“O poder não corrompe. Ele revela.”
O som do gelo batendo no fundo do copo de cristal quebrou o silêncio da cobertura luxuosa.
Dante Ferraz girava lentamente o líquido âmbar, observando a cidade através das janelas de vidro que iam do chão ao teto. A vista era perfeita. Inatingível.
Como ele.
O relógio marcava 22h14.
Ele ainda estava de terno. A gravata solta, o colarinho desabotoado, os olhos sombrios.
— Senhor Ferraz, a senhorita Letícia ligou novamente. — informou a voz robótica do sistema de automação residencial.
Ele não respondeu.
Nem precisava.
Letícia, como as outras antes dela, entenderia o recado.
Ninguém permanecia na vida dele por muito tempo.
Ninguém exigia nada.
Ninguém ousava querer mais do que ele oferecia.
Dante Ferraz não era homem de concessões.
E muito menos de sentimentos.
Caminhou lentamente até a varanda. O vento noturno bagunçava seus cabelos escuros, mas ele não se importava.
Havia algo na solidão que o acalmava.
Talvez porque a conhecesse desde cedo.
Ou talvez porque soubesse que ela era o único lugar onde ainda tinha controle.
Fechou os olhos por um momento, e como uma maldição, ela apareceu.
A mãe.
Linda. Gentil. Suave como porcelana...
E tão fácil de quebrar quanto uma.
Dante cresceu em meio ao luxo — mas nunca foi uma infância rica. Foi um cárcere com paredes douradas.
O pai, Rafael Ferraz, era um homem brutal, frio, calculista. O tipo de homem que usava as pessoas como degraus. E a mulher que ele deveria proteger foi a que mais sofreu nas mãos dele.
Dante, ainda menino, aprendeu que amor era uma fraqueza.
Que afeto era moeda de troca.
Que confiança levava ao sofrimento.
Ele viu sua mãe definhar por trás de sorrisos falsos.
Viu os olhos dela perderem o brilho cada vez que o pai chegava.
E viu, cedo demais, que ninguém viria salvá-los.
Por isso ele se salvou sozinho.
Na adolescência, se tornou frio. Brilhante. Implacável.
Na juventude, começou a planejar a queda do pai.
E aos 26 anos, conseguiu.
O escândalo que destruiu o império de Rafael Ferraz foi arquitetado com precisão. Dante assumiu o controle antes que os abutres do mercado devorassem tudo.
Demitiu, reorganizou, intimidou.
Fez o império renascer com um novo nome e uma nova face.
Mas dentro… continuava o mesmo.
Vazio.
Voltou para dentro do apartamento e acendeu um cigarro. Não era um hábito — era uma válvula de escape que raramente se permitia.
Na tela do celular, a notificação de RH piscava:
"Contratação confirmada: Lívia Andrade. Início: Segunda-feira, 6h30."
Lívia.
Ele pronunciou o nome em voz baixa.
Sozinho.
Saboreando a estranheza daquilo.
Ela não era extraordinária. Não vestia roupas caras. Não usava salto vermelho nem maquiagem pesada.
Mas havia algo nela que o desafiava de forma silenciosa.
Uma doçura ferida. Uma calma teimosa.
Olhos que não sabiam mentir.
E aquilo o incomodava.
— O que você esconde, Lívia Andrade?
Ele sabia reconhecer o medo.
Sentira o dela no momento em que ela entrou em sua sala.
Mas ela não recuou.
Mesmo nervosa, se manteve firme. E respondeu com a frase mais sincera que ele ouvira em meses:
"Tentando sobreviver."
Sobreviventes...
Esses ele respeitava. Até certo ponto.
Mas também gostava de testá-los.
De descobrir o quanto estavam dispostos a perder por uma chance de vencer.
E Lívia, ele sentia, tinha muito a perder.
Ou talvez já tivesse perdido demais.
Apagou o cigarro e bebeu o resto do uísque. A pedra de gelo tilintou, derretendo lentamente.
Exatamente como ele fazia com quem o cercava.
Voltou para o escritório, tirou o paletó, e se sentou diante do computador.
Contratos. Fusões. Ações.
Mas por algum motivo, os olhos voltavam sempre ao nome dela.
Como se aquele nome carregasse algo além de uma contratação.
Como se fosse um aviso.
Ou uma promessa.
Ele digitou uma mensagem curta para o seu motorista:
> Segunda-feira. Pegue-a em casa. Exatamente 6h30. Nenhum minuto a mais.
Sem erros.
Dante sabia que não era um homem fácil.
Mas também sabia que algumas pessoas não servem para relações simples.
E Lívia não era uma dessas.
Ela não tinha ideia no que estava se metendo.
Ainda.
Mas ele mostraria.
Aos poucos.
Com paciência.
E controle.
Porque Dante Ferraz não apenas possuía as coisas.
Ele as moldava.
Não esqueçam de curtir e comentar ,beijinhos a garota do livro 😻
@ysa_silvaaa_
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Atualizado até capítulo 81
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