Amor em Linha de Comando
O som constante das teclas preenchia o ar, misturado ao leve zumbido do ar-condicionado. A Pannarai Tech estava em seu ritmo habitual — funcionários apressados com pastas nas mãos, telefones tocando, conversas abafadas nos corredores. No meio daquele caos organizado, Niran Anurak estava concentrado diante do notebook, revisando a agenda do dia.
Ele já estava acostumado com a rotina exata e exigente de Krit Chaisawat. Como secretário pessoal do CEO, seu trabalho não era apenas organizar reuniões e lidar com ligações, mas também antecipar necessidades antes mesmo que fossem ditas. Krit não gostava de repetir pedidos.
Niran ajustou os óculos, conferiu a planilha pela terceira vez e respirou fundo. Eram sete e quarenta e cinco da manhã. Às oito em ponto, Krit entraria na sala — e ele nunca se atrasava.
Como se o pensamento fosse um prenúncio, o som característico dos passos ecoou pelo corredor. Passos firmes, controlados, quase silenciosos, mas que Niran aprenderia reconhecer de longe.
A porta se abriu com um clique preciso. Krit Chaisawat surgiu, vestindo um terno preto impecável, gravata perfeitamente alinhada. O rosto era sério, e o olhar — aquele olhar penetrante que parecia atravessar qualquer barreira — pousou por um segundo em Niran antes de seguir para a mesa.
— Bom dia, senhor Chaisawat — disse Niran, com profissionalismo ensaiado, mas a voz carregava um traço involuntário de calor.
— Bom dia. — A resposta veio curta, quase seca. Krit pousou a pasta de couro sobre a mesa e retirou o notebook, sentando-se.
Silêncio. Sempre havia silêncio no início da manhã. Não que Krit fosse mal-educado, mas parecia acreditar que cada palavra precisava de um propósito. Niran, acostumado, não insistia. Limitava-se a passar os relatórios e atualizar a agenda, enquanto se perguntava, como fazia desde a escola, o que se escondia por trás daquela postura fria.
Eles se conheciam desde adolescentes. E naquela época… bem, naquela época, Krit não sorria muito também, mas havia momentos — raros, preciosos — em que Niran conseguia arrancar uma reação genuína. Hoje, esses momentos pareciam enterrados sob camadas de formalidade e distância.
— Reunião com os acionistas às nove. — Niran entregou o primeiro relatório. — Às onze, conferência com o conselho de desenvolvimento. Almoço com o senhor Sutham, da WestCorp, às treze horas.
Krit assentiu, folheando rapidamente os papéis.
— O Sutham confirmou presença?
— Confirmou ontem à noite. — Niran manteve o tom neutro, embora estivesse plenamente consciente de cada microexpressão do chefe.
Krit ergueu o olhar, e por um instante, houve um silêncio diferente. Não o silêncio impessoal de sempre, mas algo carregado de… atenção. Talvez curiosidade.
— Ótimo. — Ele desviou o olhar de volta ao papel, encerrando a conexão visual como quem fecha uma porta.
Niran engoliu seco. Esse era o problema. Com Krit, cada breve momento de aproximação vinha acompanhado de um recuo ainda maior.
A manhã seguiu o padrão: relatórios, telefonemas, e o constante desafio de lidar com a presença magnética e intimidadora do CEO. Niran sabia que Krit era respeitado — e temido — por todos na empresa. Mas, para ele, havia um peso extra: carregar, em silêncio, um amor que começou anos atrás e nunca teve coragem de confessar.
Na hora do almoço, Krit saiu com Sutham, como programado. Niran aproveitou para organizar alguns documentos pendentes e responder e-mails. Quando o relógio marcava uma e quarenta e cinco, o som da porta se abrindo novamente chamou sua atenção.
Krit entrou com a mesma postura impecável, mas algo no olhar indicava que a reunião não havia sido das mais agradáveis. Ele largou a pasta sobre a mesa com mais força que o normal e soltou um suspiro quase imperceptível.
— Problemas? — Niran perguntou antes de se conter. Não costumava fazer perguntas pessoais, mas às vezes a preocupação escapava.
Krit o fitou por um instante, como se avaliasse se valia a pena responder.
— Nada que eu não resolva.
Era o jeito dele de encerrar o assunto. Niran assentiu e voltou a digitar, mas percebeu, pelo canto do olho, que Krit continuou olhando em sua direção por alguns segundos antes de abrir o notebook.
A tarde trouxe uma surpresa. Pouco depois das três, Krit chamou Niran à sua sala particular. Não era incomum, mas a forma como ele disse o nome — firme, mas baixa — fez o coração de Niran acelerar.
— Preciso que me acompanhe amanhã à filial de Bangkok — disse Krit, sem rodeios. — Vai ser uma reunião longa e quero você lá para registrar tudo.
— Claro. — Niran anotou mentalmente o compromisso. — Quer que eu organize hospedagem?
— Sim. — A resposta veio rápida. — E… reserve uma mesa para jantar amanhã à noite.
Niran piscou, ligeiramente confuso.
— Para a equipe?
Krit ergueu uma sobrancelha.
— Só nós dois.
O estômago de Niran deu um salto, mas ele disfarçou.
— Certo. Alguma preferência?
— Silencioso. Privado. — Krit voltou a digitar, como se aquilo não tivesse nenhuma importância. — Pode voltar ao trabalho.
Niran saiu da sala tentando controlar o próprio ritmo cardíaco. Aquilo não era normal. Krit nunca o chamava para jantares fora do trabalho, muito menos em um ambiente “privado”.
O resto do dia foi um exercício de autocontrole. Niran se concentrava nas tarefas, mas a mente insistia em criar hipóteses. Seria apenas trabalho? Ou…
Do lado de dentro, Krit também não estava tão imperturbável quanto aparentava. Desde que voltou a trabalhar com Niran, anos depois da escola, um conflito interno o acompanhava. O desejo de se aproximar lutava contra o medo de perder o controle — e, pior, a crença de que Niran já tinha alguém. Ele não se permitia perguntar, mas as vezes em que via o secretário sorrindo ao celular, seu peito se contraía num misto de raiva e ciúme.
Às seis da tarde, Niran recolheu os últimos documentos da mesa.
— Boa noite, senhor Chaisawat.
Krit levantou o olhar. Por um instante, parecia que diria algo mais.
— Boa noite, Niran. — A voz saiu mais baixa que o normal, quase suave.
Niran deixou o escritório com aquela frase ecoando na mente. Era pouco, mas para ele, era suficiente para alimentar a esperança.
O dia seguinte prometia mais do que uma simples viagem de negócios.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 50
Comments