Olhares Perigosos.

A preparação para um desfile nunca foi apenas sobre roupas ou maquiagem. Para mim, é sobre presença. Sobre impacto. Ainda mais quando não é apenas um desfile: é também um baile beneficente, um dos mais comentados da Europa, que reunirá empresários, políticos, artistas e, claro, toda a imprensa.

Hoje, minha imagem não será só estampada nas passarelas, mas também nas colunas sociais. E eu sei que cada detalhe importa.

— Você vai arrasar, Isa — diz Valentina, ajustando o colar de diamantes no meu pescoço.

Meus olhos azuis refletem a luz do camarim. O vestido prateado desliza pelo meu corpo como se fosse parte de mim. Penteado impecável, lábios vermelhos, maquiagem da minha própria marca. Não é vaidade. É estratégia. Cada detalhe comunica poder.

— Quem sabe você não encontra alguém interessante hoje? — provoca Lorenzo, em seu smoking perfeito.

— Não estou aqui para isso — respondo, fria, sem desviar o olhar do espelho. — Estou aqui para representar a Divina Glow. Nada mais.

Ele ri, mas eu não.

O palácio siciliano escolhido para o evento é imponente, iluminado por lustres de cristal e velas que lançam sombras elegantes pelas paredes. Ao entrar, sinto os olhares. Eles sempre vêm. Curiosidade, inveja, desejo. Nada disso me afeta mais. Estou acostumada.

Mas então sinto algo diferente.

Um olhar que não me atravessa. Me mede. Me calcula.

Ele está no bar. Alto, impecável no smoking, a taça de uísque na mão como se tivesse nascido com ela. Não força presença, mas domina o espaço. Quando nossos olhos se encontram, percebo: esse homem não olha para mim como os outros. Ele me estuda.

— Isa… — murmura Enzo, ao meu lado. — Esse é Alessandro, um velho amigo.

Alessandro.

O nome corta o ar. Ele se aproxima com calma, como se não tivesse pressa nenhuma.

— Isabella Salvatore — sua voz é grave, firme. — Impossível não reconhecer.

Endireito os ombros. Minha postura é uma muralha. — Senhor Alessandro.

Ele arqueia a sobrancelha, curioso com a formalidade. — Apenas Alessandro, por favor.

— Eu prefiro manter certa distância — digo, polida, mas com frieza calculada. — Aproximações fáceis nunca me interessaram.

Ele sorri de canto, um sorriso que não chega aos olhos. — Direta. Gosto disso. A maioria tenta me agradar. Você não.

Olho para ele como quem analisa um número em um relatório: sem pressa, sem emoção. — Eu não tento agradar ninguém. Apenas faço o que precisa ser feito.

Um silêncio pesado se instala por um instante. Alessandro me observa, como se procurasse uma fissura na minha armadura. Não encontra nenhuma.

Sou chamada para os bastidores. Olho-o pela última vez antes de me afastar. — Tenha uma boa noite.

Viro as costas sem esperar resposta, consciente de que deixei mais perguntas do que respostas. É assim que prefiro.

Sou Isabella Salvatore. Fria. Intocável. Inacessível.

E é justamente isso que me torna inesquecível.

Mal imagino que Alessandro não é apenas um homem intrigado… mas o CEO bilionário com quem assinei meu contrato.

O salão principal do palácio estava lotado. Lustres de cristal refletiam a luz sobre os vestidos de gala, smokings impecáveis e joias cintilantes. Eu podia ouvir o sussurrar dos convidados, câmeras captando cada detalhe, flashes piscando sem parar. Era o tipo de noite que exigia mais do que beleza — exigia presença, postura e controle absoluto.

Antes de entrar no tapete vermelho do desfile, respirei fundo. Cada músculo do meu corpo estava treinado para momentos como esse. Treinos de boxe, jiu-jítsu e defesa pessoal não me prepararam apenas para a luta física; prepararam minha mente para permanecer intocável, fria e estratégica, mesmo sob pressão.

— Está pronta? — perguntou Valentina, ajustando meu vestido nos últimos detalhes.

— Sempre estou — respondi, com a voz calma, sem deixar transparecer o mínimo nervosismo.

Lorenzo e Enzo me acompanharam até a entrada do desfile. Eles não precisavam me proteger, mas a presença deles me dava segurança. Segurança de quem sabe que nenhum detalhe passa despercebido.

Assim que o desfile começou, senti todos os olhos voltados para mim. Modelos desfilaram antes de mim, mas quando meu turno chegou, o silêncio mudou de tom: atenção absoluta. Cada passo era medido. Cada movimento transmitia poder. Eu não era apenas Isabella Salvatore, CEO e modelo; eu era uma força inabalável, uma mulher que ninguém ousaria desafiar.

E então senti de novo: o olhar dele.

Alessandro estava no balcão do bar, imóvel, observando. Não precisava se mover, não precisava falar. Apenas olhava. E ainda assim, parecia controlar cada centímetro do salão com a presença silenciosa.

Quando terminei minha passagem, o público aplaudiu, mas meu olhar procurou apenas um ponto: ele. Alessandro manteve os olhos fixos em mim, e pude sentir que cada gesto meu era analisado, avaliado, estudado.

O baile começou logo em seguida. Conversas, risadas, brindes — tudo fazia parte da coreografia social. Mantive-me elegante, educada, mas fria e intocável. Nenhum sorriso fácil, nenhuma aproximação desnecessária.

E, claro, ele apareceu. Alessandro se aproximou, sem pressa, como se tivesse o controle absoluto do tempo.

— Fascinante — disse, quando finalmente estivemos a uma distância respeitável. — Você sabe que domina este salão sem precisar de palavras, não é?

Endireitei meu corpo, mantendo a postura impecável. — É o esperado de quem trabalha para manter uma imagem. E, de fato, ninguém aqui me domina.

Ele riu baixinho, curioso. — Eu gosto dessa sua… frieza. É rara. E elegante.

— Obrigada — respondi, de maneira polida, mas mantendo a barreira. — Elegância não significa interesse.

Ele inclinou a cabeça, estudando meu rosto, cada gesto. — Interessante. Muitos confundem frieza com arrogância. Você não. Você impõe respeito.

— E respeito é diferente de intimidade — retruquei, sem ceder. — Confiança não se dá. Conquista-se.

Alessandro ergueu levemente a taça em um brinde silencioso, mantendo o olhar firme. — Um brinde então… ao respeito.

— Um brinde — respondi, elegante, mantendo o olhar fixo no dele por apenas um instante antes de me virar e me afastar, intacta, como sempre.

Mesmo mantendo minha distância, senti sua presença como uma sombra constante. Ele não estava apenas interessado; estava intrigado. E, por algum motivo, isso me despertava uma curiosidade contida, embora jamais mostrasse.

O baile continuou, as músicas, os brindes, os passos de dança… Mas eu não me distraí. Cada gesto dele, cada olhar, era registrado, analisado. Alessandro não sabia que eu percebia tudo — porque Isabella Salvatore não deixa ninguém entrar, e muito menos um homem como ele.

E, ainda assim, a noite mal começava.

Mal sabíamos os dois que nossos destinos já estavam entrelaçados, e que o verdadeiro jogo ainda estava prestes a começar.

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Comments

Maria Ivone Amaral

Maria Ivone Amaral

começando ler,a história promete
vou continuar

2025-08-24

1

Marta Monteiro

Marta Monteiro

comecei a leitura 📚 agora, interessante /Grin/

2025-08-24

0

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