Revelação

Madeline Clarke

Chovia quando eu cheguei em casa.

As gotas tamborilavam no capô do carro como se quisessem me alertar de alguma coisa. Suspirei, encostando a testa no volante por um segundo. Era só mais um dia. Mais um dia invisível. Mais um dia tentando fingir que estava tudo bem quando não estava.

Desliguei o carro, abracei a bolsa contra o peito e caminhei até a porta da frente. O moletom largo que eu usava grudava na pele molhada. Me sentia um trapo e de certa forma, talvez fosse mesmo.

Assim que entrei, senti o cheiro familiar do café que ele costumava fazer à noite. Estranhei. Ele nunca mais fazia essas coisas.

Nathan -Chegou. — A voz dele soou fria, sem emoção, como se estivesse narrando a previsão do tempo.

Nathan estava sentado no sofá, o celular na mão, o rosto iluminado pela tela. Olhei para ele com o mesmo desconforto de sempre aquela estranheza silenciosa que se instalara entre nós há meses. Tirei os sapatos na entrada, larguei a bolsa sobre a cadeira e fui direto para o quarto, tentando evitar qualquer contato desnecessário.

Mas meu olhar cruzou com o dele por um segundo.

Rápido demais para dizer algo. Lento demais para ignorar.

Peguei uma toalha para secar os cabelos quando ouvi o som de uma notificação. O celular dele vibrou, e um estalo estranho me fez olhar por reflexo.

Uma imagem apareceu na tela, antes que ele pudesse bloqueá-la.

Uma mulher. Só de lingerie. Posando para ele.

Meu coração parou por um instante.

Voltei alguns passos, fixando os olhos nele. O silêncio ficou denso, pesado, como fumaça de um incêndio que eu nunca soube que existia.

maddie-Quem é ela? — perguntei com a voz embargada, tentando soar firme, mas falhando miseravelmente.

Nathan bufou, jogando o celular no sofá.

Nathan - Madeline, por favor… — começou, passando a mão pelo rosto.

Nathan - Você sabe que isso já acabou faz tempo.

Maddie-O que acabou? — minha voz saiu mais alta agora. — Nosso casamento?

Ele não respondeu. Só me encarou com aquela expressão cínica, cansada, como se eu estivesse incomodando com minhas perguntas.

Maddie- Você me traiu? — insisti, o nó na garganta ameaçando me sufocar.

Nathan - Não vou mentir. Sim. — disse, seco. Cru.

Foi como levar um tapa.

Maddie- Quando? — minha voz era apenas um sussurro.

Ele se levantou, caminhando até mim com as mãos nos bolsos.

Nathan - Uns dois meses atrás. Foi… inevitável. A gente vive como dois estranhos há quanto tempo, Madeline? Você sempre tão apagada, tão… sem vida. Eu precisava me sentir vivo.

A palavra apagada me queimou mais do que a traição.

Maddie- Então é isso? Eu sou culpada porque não sou barulhenta o suficiente? Sexy o suficiente? Interessante o suficiente?

Ele não respondeu. E o silêncio dele foi a pior resposta que eu poderia receber.

Senti as lágrimas arderem nos olhos, mas me recusei a deixá-las cair na frente dele. Não merecia.

Maddie- Você deveria ter dito antes. Me poupado disso. — sussurrei.

Nathan - Eu achei que você já soubesse. — ele deu de ombros, como se fosse uma constatação banal.

Peguei a toalha e a joguei no chão. O moletom pesado, encharcado pela chuva e pela dor, me pesava como se carregasse anos de rejeição.

Maddie- Eu não sou estúpida. Mas fui covarde demais para admitir que você já não me via. Que já não me queria.

Ele abriu a boca para dizer algo, mas eu ergui a mão, impedindo.

Maddie- Não precisa se explicar. Você fez o que quis. E agora… eu vou fazer o mesmo.

Saí do quarto sem olhar para trás. Pela primeira vez em anos, meus passos não hesitaram. Pela primeira vez, eu queria que ele me visse indo embora.

Mas ele continuou ali. Sentado. Como se perder a própria esposa fosse tão irrelevante quanto apagar uma notificação da tela.

Naquela noite, no fundo do poço…

Algo em mim começou a mudar.

Ele não respondeu. Só me encarou com aquela expressão cínica, cansada, como se eu estivesse incomodando com minhas perguntas.

Eu subi para o quarto. Não queria mais ouvir nada.Não queria ver o rosto de um homem que agora eu não reconhecia mais.

Tomei um banho rápido. Vesti outra blusa de moletom, uma calça de algodão. Sentei na beira da cama, sem saber exatamente o que pensar.

Por nove anos, fui esposa dele. Não perfeita, não ousada, não a mulher dos sonhos de ninguém. Mas fui leal. Presente. Caseira. Submissa, até. E o que eu ganhei em troca?

A traição.

O desprezo.

O silêncio que gritava todos os dias na sala de jantar.

Desci alguns minutos depois para pegar meu celular que havia deixado no sofá. Foi então que ouvi a voz.

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Comments

Fátima Lima

Fátima Lima

esse Nathan é um 🤬🤬🤬

2025-08-06

0

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