Capítulo 12 — Orgulho e Abismo
A porta se fechou com um estrondo seco, abafado pela madeira pesada e pelo silêncio absoluto da sala da CEO.
Clara estava sozinha. Em pé, imóvel. O blazer ainda sobre os ombros, mas os ombros... tão rígidos quanto uma parede de concreto.
A imagem de Lívia falando por ela na reunião não saía da cabeça. A forma como ela caminhou à frente, respondeu com clareza, segurança — como se soubesse exatamente o que dizer no tom exato.
Ela me salvou.
Essa era a verdade. Clara sabia. Não havia como negar. Aquela pausa dela não teria passado despercebida. Os investidores teriam notado. Talvez o contrato tivesse sido adiado — ou perdido.
Mas havia algo dentro dela, mais forte que a razão, mais antigo que a lógica: o orgulho.
Sentou-se na cadeira de couro e olhou para a mesa vazia à sua frente, como se esperasse encontrar ali a resposta para o incômodo que queimava no fundo do peito.
Ela me expôs?
Ela foi ousada?
Ou só me protegeu como ninguém jamais teve coragem?
A cabeça dizia que Lívia a confrontou.
O coração — aquele que ela mal deixava respirar — dizia outra coisa.
E, como sempre fazia quando estava dividida, Clara escolheu calar.
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Fim de Tarde Tenso
O restante do dia se arrastou como um fio de tensão esticado ao máximo.
Clara manteve-se seca, fria, excessivamente profissional. Mandava e-mails curtos, dava ordens diretas, evitava qualquer troca de olhares com Lívia.
Nem um “bom trabalho”, nem um “obrigada”.
Lívia sentiu. Cada silêncio. Cada olhar desviado. Cada resposta curta.
Ela, que no início da manhã quase se sentia parte de algo — quase uma aliada daquela mulher inacessível — agora sentia um abismo se abrir entre elas.
Na mesa ao lado da sala da chefe, continuava digitando relatórios, respondendo e-mails, entregando tudo no prazo. Mas agora, seu coração batia mais pesado, a mente rondada por um medo insistente.
Será que ela vai me demitir amanhã?
Lívia tentava não demonstrar nada. Mantinha o rosto sereno, o tom de voz equilibrado. Mas por dentro, uma avalanche de incertezas.
Nem o mais frio dos colegas ousava comentar com ela o que tinha acontecido. Uns olhavam com respeito, outros com pena. Todos em silêncio.
Clara, por sua vez, se manteve dentro da própria fortaleza.
Ao ver Lívia passar com uma pasta, sentiu o estômago revirar por algo que não conseguia nomear. Era culpa? Gratidão? Medo de perder o controle?
Talvez tudo junto.
Mas não deixou transparecer.
— Deixe os relatórios prontos até às 8h de amanhã — disse, sem encarar a secretária.
— Sim, senhora — respondeu Lívia, contida.
Um "senhora" que doeu mais do que qualquer provocação. Antes, ela a chamava só de “chefe”. Agora havia distância até na escolha da palavra.
Quando o relógio marcou 18h20, Clara ouviu a porta da sala se fechar devagar.
Lívia tinha ido embora.
Sem dizer boa noite.
Sem sorrir.
Sem provocar.
Sem ser ela.
Clara ficou sozinha mais uma vez. Mas diferente da noite anterior, quando adormeceu com um sorriso... naquela noite, sabia que iria deitar com um incômodo no peito que nem ela saberia explicar.
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Atualizado até capítulo 46
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