Nada Me Tira do Seu Lado

Nada Me Tira do Seu Lado

Presente Inesquecível"

...Emily Bennett...

Eu sou péssima com silêncio.

E antes que você pense que isso é uma metáfora, deixa eu explicar: eu sou realmente péssima com silêncio. Me dá uma aflição no peito, parece que o mundo inteiro tá prendendo a respiração, esperando alguma coisa dar errado. Então, talvez por isso, eu esteja sempre falando, sempre rindo, sempre... enchendo o ar com algo.

E hoje, eu precisava disso mais do que nunca.

O cenário ao meu redor estava lindo, como sempre. O fundo rosa-claro com luzes penduradas, o sofá de veludo branco com almofadas em forma de coração, a mesinha com cupcakes de morango que eu mesma decorei. A equipe da transmissão ajustava a câmera, o microfone estava funcionando, e os fãs — ah, meus preciosos fãs — já estavam enchendo o chat da live com coraçõezinhos, emojis de raposa (não sei por que isso virou meme) e mensagens de amor.

— Oi, meus amores! — sorri, me ajeitando na cadeira com o maior brilho nos olhos que eu conseguia fingir. — Hoje é um dia especial! Porque... eu vou abrir os presentes que vocês me mandaram! 💕 Eu tô tão animadaaaa!

O chat explodiu. Me chamaram de princesa, fada, rainha da música pop, tudo junto. E olha, eu devia me sentir especial, né? Atriz premiada, cantora com turnê marcada, modelo da nova campanha da Dior. Mas, mesmo cercada de sucesso, fama e luzes, a verdade era...

Eu tava sozinha.

Sempre estive.

Fama nunca substituiu carinho de verdade. E meu pai... bem, ele é outra história. Um nome poderoso, daqueles que faz qualquer sala ficar em silêncio. Dono de metade das empresas de segurança privada e vigilância do país. Um homem que colecionava poder como quem coleciona relógios de luxo. Mas eu não queria viver à sombra dele. Não queria olhares que me respeitavam por quem ele era — eu queria ser amada por ser eu.

E por isso eu estava ali, com um sorriso enorme, abrindo caixinhas coloridas de fãs que acham que eu sou perfeita.

— Esse é do... @cutedragon98! Ai, a embalagem tá LINDA! — rasguei o papel roxo com coraçõezinhos. Era um chaveiro em forma de estrela. Fofíssimo. — Aaaawn, obrigadaaa!

Abri outro. E outro. Pelúcias, bijuterias feitas à mão, cartas cheias de palavras doces. O coração foi amolecendo. Eu me sentia... menos sozinha.

Até que veio ela.

A caixa era preta, com fitas vermelhas mal amarradas. Nenhuma etiqueta, nenhum nome. Só meu endereço artístico escrito à mão com letras tremidas, em caneta esferográfica vermelha.

O chat parou. Juro por Deus. Por um segundo, as mensagens diminuíram. E eu senti aquele arrepio na nuca.

— Olha... temos um presente misterioso, gente! — tentei rir. — Será que é chocolate? Um urso gigante? Um bilhete de casamento?

A voz falhou no final.

Eu abri.

Lá dentro... uma boneca. Mas não uma boneca comum. Era uma boneca vudu, com trapos sujos, costuras tortas, e meu rosto desenhado nela com marcador preto. O cabelo? Imitava o meu. Os olhos? Eram violetas como os meus. E na barriga da boneca, um alfinete enfiado até o fundo.

E o pior: estava molhada.

Na hora, pensei: "é tinta, tinta falsa... sangue falso, deve ser parte de alguma brincadeira dark de Halloween fora de época..." Mas o cheiro... aquele cheiro metálico, adocicado...

— Isso... é sangue? — sussurrei sem pensar, esquecendo que estava ao vivo.

A live foi cortada segundos depois, a tela ficou preta. Um dos técnicos correu até mim com uma toalha, outros gritavam no fone de ouvido. Eu fiquei paralisada, segurando aquela boneca como se fosse um aviso de morte.

Foi quando meu celular vibrou.

Um número desconhecido.

Atendi, quase por reflexo.

— Emily Bennett — disse uma voz grave, séria, autoritária. — Aqui é da Força de Proteção Avançada. A senhorita precisa de proteção imediata. Um agente já está a caminho.

— Mas... eu não pedi nada... — gaguejei, ainda com a boneca no colo.

— Sua família pediu. E ele já está chegando.

— Ele?

— Não exatamente um "ele". Ela. Nome: Seo Yuna. Unidade Especial Classe-A. Raposa Branca.

A ligação caiu.

E foi ali, cercada de presentes, câmeras desligadas, e uma boneca vudu manchada com um líquido que parecia sangue... que minha vida perfeita desabou.

E pela primeira vez em muito tempo...

O silêncio não me incomodou.

 

Eu juro que não dormi nem cinco minutos naquela noite.

Toda vez que eu fechava os olhos, via a boneca. Sentia o cheiro metálico. O sangue — ou o que quer que fosse aquilo — parecia grudar nos meus dedos, na minha pele, como uma memória que se recusa a ser esquecida.

Mas o que mais me deixava inquieta... era o nome que ouvi na ligação.

Seo Yuna.

Nunca tinha ouvido. Mas o jeito que o homem falou... o peso daquele nome ficou na minha cabeça como uma batida constante.

Quando o sol nasceu, eu já estava pronta. Roupas simples, cabelo preso, óculos escuros grandes demais pro meu rosto. O motorista me reconheceu, claro, mas não falou nada. Não precisava. Era óbvio que eu estava irritada.

Vinte minutos depois, entrei pela porta principal da mansão Bennett. Tudo ainda do mesmo jeito de sempre: mármore branco, vasos de flores caríssimos, e aquele silêncio sufocante que preenchia os espaços entre uma reunião e outra.

— Onde ele tá? — perguntei à governanta, que só apontou para o escritório.

Empurrei a porta sem bater. Ele estava lá dentro. De pé. Alto. Imponente. Terno escuro, mãos atrás das costas. O homem que metade do país chamava de gênio, e eu chamava de pai.

— Emily. — a voz dele soou como sempre: calculada, firme. — Que bom que veio cedo.

— Que bom nada. — tirei os óculos. — A gente precisa conversar. Agora.

Ele não respondeu. Apenas andou até a janela, observando o jardim como se eu fosse só mais uma reunião.

— Eu não preciso disso — continuei. — Eu não preciso de segurança. Não preciso de ninguém me seguindo por aí como um cão de guarda com farda.

Ele me olhou por cima do ombro. Sem emoção.

— Não é uma opção.

— Claro que é! — insisti. — Eu sou capaz de me proteger! Eu sou atriz, modelo, cantora... eu tenho minha equipe, meus amigos! Eu tô bem!

Ele se virou totalmente.

— Então por que você tá tremendo agora?

Minha respiração falhou. Ele viu. Eu... não consegui esconder. A lembrança da boneca, o medo de estar sendo observada... tudo ainda tava dentro de mim.

Foi aí que a voz apareceu. De novo.

Mas não era a dele.

Era a minha. Ou melhor... uma parte de mim.

A parte que eu sempre tentei ignorar.

"Você precisa disso."

"Você precisa de proteção. Se fosse tão forte quanto finge ser, não estaria assim agora."

Engoli seco. Meus punhos se fecharam.

— Você quer poder escolher outra pessoa como guarda-costas? — perguntou meu pai, a voz mais branda, como se me oferecesse uma saída. — Pode escolher alguém da sua idade. Alguém mais... discreto.

— Eu não quero ninguém. — rebati. — Mas se for pra ser alguém... então que seja a que você escolheu.

Ele arqueou a sobrancelha, um leve sorriso no canto dos lábios.

— Seo Yuna.

Aquele nome, de novo. Soou forte na boca dele. Quase respeitoso. Como se ela fosse uma lenda.

— Quem é ela, afinal? — perguntei. — Um codinome bonito? Uma guarda-costas de elite? Alguma lenda urbana do seu mundo secreto de seguranças?

Ele andou até a mesa e me entregou um tablet. Nele, havia uma única imagem.

E, meu Deus.

Eu vi.

Cabelos curtos e brancos como neve, com algumas mechas vermelhas brilhando sob a luz do sol. Olhos vermelhos como vinho, mas com um brilho misterioso. Pele clara, sorriso calmo. E ali, bem no topo da cabeça, como se desafiasse tudo que eu conhecia da lógica: uma olheira branca de raposa. Real. Natural.

Ela era linda. Mas não de um jeito comum. Era como se o mundo ficasse em silêncio ao redor dela. Como se todos tivessem que parar pra olhar.

— Isso é um filtro? — perguntei, surpresa. — Ela... ela é real?

— Ela é a melhor da sua área. — disse meu pai. — Especialista em combate, rastreio, infiltração e neutralização. Guarda-costas pessoal do mais alto nível. Nunca falhou em uma missão.

— Ela é... uma raposa? Tipo, de verdade?

— Nascida com as características de uma raposa branca rara. Raridade quase extinta. Mais ágil que qualquer humano, mais rápida que qualquer animal. E é a chefe da minha empresa oficial de proteção pessoal.

— Espera. Você tá dizendo que essa... essa mulher linda que parece saída de um anime é chefe da sua empresa?

— Exatamente. — ele se aproximou, sério. — Amanhã, nove da manhã, ela estará aqui. Você vai assinar os papéis. Nada mais. Sem dramas. Sem discussões.

— E se eu me recusar?

Ele sorriu de leve.

— Ela vai te proteger mesmo assim.

Saí da sala com o coração acelerado.

Seo Yuna.

A mulher que meu pai escolheu. A raposa branca. Minha... futura guarda-costas pessoal.

E por alguma razão que eu não queria admitir...

Meu peito não parecia mais tão pesado.

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