CAPÍTULO:3_ A PRIMEIRA VISTA
Dorian
— Vamos, temos muito a fazer — disse Dorian, ajeitando o paletó enquanto ainda mantinha os olhos fixos na mansão Moreau. O brilho do sol refletia no vidro da janela onde Katherine havia passado minutos antes, distraída com seu celular. Ele soltou um meio sorriso, quase cínico. — Bom, bonequinha… até outro dia.
Deu um passo para trás, pronto para se afastar. O plano dele era simples: observar, estudar, deixar que o fascínio crescesse em silêncio até que chegasse o momento certo.
Mas o destino não parecia disposto a deixá-lo ir embora tão cedo.
vicenzo
Metálico cortou o ar — seco, urgente, inapropriado para uma tarde ensolarada. Dorian parou, os olhos imediatamente voltando para o portão lateral da mansão. O movimento foi rápido: uma sombra encapuzada esgueirou-se para dentro, rompendo a falsa tranquilidade que o dia oferecia.
— Chefe…? — Vicenzo chamou, percebendo a mudança imediata no corpo do amigo.
Dorian
— Cale-se. — Dorian ergueu a mão, os olhos fixos no invasor que desaparecia dentro da casa. Uma tensão diferente percorreu seu corpo. O sorriso em seus lábios se desfez, substituído por uma expressão fria, predatória. — Ninguém toca nela.
Katherine
Dentro da mansão, Katherine terminava de digitar uma mensagem para Clara quando o som da porta ecoou. Não foi o clique familiar dos seguranças, tampouco o barulho dos passos conhecidos de seu pai ou do irmão. Foi algo seco, violento, que fez cada fio de seu corpo se arrepiar.
— Sebastian? — chamou, erguendo a voz. Silêncio. — Pai?
Nenhuma resposta.
Katherine
De repente, a figura surgiu no corredor. Um homem alto, vestindo roupas escuras e máscara no rosto, ergueu uma pistola prateada na direção dela.
— Quietinha, princesa. — A voz dele era rouca, carregada de ameaça.
Katherine congelou, mas não deixou transparecer tanto quanto sentia por dentro. Seu coração disparava, mas seu olhar permaneceu firme.
— Quem é você? Como ousa entrar aqui? — perguntou, a voz controlada.
O invasor deu um passo à frente, a arma agora a poucos centímetros de sua cabeça.
— O cofre. Onde está? — rosnou.
Dorian
Katherine respirou fundo, endireitou os ombros. Não era do tipo que cedia fácil.
— Você não sabe com quem está lidando. Esta mansão está cheia de seguranças.
— Seguranças distraídos. — Ele sorriu por trás da máscara. — Agora, abra o cofre. Rápido.
Do lado de fora, Dorian caminhava com passos longos e silenciosos até o muro lateral da mansão. Não havia mais hesitação. A fúria fria que o caracterizava dominava seus gestos.
— Ele vai se arrepender. — O tom baixo, mas letal.
vicenzo
Vicenzo o seguiu a poucos metros.
— Quer que eu chame os homens?
— Não. — Dorian passou a mão pelo coldre. — Esse será pessoal.
Katherine
Na sala principal, Katherine tentava ganhar tempo.
— O cofre não é simples de abrir. Preciso da chave. — Ela deu um passo em direção à escada. — Está no andar de cima.
O invasor pressionou a arma contra sua costela.
— Então suba. E não tente ser esperta.
Cada degrau que ela subia soava como um tambor no silêncio da casa. O sol iluminava o corredor superior, mas o clarão do dia não diminuía a escuridão daquela ameaça.
Katherine mantinha a respiração controlada, mas por dentro, analisava cada possibilidade. Se corresse, seria alvejada. Se cedesse, perderia mais do que valores. Precisava ser calculista.
O ladrão a conduziu até a porta de um dos escritórios particulares da família. Katherine parou diante do cofre embutido na parede.
Katherine
Aqui está. — Murmurou, firme, mas os dedos trêmulos a denunciavam.
O homem bateu a arma contra a porta.
— Abra. Agora!
Katherine digitou os primeiros números, tentando manter a calma. O suor frio deslizava por sua nuca.
Do outro lado do corredor, um novo som ecoou. Não o ladrão, nem Katherine. Eram passos. Leves, controlados.
O invasor girou o corpo, os olhos estreitando-se.
— Tem mais alguém aqui? — rugiu, erguendo a arma.
Katherine arregalou os olhos. Ela também tinha ouvido. Não estava sozinha.
Dorian
E então ele apareceu.
Dorian surgiu da penumbra do corredor como uma sombra que tomava forma. O sol da tarde se projetava sobre sua figura alta, o rosto parcialmente oculto pelo contraste de luz e sombra. O olhar, porém, era nítido: frio, letal, fixo no invasor.
— Erro fatal. — Sua voz grave quebrou o silêncio, como uma sentença.
O ladrão deu um passo atrás, surpreso.
— Quem diabos é você?
Dorian ignorou a pergunta. Seus olhos escuros, intensos, passaram brevemente por Katherine — avaliando-a, absorvendo cada traço de tensão no rosto dela — antes de voltarem para o homem armado.
— Abaixe a arma. — Não foi um pedido. Foi uma ordem.
O invasor riu, nervoso.
— Está brincando comigo? Fica onde está ou eu atiro nela!
Dorian
O cano da pistola voltou-se para Katherine, que sentiu o frio metálico contra sua pele. O coração dela acelerou ainda mais.
Mas Dorian não se moveu. Sua expressão não mudou. Apenas inclinou levemente a cabeça, como quem avalia uma presa já condenada.
— Se encostar um dedo nela… não terá tempo de se arrepender.
Dorian
Katherine piscou, confusa, sem compreender completamente quem era aquele homem misterioso que surgira do nada, impondo-se como se tivesse pleno controle da situação.
O invasor respirava rápido, a mão suada escorregando levemente pela pistola.
— Eu vou atirar! Juro que vou!
Dorian deu um único passo à frente.
— Então tente.
Dorian
O ar pareceu pesar. Katherine prendeu a respiração, os olhos fixos no estranho de olhar gélido que enfrentava o ladrão sem sequer piscar.
Era a primeira vez que ela o via. E jamais esqueceria.
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