Jace – 13 anos
Já fazia quase um ano desde que Valentina começou a invadir meus finais de semana.
E quando digo “invadir”, não tô exagerando.
Ela surgia toda sexta à tarde com suas tranças, suas mochilas coloridas e aquele jeito de quem achava que mandava na casa.
E eu fazia questão de lembrar que não mandava.
Mas o problema é que ela era rápida com as respostas.
E linda.
E isso complicava tudo.
**
No primeiro mês, roubei os controles da TV só pra ela não assistir o programa preferido.
Ela colou glitter nas palmilhas dos meus tênis de treino.
No segundo, troquei o açúcar do toddy dela por sal.
Ela colocou pasta de dente na minha escova de cabelo.
(Eu nem sabia que dava pra sentir aquela ardência na cabeça.)
No terceiro mês, ela trancou meu quarto por dentro e se escondeu por três horas com a chave só pra ver o caos.
A garota era um caos com laço no cabelo. Decudidade e sem medo algum, da nossa diferença de idade e altura.
**
Nos feriados, quando viajávamos com os nossos pais, as coisas escalavam.
Numa viagem pro Lago Tahoe, ela jogou uma minhoca de mentira dentro do meu prato no café da manhã. Todo mundo riu, até nossos pais.
Menos eu.
Mas me vinguei.
Escondi a boneca preferida dela no porta-malas do carro e fingi por dois dias que a tinha jogado no lago. Nunca vou esquecer o semblante desesperado dela quando falei aquilo.
Ela chorou.
Eu quase me senti mal.
Quase.
No fim, ela me bateu com uma almofada no jantar e todo mundo achou “engraçadinho”. Ela era baixinha e até meio gorducha, tinha uma força grande até demais, para uma menina.
**
Por fora, éramos os enteados-problema.
Por dentro?
Era como se nossas personalidades tentassem se entender na base da guerra.
E por mais que eu fingisse que a odiava…
O jeito como ela franzia a testa quando ficava brava, ou como ela ria das próprias piadas ruins,
ou como me desafiava com o olhar…
Começavam a bagunçar algo em mim.
Mas eu tinha só 13 anos.
E ela, 9.
Então continuei fingindo.
Fingindo que detestava aquela garota que caiu de pára-quedas na minha vida, com o título de meia irmã.
**
— A Val vai passar o Natal com a gente esse ano — ouvi minha mãe dizendo no corredor certa noite.
— Claro, como sempre — respondi, sem emoção.
Ela continuou:
— E no verão do ano que vem, a mãe dela vai levá-la pro Brasil. Parece que vão se mudar de vez. Trabalho novo, mudança grande…
Parei.
Congelado.
Brasil? Valentina indo embora?
Por fora, encolhi os ombros.
— Menos problema pra mim.
Mas por dentro… Por dentro algo estranho se moveu.
E pela primeira vez desde que ela apareceu na minha vida…A casa pareceu grande demais. E silenciosa demais.
Ela estava indo embora, de verdade. Não era para o apartamento onde ela passava a semana com a mãe, era para outro país, seu país de origem, o Brasil.
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Atualizado até capítulo 129
Comments
Anália Cristina
tadinho ja tá sentindo falta do caos rs
2025-09-02
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