O som de pássaros. A luz do sol atravessava a cortina branca, suave demais para ser real. Elisa abriu os olhos com esforço, como se as pálpebras estivessem pesadas. O peito subia e descia devagar, sem aquela pressão constante que sentia no manicômio.
Sem paredes acolchoadas. Sem cheiro de desinfetante.
Ela estava... em casa?
Sentou-se de repente, o coração disparado. As mãos tremiam. Olhou ao redor: o quarto era familiar, mas parecia de outra vida. A colcha florida que ela gostava, os livros empilhados na estante, os recortes de revistas de moda na parede — tudo exatamente como ela lembrava. Como era antes de tudo.
Correu até o espelho.
O reflexo a encarou: pele limpa, olhos vivos, cabelos longos soltos sobre os ombros. Nenhuma cicatriz, nenhuma olheira profunda, nenhuma expressão vazia. Era a Elisa de antes. Antes da traição. Antes do manicômio.
Seu corpo desabou no chão. Ela chorou. Não de tristeza — de choque. De fúria. De um alívio confuso.
— Isso é um sonho... — sussurrou, apertando os próprios braços.
Mas os detalhes eram vívidos demais. O cheiro do café vindo da cozinha. O som da música no andar de baixo. O toque do carpete sob os dedos.
Ela levantou. Cada passo era uma confirmação: aquilo não era um delírio. De alguma forma que a lógica não podia explicar, ela tinha voltado no tempo. E não era mais a garota ingênua que confiava cegamente em todos.
Pegou o celular. O modelo era antigo. Na tela, a data:
13 de abril. Cinco anos atrás.
Naquele mesmo mês, ela começaria a ser manipulada. Naquela semana, seus tios ganhariam sua confiança. Naquele ano, ela começaria perder tudo.
Mas agora... ela lembrava de tudo. Cada mentira. Cada olhar dissimulado. Cada detalhe perverso do plano que a levou ao manicômio.
E tudo graças à sua prima, Marcela.
Durante o tempo em que esteve internada, Elisa ouviu, dia após dia, a prima despejar veneno com prazer. Marcela fez questão de contar tudo — cada armação, cada passo planejado para destruí-la. Como se confessar fosse parte do deleite. Como se assistir à dor de Elisa tornasse a vitória ainda mais saborosa.
Enquanto assimililava o que estava acontecendo a campainha tocou. Ela soube antes de atender quem era. Era ele. Eduardo. O namorado perfeito, com sorriso ensaiado e palavras doces.
Dessa vez, Elisa sorriu antes de abrir a porta.
Um sorriso contido, frio, calculado.
Ela sabia que precisava manter a calma — qualquer deslize poderia colocá-la de volta naquele lugar. Na vida passada, foi sua impulsividade que a condenou. Quando descobriu que estava sendo enganada, agiu movida pela raiva e tentou confrontá-los… e pagou caro por isso.
Lembrou-se vividamente do dia em que expôs a farsa, em que gritou a verdade na cara da família. Mas, para proteger suas mentiras e manter as aparências, eles a silenciaram. A internaram como se fosse louca. Tudo para que ela desaparecesse — e eles não perdessem o que haviam conquistado às custas dela.
Mas agora tudo era diferente. Elisa não era mais a mesma. Dessa vez, ela faria cada um pagar.
Com calma. Com inteligência. E sem deixar rastros.
Eduardo era bonito. Alto, cabelos bem penteados, aquele mesmo perfume amadeirado. Mas agora Elisa via o que antes não via: ele falava com o ego, e não com o coração. Era vaidoso, inseguro, e manipulável. Principalmente por Marcela — sua prima, que em alguns anos se tornaria noiva dele pelas costas de Elisa.
— Que bom que você veio — disse, encarando-o com olhos frios.
Eduardo inclinou-se sutilmente, querendo beijá-la, mas Elisa percebeu a intenção a tempo. Virou o rosto e fingiu não notar. Sem graça, ele disfarçou o constrangimento e tentou mudar de assunto:
— Como você está? Sua prima comentou que você cometeu um erro ontem no trabalho… Disse também que ficou agitada e acabou assustando os acionistas.
Ao ouvir aquilo, Elisa sentiu um desconforto. Lembrou-se com clareza do momento em que tudo saiu do controle. Marcela havia alterado os dados da apresentação sem que ela soubesse, e, pouco antes da reunião, colocou algo em seu café. O efeito foi imediato: confusão, descontrole emocional e a sensação de estar perdendo a sanidade. Elisa sabia disso porque a própria Marcela lhe revelou em uma de suas visitas, rindo com prazer enquanto narrava cada detalhe.
Agora Elisa sabia — tudo fazia parte de um plano bem arquitetado. Queriam manchar sua imagem, minar a confiança dos outros nela, e impedir que assumisse a empresa deixada por sua mãe.
Elisa engoliu seco, mantendo o rosto impassível enquanto por dentro tudo fervia. Eduardo continuava ali, fingindo preocupação, como se não fizesse parte da engrenagem que tentava esmagá-la lentamente.
— Estou melhor agora — disse ela, com a voz firme, quase fria.
Ele assentiu, tentando manter a postura de alguém confiável.
— Fico feliz em ouvir isso. O conselho está… preocupado com você.
Ela sorriu de leve, mas não havia gentileza em sua expressão — era um sorriso calculado, afiado.
— Imagino. A essa altura, devem estar se perguntando se eu sou instável demais para liderar.
Eduardo hesitou por um instante, depois tentou aliviar o clima.
— É normal cometer erros, ainda mais sob pressão. Talvez seja melhor você tirar uns dias, descansar…
A raiva subiu como um veneno quente pelas veias de Elisa. Eduardo estava tentando afastá-la — exatamente como Marcela queria. Mas, em vez de confrontá-lo de imediato, ela manteve um sorriso no rosto.
— Eu sei que você só quer o meu bem e está tentando me proteger — disse, com voz suave —, mas não posso desistir por causa de um erro. Prometo ser mais cuidadosa da próxima vez.
— Eu não estou pedindo que desista — respondeu Eduardo, esforçando-se para manter o tom calmo. — Só acho que você precisa de uma pausa. Está sob muito estresse e pode acabar cometendo um erro mais grave. Sua prima e seu tio estão cuidando da empresa. Por que não volta para suas aulas de teatro? Você ama aquilo.
Elisa continuava sorrindo, mas por dentro sentia nojo. Como não percebi antes a falsidade desse canalha? Se fosse antes, eu teria obedecido sem questionar — e ainda agradeceria pela “preocupação”. Agora, tudo era claro: estavam apenas tentando tirar dela tudo o que lhe pertencia.
Ela fitou Eduardo nos olhos. Ele notou algo diferente naquele olhar.
— Por que você quer tanto que eu me afaste da minha empresa? — perguntou com firmeza.
Eduardo hesitou por um segundo. Esperava que ela seguisse seu conselho sem resistência. A irritação subiu, mas ele disfarçou com um sorriso ensaiado.
— Claro que não, Elisa. Eu só estou preocupado com você.
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Elenita Muniz Coelho Silva
esse é canalha de carteirinha /Drool//Drool//Drool/
2025-08-22
3
Edna anjos
Hummm 🤔🤔🤔 Será que Eduardo é realmente do mau ?
Eu tenho minhas dúvidas 🤔🤔🤔
2025-08-26
0
Solaní Rosa
canalha miserável, escroto
2025-08-26
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