A madrugada estava gelada. A lua se escondia atrás de nuvens pesadas, e a cidade parecia segurar o fôlego.
Naquele silêncio, apenas uma caixa repousava diante da porta do apartamento de Jimin.
Um presente. Envolto em papel preto, com um laço vermelho vibrante que parecia pulsar como uma artéria recém-cortada.
Jimin hesitou antes de tocar. Algo em seu peito dizia para não abrir. Mas a curiosidade, misturada ao dever, venceu o medo.
Com dedos trêmulos, ele puxou a fita. O estalo seco ecoou pelo corredor vazio.
Ao levantar a tampa, uma fumaça branca de gelo seco escapou, envolvendo seus braços como uma névoa fantasmagórica.
E então, ele viu.
Uma cabeça humana, os olhos arregalados, a boca ainda aberta em um grito silencioso. O sangue, ainda fresco, manchava o gelo e escorria em pequenas poças vermelhas.
Jimin cambaleou para trás, o estômago revirando. Mas o choque não vinha apenas do horror da cena.
Ele conhecia aquele rosto.
Choi Daeho.
Seu vizinho de infância. O homem que, anos atrás, tentara abusá-lo quando ele tinha apenas onze anos.
Aquele rosto, agora decepado, lhe devolvia o olhar morto, como se o passado voltasse para atormentá-lo de um jeito cruel e inescapável.
Dentro da caixa, preso entre os dentes ensanguentados, havia um bilhete dobrado.
Com mãos hesitantes, Jimin puxou o papel encharcado. As letras escritas em vermelho pareciam tremer sob a luz fraca do corredor:
“Eu conserto o que te feriu.
Ninguém toca no que é meu.”
O estômago de Jimin se revirou. O bilhete escorregou de seus dedos, caindo na poça de sangue que começava a se formar no chão.
Sua respiração ficou curta, o coração disparado. O apartamento ao redor parecia encolher, as paredes se fechando, como se Jungkook estivesse ali, observando sua reação de algum canto escuro.
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Horas depois, Namjoon e Jin chegaram à cena.
Jin se ajoelhou diante da caixa, os olhos arregalados, o cheiro metálico do sangue impregnando o ar.
♱ 𝐒𝐞𝐨𝐤𝐣𝐢𝐧 ⚕ — 「 Perito Forense 」
— Ele não deixou só um recado… deixou uma mensagem íntima. — murmurou, engolindo em seco.
Namjoon lançou um olhar grave a Jimin.
༺ 𝐍𝐚𝐦𝐣𝐨𝐨𝐧 ⚖ — 「 Chefe da Divisão
— Como ele sabia do seu passado? Como ele sabia desse homem?
Mas Jimin não respondeu. Sua mente estava em um turbilhão.
Ele não havia contado para ninguém sobre aquela noite traumática da infância. Ninguém.
Então, como Jungkook sabia?
Um arrepio percorreu sua espinha. Ele sentia o peso de olhos invisíveis sobre si, como se fosse apenas uma peça em um teatro sangrento que alguém montava pacientemente.
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Do outro lado da cidade, em um quarto escuro iluminado por velas, Jungkook limpava a lâmina que havia usado. Seus dedos passavam lentamente sobre o fio afiado, como quem acaricia a pele de um amante.
Seus olhos brilharam no reflexo da lâmina ensanguentada.
Naquela sala macabra, entre sangue fresco e fotografias, o riso baixo de Jungkook ecoou como um presságio.
Um som que não prometia fim — apenas o início de uma obsessão sem saída.
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