*(Narrado por Isabella Romano)*
Eu sempre me perguntei por que a vida me colocou aqui. Talvez eu nunca descubra a resposta, mas ainda assim tento acreditar que existe algum motivo escondido atrás de tudo isso. Meu nome é **Isabella Romano**, tenho 21 anos… embora, às vezes, eu me sinta como uma criança perdida dentro de um corpo que o tempo insiste em fazer crescer.
A verdade é que eu nunca conheci meus pais. Não sei se estão vivos, se me abandonaram ou se o destino apenas decidiu arrancá-los de mim antes que eu pudesse chamá-los de “mamãe” e “papai”. Cresci com meu tio, **Alberto Moretti**, minha tia **Helena** e a filha deles, **Valentina**. Mas dizer que eles são minha família… seria como mentir para mim mesma.
Eles não me veem como sangue do mesmo sangue. Para eles, eu sou um peso, um estorvo. Um erro que nunca pedi para carregar.
Meu quarto… se é que posso chamar assim… fica no sótão. Pequeno, com uma janela minúscula que mal deixa a luz entrar. O colchão é fino, áspero, e as cobertas têm cheiro de mofo. Mas ainda assim, esse é o único lugar onde consigo chorar em silêncio sem que ninguém perceba.
Todos os dias eu acordo cedo, antes mesmo do sol nascer, para arrumar a casa. Se eu atraso um minuto, ou se esqueço de algo, os gritos ecoam pela casa inteira. Às vezes, não são apenas gritos… Valentina adora me beliscar, empurrar, puxar meus cabelos. E eu… eu não revido. Não porque não queira, mas porque sei que qualquer resistência só traria mais dor.
A **Valentina Moretti**… como posso descrever ela? É linda, sempre bem arrumada, cheia de joias e perfumes caros que a mãe lhe dá. Mas por trás daquele sorriso arrogante, existe uma sombra. Ela me odeia. Sempre odiou. Talvez por inveja, talvez porque minha existência a incomode… eu não sei. Mas sei que ela faz questão de lembrar todos os dias que, para ela, eu sou nada.
“Você não passa de uma parasita, Isabella.” — as palavras dela queimam mais do que os tapas.
Meu tio **Alberto** também não perde a chance de me rebaixar. Ele é um homem arrogante, que vive se achando importante, mas que na verdade está atolado em dívidas. Sempre grita que eu não valho nada, que sou apenas uma boca a mais para alimentar. E minha tia… ah, Helena… uma verdadeira cascavel. Sempre venenosa, sempre pronta a me culpar por tudo.
Mas sabem o que dói mais?
Não é o frio do quarto.
Não é a comida que muitas vezes me negam.
Nem mesmo os castigos.
O que mais dói… é não ser amada.
Às vezes eu me sento perto daquela janelinha do sótão, olho para o céu e me pergunto: será que, em algum lugar, existe alguém que se importa comigo? Alguém que enxergaria quem eu realmente sou? Porque, no fundo, eu só queria… ser amada.
Eu tento ser sempre educada, sorrir quando falam comigo, ajudar, mesmo quando sei que não vão reconhecer meu esforço. Talvez seja bobo, mas acredito que a bondade ainda pode mudar alguma coisa no mundo. Eu nunca desejei mal a ninguém… nem mesmo à Valentina. Apesar de tudo que ela me faz, eu só consigo sentir pena.
Talvez eu seja ingênua. Talvez infantil. Mas… essa sou eu.
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Hoje, por exemplo, acordei cedo como sempre. O chão gelado mordeu meus pés, mas eu ignorei. Desci as escadas correndo e comecei a arrumar a mesa para o café. A cada passo, o coração acelerava — eu sabia que, se algo faltasse, minha tia notaria. E ela sempre nota.
— *Isabella!* — ouvi a voz cortante de Helena. — *Demorou demais com o café. Quer me matar de fome, garota inútil?*
Baixei a cabeça, segurando a vontade de responder.
— Desculpe, tia… já está pronto.
Ela bufou, os olhos cheios de desprezo. Valentina riu baixinho, como sempre faz quando me vê constrangida. Meu tio entrou logo depois, reclamando das dívidas, como se fosse culpa minha.
— Maldita hora que aceitei criar você — ele resmungou, servindo-se de pão e café. — Uma boca inútil, e ainda assim cara de sustentar.
As palavras dele me acertaram como facas invisíveis, mas eu não chorei. Aprendi a não chorar na frente deles.
E assim, mais um dia começou.
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Mas sabem… por mais que tudo pareça cinza, eu tenho um pedacinho de luz na minha vida. Uma única pessoa que me faz acreditar que o mundo não é feito só de dor.
O nome dela é **Aurora Duarte**.
Aurora… minha melhor amiga. Minha irmã de coração. A única que olha para mim e me enxerga. Ela não tem medo de enfrentar Valentina, nem meus tios. É atrevida, sarcástica, cheia de vida. Quando estamos juntas, eu me sinto livre, como se pudesse respirar sem medo.
Lembro-me da primeira vez que nos encontramos… eu estava chorando atrás da escola, sozinha, e ela simplesmente se sentou ao meu lado. Não perguntou nada. Apenas segurou minha mão. Desde então, nunca mais me deixou.
Hoje, depois de terminar as tarefas e conseguir escapar por alguns minutos, corri até ela.
— Bella! — ela exclamou quando me viu, abrindo um sorriso largo. — Finalmente saiu daquela prisão!
Sorri tímida, sentindo as lágrimas quase caírem.
— Só por pouco tempo… não posso demorar.
Ela revirou os olhos, puxando-me para um abraço apertado.
— Isabella, se eu pudesse, te arrancava de lá à força. Aquela casa não merece você.
Eu ri baixinho, encostando a cabeça em seu ombro. Aurora sempre fala o que pensa, sempre me defende como uma leoa.
— Um dia… um dia eu vou sair de lá — murmurei, quase como uma promessa a mim mesma. — E talvez… talvez eu descubra quem eu realmente sou.
Aurora segurou meu rosto com firmeza e disse, com aquele jeito todo atrevido dela:
— Você já é incrível, Bella. Só precisa acreditar em si mesma.
E naquele instante… mesmo que por pouco tempo, eu acreditei.
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Talvez eu não saiba o que o destino me reserva. Talvez minha vida continue sendo feita de lágrimas e silêncios. Mas se existe uma coisa que guardo dentro do peito… é a esperança.
Porque mesmo no mundo mais escuro, sempre existe uma pequena luz.
E a minha… se chama **Aurora**.
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Atualizado até capítulo 45
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