As colunas do Salão de Mármore sustentavam mais do que o teto cintilante: sustentavam séculos de silêncios, pactos não ditos e o peso de um trono que apenas seria dele em seu em seu próximo aniversário, de acordo com termos propostos pelos anciões. Os ecos da noite anterior ainda pareciam reverberar entre os corredores, embora o céu continuasse o mesmo – eternamente dourado, com um sol que nunca se punha.
Elian acordara cedo, ou pelo menos o que se entendia como cedo num mundo sem crepúsculo. Vestia-se lentamente, com dedos pensativos ao tocar o tecido opulento do robe, tecido em fio de areia prateada. O palácio parecia mais barulhento do que lembrava, e não por celebrações — mas pelos sussurros.
— Vossa Alteza — anunciou um guardião, a cabeça levemente curvada. — Um mensageiro veio dos postos de vigília do leste. Pede audiência urgente.
Elian ergueu o olhar do espelho. Havia algo estranho nos olhos do guardião. Não medo, mas receio — como quem sabia o que as palavras trariam.
— Conduza-o à sala do conselho. Avisem também a... — hesitou, como sempre fazia ao pronunciar o nome de seu rival. — ...ao Capitão D’Varien.
Caelen chegou primeiro. Sempre chegava. Seu uniforme impecável, o cabelo preso em tranças firmes no alto da nuca, as insígnias douradas reluzindo no peito como se fossem forjadas pela própria luz de Tliwni. Ele se pôs de pé ao ver Elian, mas não como súdito — e sim como combatente prestes a avaliar a fragilidade de um oponente.
— Vossa Majestade — murmurou, carregando certa ironia em cada sílaba do título.
— Capitão D’Varien — respondeu Elian, afiado, caminhando até o trono menor da sala de reuniões. Não sentou. Queria estar em pé para ouvir.
O mensageiro tremia. Não era comum mensageiros tremerem em Tliwni. O calor que os envolvia — físico e simbólico — costumava tornar os corações inflamados, orgulhosos, ousados. Mas aquele homem parecia saído da sombra.
— Falam de uma criatura… Ou homem… Não sei bem, meu rei — engasgou-se, corrigindo-se — Vossa Alteza. Um que caminha fora da luz. Dizem que a pele brilha de maneira estranha, mas só no escuro. E que carrega nas mãos uma tocha de trevas.
Caelen pigarreou, descrente.
— Superstição — sentenciou. — Os povos do deserto criam mitos para justificar os ventos ruins. Sempre foi assim.
— Mas ele fala, senhor! — exclamou o mensageiro. — E diz que é descendente da noite. Que o sangue dos Lunari ainda corre entre os véus do mundo e que chegou a hora de reclamarem seu espaço.
O silêncio que se seguiu foi espesso.
Elian deixou o olhar escorregar para a lateral da sala, onde tapeçarias antigas retratavam a criação de Tliwni. Os quatro Krophegar’s — os deuses dos quatro ventos — esculpindo o mundo com sopros divinos. O Oeste trazia a razão, o Leste a fé, o Norte a coragem e o Sul a memória. Mas em nenhum lugar havia uma alusão à noite. O mundo fora feito para brilhar, como um dia eterno em celebração.
— Está dispensado, mensageiro. — Elian finalmente falou. — Mas será bem recompensado pela notícia. E sob juramento de silêncio.
O homem assentiu, aliviado, e foi escoltado para fora.
— E então? — Caelen rompeu a pausa, cruzando os braços. — Vai alimentar essa fábula? Vai mandar soldados cavar o chão em busca de fantasmas?
— Eu não sei o que está lá embaixo, Caelen. Mas sei que a ignorância já destruiu muitos reinos. Não cometerei esse erro.
Caelen ergueu uma sobrancelha com desdém.
— Seu pai jamais permitiria esse tipo de fraqueza. Ele acreditava na luz. Não em relíquias soterradas.
— Meu pai acreditava na ordem — rebateu Elian. — Mas também acreditava em mim. A diferença é que você prefere servir a estrutura da coroa, enquanto eu prefiro honrar o que ela deveria significar.
O clima se tornou denso. Não havia guardas presentes, nem testemunhas. Apenas os dois — dois lados opostos de uma mesma infância, agora em trajes de poder.
— Ainda acredita que é especial só por ser mestiço lunar? — cuspiu Caelen. — Ou acha que a herança dos Lunari te dá direito a inventar um novo mundo?
Caelen revelou, em alto e bom som, o que apenas os mais próximos sabem, sobre a condição especial de Elian. Como apesar de ser Aurora, ainda lhe corre nas veias sangue dos Lunari. Não era tão evidente quando morava em Aurora, mas ao sair para ir a Instituição Alese onde há dias e noites e banhado pela luz noturna foi quando descobriu a influência em sua pele, marcas de estrelas, o outro lado de sua linhagem.
— Eu nunca pedi essa herança. — O tom de Elian abaixou, mas cortava como lâmina. — E você nunca entendeu que não se trata de direito, mas de necessidade. Algo está mudando. Se há mesmo um povo no subterrâneo, ele tem razões. E se quer me criticar, ao menos escute meus ideais primeiro.
Caelen ficou mudo por um instante. Pela primeira vez, seu olhar vacilou. Era visível que não esperava tal firmeza.
Mas o momento foi rompido pela entrada repentina do primo de Elian — o jovem e entusiasmado Thalion, como uma tempestade de risos e perguntas.
— Você viu mesmo um Lunari? Com pele que brilha? E eles comem o quê? E falam nossa língua? — disse sem fôlego. — E o que você vai fazer, Elian? Você vai negociar com eles? Ou vai…
— Príncipe Thalion — interrompeu Caelen, irritado. — Este é um conselho privado.
— Não fale assim com ele — advertiu Elian, com ternura ao olhar o primo. — Thalion é da família.
— Da linhagem, talvez. Mas ainda um garoto.
— Um garoto que escuta melhor do que muitos soldados coroados — respondeu Elian, sorrindo brevemente.
Thalion inflou o peito, orgulhoso, mas o sorriso murchou ao se lembrar das palavras murmuradas pelos corredores.
— Ouvi meu pai conversando com a sacerdotisa ontem — disse baixo. — Disseram que talvez você esteja sendo… corrompido pelas ideias noturnas.
Elian se enrijeceu. A palavra “corrompido” sempre fora usada para descrever aquilo que a sociedade solar não compreendia. A diferença. A dúvida. O medo.
— Não estou corrompido. Estou curioso. E um rei que não questiona… é apenas um fantoche com uma coroa de ouro e cérebro de vidro.
Caelen virou o rosto, visivelmente descontente com a direção das coisas. E Elian sentiu o embate se formar, como um trovão que se aproxima devagar.
Mais tarde, sozinho em seus aposentos, Elian deslizou os dedos sobre um antigo mapa desenhado pelas mãos de sua falecida mãe. Havia rachaduras no pergaminho, e mais ainda naquilo que representava.
A lenda dos Lunari fora contada de muitas formas: como seres de trevas, como traidores, como adoradores de um tempo que deveria permanecer enterrado. Mas Elian não podia ignorar o que sentia.
Sentia como se parte de si também estivesse enterrada. Seria como virar as costas para sua própria mãe, linhagem real Lunari.
Olhou pela janela, para o céu que jamais escurecia.
E se houvesse, mesmo, alguém nas sombras?
E se o equilíbrio não fosse luz total — mas um eclipse que ambos os lados temessem?
Se fosse verdade… Ele teria que escolher.
Ou talvez, pela primeira vez, criar um caminho que não estivesse previsto nem pelas profecias, nem pelas tradições.
O trono, afinal, era seu.
Ou pelo menos… por enquanto.
A luz da aurora ainda não se dispersara por completo quando o conselho real foi convocado para uma reunião de urgência. Os corredores do palácio de Tliwni se encheram de murmúrios tensos — não pelos rumores em si, mas pela velocidade com que se espalhavam. Algo começava a se mover nas profundezas, e as fundações da corte estavam inquietas.
O salão de conselho, ao contrário dos espaços suntuosos do palácio, era quase austero. As paredes de pedra polida refletiam o calor do dia anterior e, no centro, uma mesa circular esculpida em vidro-vulcânico reluzia com tons âmbar. O tio de Elian, Lorde Varkas Noctaris, já estava ali quando Elian chegou, ladeado pela sacerdotisa de mantos cor de areia e Caelen, imóvel à sua direita.
Elian, vestido com túnica de corte largo, em tom violeta profundo — cor que os Lunari costumavam associar à sabedoria —, manteve a postura ereta, mas os olhos atentos. Ainda ressoavam dentro dele as palavras do primo mais cedo naquela manhã:
“Você acha que a história que te contaram é toda a história? Seja lá o que isso for... não estão mais querendo ficar em silêncio, Elian.”
O boato partira dos mensageiros que abasteciam os postos de comércio ao sul, nas bordas das crateras sagradas. Falavam de cantos noturnos vindos do fundo da terra — ecos em uma língua ancestral, carregados de uma fé extinta. Isso, para a maioria dos solarianos, era superstição. Para a sacerdotisa, porém, era provocação.
— Esses rumores são blasfêmia — a voz da mulher, baixa e precisa, cortava como lâmina de obsidiana. — Os Krophegar’s selaram todos os portais que levam aos caminhos da noite eterna há muitas décadas. Nenhuma canção subterrânea pode ser ouvida a menos que um herege tenha cavado para escutá-las.
— E se não forem só canções? — indagou Elian, com frieza calculada. — E se forem chamados de guerra? Ou... preces que os próprios deuses recusaram?
Caelen se mexeu pela primeira vez.
— Duvide da intenção dos Lunari, se quiser, mas não envolva os deuses em desconfiança. Isso, príncipe, é o primeiro passo para o erro.
Elian o olhou de lado, contendo um sorriso amargo.
— Temo que você me entenda tão mal quanto deseja, Caelen. Meu temor não é o povo oculto... É o que os homens aqui farão quando ouvirem seus ecos.
O tio permaneceu em silêncio até então, os dedos tamborilando o vidro-vulcânico com leveza ritual. Varkas Noctaris tinha olhos do mesmo tom do antigo rei, e sua presença era sempre envolta em uma cortina de falsa cortesia. Ele não era apenas o irmão do rei falecido — era também o principal incentivador da ideia de que Elian deveria dividir o poder até aprender a “comandar com maturidade”.
— Sobrinho, está claro que você quer trazer luz a um mundo que preferia dormir nas sombras. Mas veja, o povo se pergunta se não seria melhor esperar. Investigar. — Ele cruzou os dedos com um sorriso brando. — E se for apenas histeria causada pelo calor? As minas têm produzido gases, e os homens veem coisas nas miragens da areia.
— E se não for? — retrucou Elian.
Um silêncio se alongou. A sacerdotisa desviou o olhar para as colunas que sustentavam o teto. Caelen cruzou os braços. E Thalion, o sempre entusiasmado pigarreou, com um sorriso nervoso.
— Pelo menos é mais divertido que as aulas de genealogia. Eu quase morri de tédio ontem. Ah, mas os Lunari cantam? Eles cantam mesmo? Alguém ouviu? Porque seria tão incrível...!
O olhar de Varkas o cortou como punhal.
— Thalion.
O rapaz encolheu os ombros, mas murmurou com doçura:
— É só... curioso, pai. Eles são parte da história também, não são? Mesmo se morassem embaixo da areia, ainda seriam parte.
Elian olhou para o primo com atenção. Por trás da comicidade habitual, havia algo mais: uma inocência que o palácio não conseguira matar. Thalion, com seus olhos arregalados e perguntas impróprias, parecia ainda acreditar que todo mundo podia ser ouvido.
Após o conselho, Elian caminhou sozinho pelos jardins suspensos. As palmeiras finas balançavam levemente, seus troncos dourados se curvando em reverência às brisas quentes. As flores do cacto-do-sol exalavam um cheiro ácido e doce, como tudo em Tliwni — belo e cruel.
Caelen o alcançou com passos firmes.
— Está distraído.
Elian não respondeu de imediato. Limitou-se a encarar as faixas de sombra projetadas pelas treliças douradas. Quando falou, sua voz foi baixa.
— O que você faria se soubesse que há alguém que acredita mais nos deuses do que a sacerdotisa? Alguém que vive abaixo, e reza... mesmo sem resposta?
— Reza por quê? Por vingança?
— Por justiça.
Caelen fez uma pausa.
— Justiça, para um Lunari, é outra palavra para retribuição. Eles não pedem, Elian. Eles exigem.
— Talvez porque nós nunca ouvimos quando eles pediram.
A tensão entre os dois era sempre um jogo silencioso, afiado por anos de disputas no templo, nas academias, nas batalhas simbólicas da corte. Caelen era um devoto — não dos deuses, mas da ideia de ordem. Já Elian era um herege no disfarce de príncipe, alguém que colocava perguntas onde deveria haver mandamentos.
— Você não está pronto. — Caelen disse por fim. — O trono requer estabilidade, e você busca abalar o que sustenta o reino.
— Talvez porque o que sustenta o reino esteja podre por dentro.
A resposta não agradou. Caelen o deixou sozinho.
Naquela noite, Elian revisitou alguns escritos antigos em sua câmara — os manuscritos de sua mãe, as cartas que ela jamais teve permissão de publicar. A princesa de sangue noturno havia previsto esse momento? Ele não sabia. Mas suas palavras deixavam claro: a história contada em Tliwni era apenas uma entre muitas.
Ao reler um trecho sobre o fechamento do “Portal da Noite”, um detalhe o intrigou:
“...selado não para nos proteger deles, mas para que jamais descobríssemos o que nos une.”
“Nos une?” repetiu em pensamento.
Essa dúvida sussurrada crescia, e com ela, a presença velada nas sombras: o Lunari de linhagem pura, aquele que agora conduzia os subterrâneos com uma fé que queimava na escuridão. Ele não havia esquecido. Ele não havia perdoado.
E agora, ele começava a subir.
No alto da torre solar, longe de todos, Thalion Noctaris espiava a movimentação com um pergaminho nas mãos. Ele colecionava histórias, e aquele momento parecia o início da mais importante de todas. Ele não sabia que seu pai tramava derrubar o primo, mas sentia o peso das palavras não ditas. E seu coração, ingênuo e verdadeiro, tremia por Elian.
“Se meu pai fizer algo... Eu conto. Eu aviso. Mesmo que ele me odeie.”
O palácio estava cheio de alianças que sangravam lentamente. E a noite... mesmo ausente, parecia cada vez mais próxima.
...***...
O som agudo de metais em atrito ecoava pelos corredores de mármore do palácio. Um novo treino havia começado nos pátios superiores, e Elian observava de longe, da sacada do salão oeste, os soldados mais jovens ensaiarem com suas lanças sob o sol escaldante. O calor escorria pelos degraus e fazia vibrar o ar, distorcendo o horizonte como se fosse miragem.
Mas não era a miragem que lhe causava inquietação. Era o silêncio das paredes, das criadas, dos conselheiros — e até do seu primo falastrão. Havia cessado a leveza nos últimos dois dias, substituída por cochichos e olhares desviados. Algo rastejava por Tliwni. E Elian sentia em seus ossos.
Ele virou-se quando Thalion surgiu com um pratinho de figos cobertos por açúcar dourado.
— Quer provar, primo? — ofereceu o garoto com um sorriso mais contido do que o usual. — Eles dizem que esses vêm do Oásis Oeste... o gosto é quase indecente.
— Desde quando você fica comedido, Thalion?
— Desde que as cozinheiras começaram a chorar na despensa, e ninguém diz por quê.
Elian pegou um figo e o levou à boca, pensativo. O doce explodiu na língua, mas sua atenção estava longe.
— Você ouviu algo? — perguntou com voz baixa.
— Não de forma direta. Só que algo foi encontrado perto da Torre do Leste. Um... símbolo antigo, disseram. E um deles, os do subterrâneo, foi visto saindo da areia como se o próprio deserto estivesse parindo fantasmas.
Elian paralisou.
A cada dia, os ecos do subsolo pareciam ganhar forma mais nítida. Ele havia sentido isso quando sua pele formigou ao tocar na tapeçaria ancestral, no salão sagrado. Quando seus olhos cruzaram os de Caelen durante a reunião. Quando o vento, seco como sempre, trouxe um cheiro estranho, algo como carvão molhado.
— Meu pai teria investigado ele mesmo — disse Elian. — Ou talvez enviado um grupo de sacerdotes para verificar a presença de fé antiga. Mas agora… tudo que se move no escuro parece apenas superstição.
— Nem tudo — comentou Thalion, baixando o tom. — O pai disse ontem ao sacerdote da muralha que o palácio deve agir antes que os “respingos da noite” subam à superfície como doença.
Elian cerrou o maxilar. “Respingos da noite”? Aquela linguagem era velha, impregnada de desprezo.
— Seu pai não acredita que eles existam, não é?
— Meu pai acredita no que o assusta, Elian. E isso muda de acordo com a ameaça ao trono.
O príncipe encarou o primo com surpresa. O olhar de Thalion desviou e pousou sobre o horizonte.
— Ele fala como se os subterrâneos fossem apenas lendas. Mas... eu acho que você sabe melhor. A tapeçaria. Os livros escondidos. A cor que você nega nos seus olhos quando está em público. — O primo tocou o ombro de Elian suavemente. — Eu não sou cego.
Mais tarde, no jardim interno de pedras vermelhas, Caelen surgiu com a postura afiada como sempre, a armadura leve refletindo a luz do sol eterno.
— Príncipe — disse ele com uma leve inclinação de cabeça. — Ou devo chamá-lo de arauto da fantasia agora?
Elian soltou um suspiro entediado.
— Se tem algo a dizer, diga sem metáforas, Caelen. Já bastam as lendas tentando me encontrar à noite.
Caelen se aproximou até que apenas um fôlego os separava. Havia algo ameaçador em sua tranquilidade, como o som de um tambor distante antes da guerra.
— Você tem espalhado ideias. Sobre equilíbrio. Sobre rever doutrinas. Isso não é apenas tolice, é perigoso.
— Você está dizendo que meu povo não merece o direito de existir fora das sombras?
— Estou dizendo que não se pode brincar com o que não se entende. — Caelen virou o rosto por um instante. — E você, Elian, não entende o que invoca. Os Krophegar’s não respondem há gerações por um motivo. Talvez porque já disseram tudo.
— Ou talvez… — disse Elian, firme, — porque ninguém ousou perguntar diferente.
Houve silêncio entre eles, e então Caelen recuou um passo.
— Sua coragem é infantil. Seu coração é... impuro. Você não quer justiça, quer glória.
— E você quer o quê, Caelen? — rebateu Elian. — Obediência cega até que o mundo imploda sobre os pés da tradição?
Caelen franziu o cenho, mas não respondeu. Em vez disso, olhou para o céu ininterrupto.
— Há rumores... de marcas encontradas sob a muralha do sul. Símbolos lunares. Suas digitais?
Elian permaneceu em silêncio.
— Um de nós dois cairá, Elian. E não será pela espada. Será por fé.
...***...
Na ala subterrânea do templo, a sacerdotisa dos Quatro Caminhos derramava óleo sobre as velas de sal negro. Sua expressão era fechada, o olhar rígido enquanto entoava uma prece ao Krophegar do Norte, o protetor do silêncio e da permanência.
— Eles ousam tocar em terras seladas — murmurou. — Usar palavras de eras esquecidas. O deserto gritará de volta.
Ao seu lado, uma escriba anotava em rolos de pele fina. O nome de Elian aparecia mais vezes do que deveria.
— Ele precisa ser corrigido — sussurrou a sacerdotisa.
Na câmara mais profunda, entre os pilares, um leve tremor passou sob o chão. Como se algo — ou alguém — respirasse no subsolo.
...***...
Nessa mesma noite, Thalion corria pelo corredor com uma tocha na mão e os olhos arregalados.
— Elian! — arfou ao encontrar o primo nos aposentos. — Eles... eles capturaram um homem. Um homem com olhos pretos como o vazio. Um dos que emergiram da terra. Ele está amarrado na torre.
Elian gelou. “Eles” — quem? Os soldados? Seu tio?
Thalion continuou:
— Ele disse seu nome, Elian. Disse que você é a chave. E que as estrelas já se moveram.
O príncipe levantou-se, a respiração presa. No fundo, ele sempre soube: os sussurros não eram meras coincidências.
O subterrâneo havia despertado.
E o sangue Lunari correndo em suas veias... responderia.
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Atualizado até capítulo 51
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