.
— Os Castellani não são nossos aliados, Isabella. São uma ameaça. Eles destruíram tudo o que tínhamos, mancharam nosso nome, roubaram o que era nosso por direito.
Isabella franziu o cenho.
— Mas ninguém nunca me contou o que realmente aconteceu…
O pai se virou, olhando para os retratos pendurados nas paredes do corredor.
— Algumas verdades são perigosas demais para serem ditas. Mas cedo ou tarde, você vai descobrir. E quando descobrir, vai entender por que este amor nunca poderia existir.
As palavras ecoaram dentro dela como uma sentença. Mas, ao mesmo tempo, despertaram algo ainda mais forte: a necessidade de saber. O que os Castellani tinham feito? O que realmente separava aquelas famílias?
Naquela noite, enquanto se recolhia para o quarto luxuoso que lhe parecia mais prisão do que abrigo, Isabella não conseguia dormir. Cada vez que fechava os olhos, via Lorenzo. O sorriso dele. O olhar intenso. A proximidade proibida.
E, mesmo sabendo de tudo, uma parte dela desejava que a porta do quarto se abrisse e que ele estivesse ali.
Na ala oposta da mansão, Lorenzo observava Vallentina pela janela do quarto reservado a ele. Estava hospedado ali por exigência de uma trégua temporária entre os clãs, mas não havia nada de pacífico naquela aproximação. Cada segundo ao lado dos Moretti era um lembrete de rancores antigos.
Ainda assim, ele não conseguia tirar Isabella da mente. Havia algo nela que quebrava suas defesas. Não era apenas beleza — era o olhar desafiador, a coragem escondida sob a vulnerabilidade.
— Isabella Moretti… — murmurou para si mesmo, um sorriso sombrio surgindo em seus lábios. — Talvez você seja a guerra que eu nunca soube que queria.
No dia seguinte, o sol nasceu forte sobre Vallentina. Isabella desceu para o café da manhã, mas não havia apetite em seu corpo. O ar parecia pesado, como se algo prestes a acontecer rondasse a mansão.
Ao atravessar o jardim, encontrou Lorenzo parado junto à fonte de mármore. Ele a olhou, e o mundo pareceu parar outra vez.
— Dormiu bem? — perguntou ele, a voz carregada de ironia.
Isabella tentou ignorar, mas o olhar dele a prendia.
— Dormi o suficiente.
Lorenzo se aproximou, parando diante dela, tão perto que o coração dela disparou.
— Eu não. — Seus olhos se fixaram nos dela. — Você não saiu da minha cabeça.
Ela engoliu em seco, sentindo a tensão crescer, como se cada palavra dele fosse um convite ao abismo.
— Lorenzo… — murmurou, sem forças para terminar a frase.
Ele se inclinou, os lábios a centímetros dos dela, quando uma voz feminina soou ao longe:
— Isabella! — Era Elena Castellani, atravessando o jardim com passos firmes.
O momento foi interrompido novamente, mas a faísca já estava acesa.
Lorenzo sorriu discretamente, os olhos queimando nos dela.
— Uma hora, Isabella, ninguém vai nos interromper.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Maria De Lourdes Guimarães
eu não estou entendendo é nada cada coisa sem sentido
2025-09-10
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bete 💗
cada capítulo uma necessidade de saber o que aconteceu
❤️❤️❤️❤️❤️
2025-09-06
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