Capitulo 4

Arthur abriu os olhos lentamente, despertado pelo som distante de pássaros. O sol ainda nascente iluminava a cabana com luz dourada, e ele sentia o corpo de Mariana aconchegado ao seu lado, respirando suavemente em um sono tranquilo. Por alguns minutos, ele encontra imóvel, observando-a.

Ela parecia tão serena, tão confiante no amor que compartilhavam. Arthur passou os dedos pelo cabelo dela, afastando uma mecha que caia sobre seu rosto. Um sorriso pequeno e melancólico se formou em seus lábios. Ele sabia que Mariana merecia aquele momento de felicidade, mas uma parte de si se sentia esmagada pela culpa que vinha crescendo dentro dele.

Deslizou para fora da cama com cuidado, tentando não a acordar, e vestiu uma camisa antes de sair para a varanda. O ar fresco da serra o atingiu, clareando sua mente, mas não afastando os pensamentos que o atormentavam. Ele encostou-se à grade, olhando para a paisagem montanhosa que se estendia diante dele, mas sua mente estava em outro lugar.

"Como eu cheguei a esse ponto?" pensou, apertando o corrimão com força. Por mais que quisesse acreditar que a noite anterior era um novo começo, sabia que estava vivendo em uma mentira. A traição com Ana o perseguia como uma sombra, e, embora saiba que deveria contar a verdade, temia as consequências.

************* Flashback***************

Arthur lembrava nitidamente da noite em que tudo começaria a desmoronar. Ele e Ana participaram de um evento profissional, algo que Mariana não conseguiu comparecer por causa de uma cirurgia de emergência no hospital. Era uma recepção elegante, repleta de colegas e parceiros de negócios, mas Arthur se sentia deslocado sem Mariana ao seu lado.

Ana apareceu com seu carisma habitual, vestida de maneira impecável e com uma taça de vinho na mão. Ela sempre foi encantadora, uma presença que atraía olhares, mas, até então, Arthur a via apenas como uma amiga próxima de Mariana.

— Arthur, sozinho em uma noite como essa? Que tragédia — brincou ela, aproximando-se.

— Mariana teve que trabalhar. Faz parte — respondeu ele, com um sorriso resignado.

Ana inclinou a cabeça, observando-o com curiosidade.

— Você parece... exausto. Problemas no trabalho?

Arthur suspirou, balançando a cabeça.

— Não é o trabalho. É só... às vezes sinto que eu e Mariana estamos em universos diferentes. Ela está sempre tão ocupada, tão focada. E eu... bom, eu nem sei onde me encaixo nisso tudo.

Ana colocou uma mão suave no braço dele.

— Não diga isso. Vocês dois são incríveis juntos. Mas entendo o que quer dizer. Às vezes, é difícil não se sentir deixado de lado.

Uma conversa contínua, fluindo entre queixas e confissões. O vinho parecia tornar as palavras mais simples, e Ana sabia exatamente o que dizer para preencher as lacunas no ego ferido de Arthur.

Mais tarde, já com o evento terminando, Ana sugeriu que seria para outro lugar.

— Não estou pronta para ir para casa ainda. Que tal uma última taça de vinho? — ela disse, sorrindo.

Arthur hesitou, mas acabou concordando. Eles foram um bar discreto, onde as conversas se tornaram ainda mais pessoais. Ana falou de suas frustrações, seus sonhos, e Arthur sentiu uma conexão inesperada, como se ela o entendesse de uma forma que Mariana, ultimamente, parecia não fazer.

Quando Ana se inclinou para mais perto, colocando uma mão sobre a dele, Arthur não se afastou. Seus olhos se encontraram, e naquele momento, tudo pareceu se dissipar — as responsabilidades, os compromissos, até mesmo o amor que ele tinha por Mariana.

— Você merece ser visto, Arthur — sussurrou Ana, antes de beijá-lo.

O beijo foi o ponto de não retorno. Um impulso, uma fraqueza, uma escolha que Arthur sabia, no fundo, que não deveria ter feito. Mas ele não parou. A noite terminou no apartamento de Ana, e, enquanto o silêncio da madrugada os envolvia, a culpa já começava a se formar no peito de Arthur.

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