Dizem que há verdades que se escondem nas sombras do entardecer — e foi sob a luz alaranjada do céu de Paris que eu, Diane, percebi que não havia mais volta.
Algo em mim havia se rompido no instante em que Lupita confessou o que sentia. Não éramos mais duas mulheres tentando fugir do impossível: agora, éramos cúmplices de um segredo que poderia destruir tudo.
Naquela tarde no Jardin du Luxembourg, nossas palavras pairaram no ar como promessas silenciosas.
Não houve toque, nem gesto ousado — apenas a presença uma da outra, tão intensa que doía.
— Você entende o que isso significa, não entende? — perguntei, com a voz rouca, quase temendo a resposta.
— Entendo — disse ela, olhando o horizonte.
— Significa que precisamos ser cuidadosas.
Que qualquer passo em falso pode machucar meu pai. — E você está disposta a seguir mesmo assim?
Lupita demorou a responder. Passou a mão pelos cabelos, respirou fundo e finalmente disse:
— Não sei o que estou disposta a fazer. Só sei que não quero te perder.
Essas palavras ficaram ecoando em mim por dias.
O tempo começou a passar de forma diferente depois daquele encontro. Cada olhar trocado carregava uma camada de significado.
Cada palavra dita escondia o que não podíamos dizer. Era um jogo perigoso — e viciante.
Durante um jantar em casa, alguns dias depois, Hamilton falava animado sobre um caso novo no escritório.
Eu tentava ouvir, tentava participar da conversa, mas a minha atenção se perdia em Lupita, sentada à minha frente.
Ela mexia distraidamente na taça de vinho, e quando seus olhos encontraram os meus por acaso, foi como se o mundo inteiro tivesse desaparecido.
— Diane? — a voz de Hamilton me trouxe de volta. — Está tudo bem?
— Sim… claro. Desculpe. Estava pensando no evento da galeria. — sorri, tentando disfarçar.
Lupita abaixou o olhar, mas pude ver um pequeno sorriso surgir no canto de sua boca.
Ela sabia o efeito que tinha sobre mim — e, de certo modo, parecia se deliciar com isso.
Depois do jantar, enquanto Hamilton subia para o escritório, encontrei-a sozinha na varanda. A cidade se estendia diante de nós, iluminada e silenciosa.
— Você está brincando com fogo — sussurrei, aproximando-me dela.
— Talvez — respondeu, virando-se para mim.
— Ou talvez esteja tentando entender se vale a pena queimar.
A forma como ela disse aquilo, tão calma e direta, fez meu coração acelerar.
— E você já decidiu? — perguntei.
— Ainda não. Mas cada vez que olho para você… sinto que já não posso voltar atrás.
O silêncio que se seguiu era denso demais para ser ignorado. Não houve toque.
Não houve beijo. Apenas a confissão silenciosa de duas almas que se reconheciam no perigo.
Os dias seguintes foram um turbilhão de dúvidas. Passei noites em claro, debatendo-me entre a razão e o desejo.
Parte de mim gritava que era errado, que eu devia me afastar. Outra parte sussurrava que talvez, só talvez, aquilo fosse amor.
E então, numa tarde fria, Lupita apareceu novamente na galeria. Não estava ali para falar de exposições ou projetos. Estava ali por mim.
— Precisamos conversar — disse ela, firme.
— Sobre o quê?
— Sobre o que está acontecendo. Sobre nós.
Fechei a porta do escritório e sentei-me à sua frente. O ar estava pesado.
— Diga.
— Não consigo mais fingir que não sinto nada. E, ao mesmo tempo, cada vez que penso no meu pai…
— ela parou, apertando os olhos. — Eu me sinto a pior pessoa do mundo.
— Eu também — confessei. — Sinto como se estivesse traindo tudo o que construímos.
Houve uma pausa longa, e então Lupita se aproximou um pouco mais.
— Mas ao mesmo tempo, quando estou perto de você, tudo faz sentido.
Essas palavras foram como um golpe certeiro no meu peito. Sem pensar, toquei de leve sua mão — um gesto simples, quase inocente, mas que carregava todo o peso do que não ousávamos dizer. Ela não recuou.
Ficamos assim, imóveis, como se aquele contato bastasse.
— Talvez o amor não seja sobre o que é certo — murmurei. — Talvez seja sobre o que é verdadeiro.
Lupita sorriu, um sorriso triste e bonito.
— E se o verdadeiro for o que pode destruir tudo?
— Então teremos que decidir se estamos dispostas a correr esse risco.
Naquela noite, ao voltar para casa, olhei para Hamilton dormindo ao meu lado. Senti um aperto profundo no peito. Eu o amava.
Amava sua gentileza, sua calma, o modo como sempre acreditou em mim. Mas, ao mesmo tempo, meu coração batia por outra pessoa. E essa dualidade me despedaçava.
Olhei pela janela do quarto e vi as luzes de Paris se estendendo até o horizonte.
Era uma cidade feita de paixões proibidas, de amores escondidos e verdades sussurradas. E agora, eu fazia parte dessa história.
“Não posso continuar assim”, pensei. “Preciso escolher.”
Mas no fundo, eu sabia: já havia escolhido.
No fim daquela semana, recebi uma mensagem curta de Lupita: *“Podemos conversar? Só nós duas. Em algum lugar longe de tudo.”*
Aceitei sem hesitar. O destino do nosso segredo, e talvez das nossas vidas, estava prestes a ser decidido.
Quando a encontrei no pequeno café à beira do Sena, ela parecia nervosa, mas decidida.
— Diane… — começou, antes mesmo de eu sentar. — Eu não posso mais fugir disso. E não quero mais mentir para mim mesma.
Respirei fundo, tentando conter o turbilhão dentro de mim.
— Então o que vamos fazer?
— Vamos descobrir — respondeu ela, pegando minha mão por baixo da mesa. — Devagar. Sem pressa. Mas juntas.
E ali, no meio da cidade que testemunhara tantos amores proibidos antes do nosso, percebi que a linha fora cruzada — não com um beijo ou um gesto ousado, mas com uma decisão silenciosa.
A decisão de não fugir.
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Atualizado até capítulo 61
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